Enio Verri: A mobilização deve ser nas bases

Para o deputado Enio Verri (PT-PR), acerca da reforma da previdência, parlamentar que permitir agricultor morrer de exaustão, não se elege mais para nada.

Verri escreve que o recuo de Temer fez as centrais sindicais e os movimentos sociais alterarem estratégia para esta terça-feira (5).

A mobilização deve ser nas bases

Enio Verri*

A camarilha que ocupa o Palácio do Planalto, com seus comparsas de Congresso Nacional, decidiu por um breve recuo na votação da Reforma da Previdência. O tempo necessário para levantar o valor exigido por toda e todo parlamentar que tiver a coragem de deixar sua digital em um crime de lesa-pátria e que vai afetar profunda e negativamente a vida de mais de 70% da população brasileira, cuja renda é de cerca de dois salários mínimos. Seja em 2018, ou em qualquer outra eleição, parlamentar que permitir agricultor morrer de exaustão, não se elege mais para nada.

A Reforma da Previdência faz parte do conjunto de medidas deliberadamente tomadas para tornar o Brasil à condição de nação eminentemente rural e sem importância no cenário internacional. A reforma trabalhista, a do Ensino Médio, os contingenciamentos para a ciência e a entrega das empresas e das fontes de energia fazem parte desse pacote encomendado pelo mercado financeiro, como ficou claro na ordem da Inglaterra ao Brasil, revelada pelo jornal inglês The Guardian. O estarrecedor desse processo é a inação popular. O seu patrimônio, que não pertence a nenhum partido e que é instrumento da soberania nacional, está sendo entregue aos interesses de outros países.

Economia

Operadoras de previdência privada, nacionais e internacionais, vão se apossar da Previdência Nacional, construída e mantida com o suor dos brasileiros. A falácia da insustentabilidade da Seguridade Social já foi e deve ser rechaçada a todo momento. Levando em consideração todas as fontes de financiamento, ela é superavitária. Porém, o constante aumento da dívida pública mina o seu financiamento. Uma das melhores saídas para salvar a Seguridade Social é uma auditoria dessa dívida. O Equador reduziu a sua em 70%, com a anuência de 95% dos credores confrontados com provas irrefutáveis da fraudulenta dívida.

Mas, para isso, o Brasil teria de ser habitado por uma população politizada e disposta a tomar as ruas de desobediência civil, em defesa da sua soberania nacional e da sua autodeterminação, como povo. Porém, a brava gente deste País, ao que tudo indica, é feita do ato que originou o País, a covarde fuga de um imperador para não enfrentar Napoleão Bonaparte. Nem os servidores públicos, um setor mais organizado sindicalmente, estão indignados a ponto de paralisar o Brasil. A Eletrobras, inestimável patrimônio da nação como instrumento de desenvolvimento nacional está sendo entregue aos chineses, e por um valor aviltante. Onde estão os servidores da estatal, que não se mobilizam? Parece que não têm a ver com o problema.

O recuo de Temer fez as centrais sindicais e os movimentos sociais alterarem estratégia para a terça-feira (5). A decisão foi acertada. A orientação é pressionar na base, onde a/os parlamentares residem, e nos aeroportos utilizados por esses, principalmente. Os estudantes do Paraná, de São Paulo e Goiânia, especialmente, chamaram a atenção de todo o Brasil. Não colocaram 200 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, eles ocuparam milhares de escolas e provocaram um necessário debate, ocultado pelos grandes veículos de comunicação.

É disso que estamos precisando, de o Brasil ser paralisado com ações periódicas, pontuais, coordenadas e torrencialmente difundidas nas redes sociais. As ruas, as praças, enfim, os espaços públicos devem ser ocupados para exigir que o Brasil seja devolvido à nação, com o prejuízo de quem o adquiriu sem autorização dos brasileiros. Temer apenas recuou, mas a determinação do mercado de seguridade privada, liderada pelos bancos, é a de destruir um sistema que é referência mundial em Seguridade Social, estudado por países como a França e o Japão. Já gastaram muito até aqui. Não estão dispostos a recuar e, se preciso for, gastaram mais.

A Justiça Federal do Distrito Federal suspendeu a propaganda produzida com verba pública pelo ministério de entreguistas de Temer. Na sanha de colocar o País de joelhos à mercê do capital veiculou mentiras e deseducou a população acerca do assunto Previdência. A camarilha de entreguistas não é barata. O valor que Temer pagará aos parlamentares que apoiarem a reforma da Previdência custará a possibilidade dos mais pobres se aposentarem e terem assistência médica hospitalar. A reação está atrasada, centrais sindicais e movimentos devem, urgentemente, mobilizar apoiar as forças locais de oposição a Temer. Avante.

*Enio Verri é deputado federal pelo PT do Paraná.

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