Quem tem medo de Lula?

O deputado Enio Verri (PT-PR) denuncia a aventura da politização da justiça e da judicialização da política culminadas com o julgamento do ex-presidente Lula, nesta quarta (24), pelo TRF-4, Porto Alegre. “Condenar Lula, amanhã, pode gerar uma imprevisível e descontrolada reação do coração de uma população que ‘é um pote até aqui’ de indignação”, diz o articulista.

Quem tem medo de Lula?

Enio Verri*

Desde 2005, o Judiciário embarcou numa sinistra aventura de politizar a justiça e judicializar a política. Após mais de uma década refém dos holofotes da imprensa do mercado financeiro, o resultado é um caminho aparentemente sem volta do cipoal retórico em que a midiática Força Tarefa se embrenhou para substituir a letra fria da Lei, por convicções. Lula, mais uma vez, estava certo. Inventaram uma mentira e não param de inventar tantas outras porque estão presos à primeira mentira.

Aos olhos da Lei se comprova o caráter eminentemente político do julgamento do ex-presidente Lula. A acusação não se sustenta e a sentença é uma bomba para o TRF4. O Juízo da 13ª Vara de Curitiba condenou Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro de vantagens indevidamente recebidas da construtora OAS. O Juízo aceitou como bastantes para a condenação, uma reportagem de um jornal, de 2010, e uma delação carente de provas, não homologada pelo Ministério Público Federal.

Artigo do jornalista Jânio de Freitas aponta que o presidente Lula foi condenado por um ato de ofício “indeterminado”, que não existe. A Força Tarefa não apresentou qualquer ato de Lula, de quando era presidente, que favorecesse a OAS. Não houve crime. Essas graves informações são solenemente ignoradas pelo Judiciário e pelos grandes veículos de comunicação. O comportamento da F.T., somado aos erros, às contradições e aos crimes da Lava Jato, denunciados pelas redes sociais, ajudam a explicar o descrédito da operação. De 33%, em 2016, a desaprovação passou para 45% da população, em 2017.

Economia

Posta a condição da Lava Jato como instrumento eminentemente político, pois acusação e sentença não resistem a um estudante do 3º ano de Direito, a perseguição ao líder mundial se dá por interesses inconfessáveis dos que agora se beneficiam do golpe de 2016. Os que se locupletam do botim sabem que a volta de Lula será o fim do cumprimento da agenda do mercado financeiro e a retomada do que foi entregue pelos golpistas. Mantê-lo fora das eleições é a condição para o golpe se consolidar.

Mais de 50% da população sabem por que Lula é atacado. Não é por triplex, canoa ou pedalinho. Os 13 anos dos governos do PT são demonizados diuturnamente porque foram os mais desenvolvidos dentre os mais de 500 anos da história do Brasil. Estamos no século 21 e ainda não resolvemos com dignidade histórica uma escravidão que acabou há 130, dos 400 anos que durou. O passivo social brasileiro é secular e abismal. Há trabalho escravo e apenas cinco brasileiros concentram a renda de aproximadamente 100 milhões dos mais de 200 milhões da população brasileira.

Lula é perseguido porque a Casa Grande não tolera gente pobre se alimentar três vezes, ou mais, por dia. Não tolera pobre ocupar espaços de decisão política. Não tolera dividir avião com pobre. Não tolera escassez de mão de obra barata para o serviço doméstico. Para a elite, pobre deve ter o tempo ocupado em conseguir alimento, para vender sua força trabalho a preço de um prato de comida. Enfim, a elite tacanha brasileira não tolera este País ter saído do Mapa da Fome, com apenas 10 anos de governos do PT.

É contra esses entreguistas que lutamos. Porto Alegre deve ser ocupada por todas as forças progressistas e conscientes do delicado momento histórico pelo qual passa o País. Não é apenas por Lula, mas principalmente pela democracia, justiça, soberania do País e autodeterminação brasileira de se desenvolver. O viés político da condenação de Lula, pelo Judiciário, é fato. Não há a quem a sociedade recorrer, senão às ruas. Para quase metade da população não há motivos para se acreditar na imparcialidade de uma operação que está, a cada dia, mais exposta.

Haja vista as escandalosas e ignoradas denúncias do ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Duran, que comprometem de morte a Lava Jato. Condenar Lula, amanhã, pode gerar uma imprevisível e descontrolada reação do coração de uma população que “é um pote até aqui” de indignação. O protagonismo político do Judiciário é um dos responsáveis pelo atual momento do País. O TRF4 tem a oportunidade histórica de renunciar à politização, de observar a Lei e apaziguar o País.

*Enio Verri é deputado federal pelo PT do Paraná

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