A liberdade de Lula no “sim” de Haddad

Segundo o jornalista Ricardo Cappelli, Fernando Haddad afirmou recentemente que o plano B do PT é apoiar uma candidatura de outro partido. Uma candidatura própria com outro nome da legenda seria o plano C. “Apesar da negativa pública, a presença de Haddad foi um imenso “sim””, escreve.

A liberdade de Lula no “sim” de Haddad

Por Ricardo Cappelli*

Não havia outra saída para o ex-prefeito Fernando Haddad que não fosse negar a possibilidade de construção de uma chapa com Ciro Gomes. O diretório nacional do PT acabou de aprovar uma resolução reafirmando que o partido marchará com Lula até o fim.

O partido dos trabalhadores se preocupa com a sinalização que poderia ter a especulação em torno de uma alternativa a Lula neste momento. Não quer deixar transparecer a ideia de abandono do ex-presidente. Atua para fortalecer a resistência à prisão absurda e deposita algumas fichas num improvável milagre que viabilize sua candidatura.

O segredo da política está na interpretação de gestos, dos movimentos ocultos e das jogadas futuras.

Economia

Haddad afirmou recentemente que o plano B do PT é apoiar uma candidatura de outro partido. Uma candidatura própria com outro nome da legenda seria o plano C. O fato é que não existe no partido um substituto natural do ex-presidente.

O ex-prefeito não possui força na máquina partidária. Nasceu por fora da estrutura, como poste de Lula, e assim continua até hoje. Inteligente, não é razoável imaginar que faria um movimento de aproximação com Ciro desconectado do que pensa Luis Inácio.

O encontro entre Ciro, Haddad, Bresser Pereira e Delfim Neto é muito bem vindo. Assim como as presenças de Manuela e Boulos nos atos de São Bernardo, contribui com o esforço de construção da unidade de um campo de centro esquerda.

Apesar da negativa pública, a presença de Haddad foi um imenso “sim”.

As pesquisas divulgadas recentemente dão pistas do que deve ser feito. Nas projeções de segundo turno, Bolsonaro ganha fácil das alternativas petistas, Wagner e o próprio Haddad. E empata com Ciro.

Junho de 2013 e as eleições de 2014 empurraram a esquerda brasileira para 20% do eleitorado. “Voltamos para São Bernardo”. Valentes, aguerridos, mas temos que reconhecer: “nós com nós mesmos”. Lula é o único da esquerda tradicional que consegue ir além. Não está preso por acaso. Precisamos ampliar, por menor que seja esta ampliação.

A fragmentação da esquerda é o caminho mais curto para uma derrota acachapante. O PT sozinho pode chegar ao segundo turno com um nome alternativo? Não será fácil, mas é possível. Chegando, todas as pesquisas indicam que a chance de vitória de um petista são mínimas.

Lula precisa ganhar as eleições. Sua liberdade está diretamente ligada à possibilidade de uma virada na conjuntura. Marcar posição pode servir para eleger alguns parlamentares, mas será péssimo para o ex-presidente.

Que outros encontros como este ocorram, envolvendo não só Ciro e Haddad mas incorporando também os demais candidatos progressistas e personalidades da sociedade civil e do campo nacional desenvolvimentista.

Unidade, unidade e unidade. Este é o verdadeiro caminho para Liberdade de Lula.

*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.