Fórum da água debate crimes ambientais da Samarco, da Norsk Hydro e riscos da privatização

(Antonio Cruz/Agência Brasil)

O evento, que vai até o próximo dia 22, é um contraponto ao 8º Fórum Mundial da Água, que começou oficialmente neste domingo (18) e termina no dia 23, também na capital federal. Neste período, representantes das defensorias públicas do Brasil e da Argentina, do Ministério Público Federal e estaduais, organizações não governamentais do Brasil, Argentina, Chile e Bolívia, sindicatos e especialistas em sustentabilidade  falarão sobre água na perspectiva de direito humano fundamental, com o objetivo de formular diretrizes e recomendações necessárias para a gestão eficiente e participativa da água como bem público.

O FAMA 2018 (Fórum Alternativo Mundial da Água) articula uma série de ações para enfrentar os crimes ambientais das grandes corporações e mobilizar a sociedade para os riscos da privatização, que atinge principalmente as populações pobres e mais tradicionais – ribeirinhos, indígenas, quilombolas e moradores das áreas de barragens.

Presente à abertura, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, destacou que “o nosso compromisso com a defesa dos direitos fundamentais é sério e o nosso compromisso com o direito humano à água é fundamental”. E afirmou que “o Ministério Público brasileiro acolhe a pretensão da sociedade civil, além de comungar com o mesmo raciocínio e visão, de que a água é direito humano fundamental”, disse.

 “O rio é um parente nosso, como um espírito que cuidava de nós, que nos abençoava. No tempo da ditadura, meu povo foi retirado da aldeia a força para que ali construíssem um forte. O rio se revoltou, destruiu o forte e meu povo retornou para a aldeia. Mas o rio foi morto. O povo está triste. Alguns anciões já morreram, outros, ainda vivos, não conseguem olhar o rio que foi morto. É difícil falar em reparação  para esse crime. Até agora ninguém foi preso, ninguém foi responsabilizado. Mas nós sabemos que a Vale é a culpada. A Vale virou as costas para nós, não quis receber o nosso documento escrito a mão. A Vale tem de assumir a responsabilidade. O Ministério Público tem sido atuante, é bom para nós. Mas tem de cobrar mais o Ibama. Mal passou o desastre e o Ibama liberou a Samarco para voltar a operar”.

 

A fala emocionada, que arrancou aplausos do auditório lotado, é de Daniel Krenak, que vive em Resplendor, Minas Gerais. Os índios krenak não têm mais as água do rio Doce para pescar, nadar, realizar rituais religiosos e ritos de passagem da adolescência para a idade adulta. Os hábitos alimentares, culturais e religiosos mudaram desde o rompimento da barragem da Samarco, em 5 de novembro de 2015, considerado o maior desastre ambiental do gênero no mundo. “E a gente, tudo fragilizado, tendo de resistir. E vamos resistir”, disse.

E também da quilombola Sandra Georgete, de Barcarena, no Pará. “No dia 17 de fevereiro, a água da forte chuva espalhou os metais pesados da mineradora e passamos a viver essa situação. Mas não é a primeira vez que essas empresas prejudicam a nossa água. Há mais de 30 anos sofremos com problemas assim. Queremos o ressarcimento desse impacto todo. Queremos reparo. A prefeitura e o Ibama foram omissos”.

Economia

Da comunidade de São Miguel da Ilha Preta, em São Mateus (ES), a pescadora e marisqueira Sílvia Lafaiete Pires faz coro e diz que água, para beber e tomar banho – de canequinha –, só da chuva. “Não tenho dinheiro para comprar água mineral. Já vi muita gente morrer, há muitos casos de câncer. Essa água está matando a gente. Antes era água contaminada só pela Petrobras. Agora, tem ainda os rejeitos que vieram com a lama da Samarco. Vamos resistir”.

O tom de denuncia foi a marca dos variados depoimentos de ativistas sociais e ambientais que participam do FAMA 2018.

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