Vote no Tiririca, pior não fica. Ficou

O deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB) escreve que Tiririca pouco entregou aos seus eleitores e à política brasileira como um todo. “Parafraseando o seu slogan de campanha, podemos dizer que ele sai da política num Brasil muito pior do que quando entrou. Ou seja, pior do que estava, ficou.”

Vote no Tiririca, pior não fica. Ficou.

Luiz Claudio Romanelli*

O Brasil não é para principiantes – Tom Jobim

O deputado federal Tiririca surpreendeu no noticiário desta semana ao anunciar que vai abandonar a política. Em seu primeiro e último discurso em sete anos de mandato, no Plenário da Câmara dos Deputados, ele declarou: “Estou saindo triste pra caramba, estou muito chateado, muito chateado mesmo com a nossa política, com o nosso parlamento. Não com os meus sete anos aqui na política. Não fiz muita coisa, mas, pelo menos, fiz o que sou pago para fazer, estar aqui e votar de acordo com o povo”.

A tristeza de Tiririca com a política é sintomática, pois assim como disse Tom Jobim, o Brasil não é para principiantes. E a política, aqui ou em qualquer lugar do mundo, não é para os amadores, nem para os fracos ou para aqueles que surfam e se elegem na onda do debate nulo e das ideias sem ideais. Menos ainda para os ladrões.

Sua saída é o resultado de uma prática em que amadorismo e achismos pessoais se juntam a uma revolta do eleitor que pode até ser legítima, porém é muito mal executada nas urnas. Para nosso azar, é uma receita que se tornou corriqueira no Brasil e que certamente contribuiu para esse cenário de descrédito por que passam nossas instituições e falta de soluções que elas dão para nossos problemas.

Economia

O fato é que para exercer um mandato ou uma atividade política que represente milhares de pessoas, o indivíduo tem de ter capacidade intelectual de “ler” a sociedade em meios às contradições e complexidades de um povo tão diverso e com tantas desigualdades como a do nosso país. Além, é claro, de levantar cedo, trabalhar muito e não perder o foco.

E que fique claro: não estou desmerecendo Tiririca de qualquer forma e muito menos dizendo que a política é para poucos. Sempre defendi e continuo defendendo que a participação na política deve ser para todas e todos, e quanto mais as pessoas se engajarem, se inteirarem, melhor será o resultado para a sociedade moderna que estamos construindo.

Porém, é necessário ter muito mais do que vontade. É preciso ter projetos, ter idéias, ter base, ter história e principalmente, comprometimento em melhorar a vida das pessoas. A política só vale a pena quando pensada e executada para melhorar a vida do povo. Não se viu em Tiririca nenhum desses elementos. Se elegeu com uma campanha midiática e sem nenhuma mísera proposta. Não utilizou seu poder do uso do verbo em nenhum momento. Em dois mandatos, teve apenas um projeto – apresentando em conjunto – aprovado.

Tiririca pouco entregou aos seus eleitores e à política brasileira como um todo. Parafraseando o seu slogan de campanha, podemos dizer que ele sai da política num Brasil muito pior do que quando entrou. Ou seja, pior do que estava, ficou. Com todo respeito, que ele continue a vida de artista na área do entretenimento, que certamente será mais útil à sociedade brasileira.

Mas o mais preocupante, neste momento, é que o amadorismo, os achismos e a revolta que citei podem se somar ao clima de posições extremas que estamos vivenciando no Brasil, acabar por eleger altos representantes sem a mínima condição de colocar o país novamente no caminho do desenvolvimento, mas sim em debates sobre temas falsos e pequenos.

A se confirmar isso, caminhamos para o início do fim do Brasil nação como conhecemos.

A política, por mais contradições que tenha, a democracia, por mais que não seja perfeita, e o voto, por mais que vezes seja desigual, são as únicas formas de termos uma sociedade que trabalhe por um futuro melhor, por uma sociedade mais justa e um país mais desenvolvido. Cabe a nós aperfeiçoarmos esses instrumentos com muito consenso, pés no chão e ideais.

Renegar a política ou transformá-la em um instrumento de revolta pueril não resolverá nossos problemas. A história e Tiririca nos mostraram.

Boa semana, Paz&Bem!

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná.

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