Para Shirley Muriel, moradora da Rocinha e membro do Coletivo de Favelas, que participa da construção da comissão, esse é um espaço muito importante para que os mais pobres consigam sobreviver e resistir à intervenção militar no dia a dia.
“Antes a gente conseguia denunciar nos ministérios e na Defensoria Pública, mas a gente não tinha uma organização com pessoas de outras favelas. Então, a comissão vem com o propósito de unir forças de várias organizações para trabalhar pela segurança do povo”, explica.
Uma das maiores preocupações de Shirley com a intervenção é o aumento da perseguição e restrição de liberdades aos moradores das favelas.
“Cada dia estamos com mais medo. A Rocinha está passando por um processo de violência, já tivemos outras intervenções lá com o Exército e só piora a violência. Quando fazemos manifestação no outro dia vem bomba, vem tiro, vem todo o processo de repressão do estado em cima da gente. Estamos sendo controlados, estamos com medo. A morte da Marielle nos deixou com mais medo ainda”, desabafa.
A Comissão Popular foi pensada em resposta à declaração do general Eduardo Villas Bôas, que reivindicou “garantia aos militares para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade no futuro”, como aconteceu 30 anos depois do fim da ditadura militar.
Segundo Lucas Pedretti, militante do Coletivo Memória, Verdade e Justiça do Rio de Janeiro, o grupo tem se organizado na tentativa de criar uma unidade entre as frentes que estão agindo para “denunciar as ameaças aos direitos humanos no contexto de intervenção militar”.