Fora da política não há salvação

Para o deputado Enio Verri (PT-PR), somente a politização pode tirar o Brasil desse campo de guerra em que está sendo jogado pela aventureira e apátrida Casa-grande. “O caminho do fascismo é o caos social, dentro do qual as vítimas são os pobres e os considerados diferentes”, escreve, referindo-se ao assassinato da vereadora do Rio Marielle Franco.

Fora da política não há salvação

Enio Verri*

Enquanto não se restabelecer a democracia no Brasil, o caminho da barbárie será cumprido a passos largos. Tirado do armário, em 2015, quando se intensificou uma diuturna e demonizante campanha contra o Partido dos Trabalhadores e todo campo da esquerda, o fascismo campeia e se afirma como força em disputa pelo espaço político. É espantoso o número e o baixo nível das manifestações expressas nas redes sociais contra qualquer comportamento ou pensamento contrário ao prosélito pensamento único, que defende sua posição sempre de forma belicosa.

O mandato da maioria da/os parlamentares do Congresso Nacional é de propriedade de alguma corporação, seja ela empresarial, ou ideológica. Legislam para uma elite ultraconservadora e reacionária. Somente um parlamento majoritariamente masculino, machista e fundamentalista, em pleno século 21 aprovaria um “Estatuto da Família”.

Em todos os comentários detrativos conta a vereadora Marielle não há um único que debata a questão da Segurança Pública, numa guerra que mata de ambos os lados. As pessoas se recusam a enxergar que ela foi executada porque denunciou milícia imiscuída nas forças de segurança do Estado. Demonstram incompreensão do fato ao expelirem o ódio com que foram inoculadas pelos veículos de comunicação da Casa-grande. A julgar pelo nível de intolerância e ignorância, será um árduo trabalho dissipar o fascismo do Brasil. Pior, poderá ser ainda mais sangrento do que já é.

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O caminho do fascismo é o caos social, dentro do qual as vítimas são os pobres e os considerados diferentes. Com fascistas não há diálogo, porque eles não querem ouvir senão os seus próprios argumentos. Ele não pondera porque o discurso do opressor é desprovido de algum argumento racional. Ele é movido pela paixão alimentada de verdades irrefutáveis, segundo a sua visão rasa e maniqueísta de mundo. E ele tem ganhado terreno, no Brasil. Infelizmente, o discurso fascista contra a classe trabalhadora está sendo comprado justamente por ela, que não percebe a manipulação.

A condição social e a escolaridade da maioria das pessoas que vocifera contra as minorias, nas redes sociais, são de remediadas financeiramente e de mediano nível de formação. Porém, temerário é ler comentários com o mesmo nível de ódio, de magistrados e promotores de justiça. O ódio destilado por uma figura pública da justiça, que se diz espírita, é mais um escandaloso sintoma da nossa patologia social. Além de não ser uma cidadã comum, professa dogmas do Cristianismo, cujo fundamento é o humanismo, com amor ao próximo, tolerância, simpatia, etc.

A ignorância explica tanta gente mal formada e mal informada alimentar o fascismo. Já a má fé, o ódio de classe e o preconceito são as razões para magistrados ocuparem a Ágora virtual e lançarem acusações pesadas sem uma única prova, a uma pessoa morta, que não pode se defender. Mas o ódio não foi lançado contra uma pessoa qualquer que morreu como se morre todos os dias. As ofensas e injúrias foram desferidas contra uma mulher, preta, favelada, que morreu lutando justamente contra o fascismo.

O simbolismo é apavorante. A Casa-grande demostra, com todas as peculiaridades do fascismo, que não está preparada para conviver em sociedade com a Senzala ocupando os mesmos espaços políticos. Essa ideologia assassina deve ser combatida sob pena de se ver, em breve, outra ditadura. Pode-se combater o fascismo com as mesmas armas e jogar toda a nação num rio de sangue e em décadas de traumas e vinganças. Ou podemos combater os dois piores inimigos da nação, a mídia hegemônica e a elite, por meio da politização e da regulação e da limitação de seus poderes.

A demagogia de representantes populares, sejam políticos ou religiosos, somente é possível devido à profunda despolitização da população, independente do nível de escolaridade. Parlamentares religiosos, que usam a Bíblia para legislar, não explicam a seus fiéis porque votaram a favor da reforma trabalhista, que retira direitos dos trabalhadores e compromete gestantes e lactantes. Ao invés de protegerem as crianças, votaram a favor de uma lei trabalhista que pode prejudicar o futuro delas e o do País.

Somente a politização pode tirar o Brasil desse campo de guerra em que está sendo jogado pela aventureira e apátrida Casa-grande. Há cerca de 300 anos antes de Cristo, o grego Aristóteles classificou o homem como um “animal político”. Ele é o único animal do mundo que tem consciência da sua condição. Ninguém conseguirá convencer a uma abelha de que ela não é uma e que deve parar de fazer mel. Da mesma forma, ainda não se conheceu algum mamífero do mundo animal que optou por não mais produzir leite.

Assim é o ser humano, faz política desde a hora em que se levanta até quando vai dormir. Os pais fazem com os filhos e vice-versa; o patrão com o empregado; o estudante com o professor e esses com os seus respectivos colegas. É por meio da política que avançamos e retroagimos na construção do espaço social. Todo gesto humano é político, inclusive quando se nega a participar dela. Negá-la é deixar espaço para quem por ela se interessa, e que passará a decidir por quem não participa. Odiar a política é atentar contra si, é tentar fugir de uma inexpugnável condição humana.

Passamos por um sinistro período histórico. É importante que os comitês populares em defesa da democracia assumam essa tarefa. Formação política dos militantes e da população é vital para voltarmos ao tempo em que construíamos escolas e gerávamos empregos. São dessas condições e ferramentas que necessitamos para inserir com dignidade mais pessoas na sociedade. O PT possui 13 anos de serviços prestados ao Brasil. A força da nossa narrativa para suplantar o fascismo depende da consciência que temos do avanço produzido neste País, durante os governos Lula e Dilma.

*Enio Verri é deputado federal pelo PT do Paraná.