Em editorial, Folha começa “deglutir” Bolsonaro como anti-Lula

Diz o ditado: “quem não tem cão caça com gato”. E é isso que a Folha está fazendo ao iniciar a “deglutição” de Jair Bolsonaro, o anti-Lula nas eleições de 2018.

Antes do editorial de hoje, neste domingo (12), o jornalão já cravara que o “mercado” via Bolsonaro como “opção” contra Lula. Por “mercado” — que não tem CNPJ nem endereço físico — leia-se “Folha”.

Na mesma edição de ontem, a Folha afirmara em editorial que o PSDB estaria a caminho da humilhação suprema e previra o desastre eleitoral do governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB).

Voltemos ao editorial desta segunda-feira (13).

Apesar de começar a “deglutir” Bolsonaro, a Folha ainda o vê com reservas sobretudo na área econômica que, segundo o jornalão dos Frias, “tenta incorporar a sua retórica alguns rudimentos do liberalismo e da responsabilidade orçamentária”.

“Não faz muito tempo, apresentava-se como um nacionalista econômico, simpatizante de políticas da ditadura militar, contrário a privatizações, favorável ao protecionismo e ao fechamento de fronteiras, inclusive para imigrantes”, recorda a Folha.

Economia

A questão da misoginia, irrelevância parlamentar, violência contra homossexuais, adoração à ditadura militar, etc., são relativizadas pela Folha ao utilizar a técnica da “pirâmide invertida” no texto, qual seja o antilulismo nas primeiras linhas; e os defeitos ao final do “escolhido” do jornalão.

Abaixo, leia a íntegra do editorial da Folha:

EDITORIAL DA FOLHA

Bolsonaro em pauta

Se já deve ser levado a sério como candidato à Presidência, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) igualmente dá sinais de que busca se tornar um nome palatável ao establishment político e econômico nacional.

Trata-se de movimento pragmático, cujo propósito imediato é obter apoios e estrutura para sustentar uma pré-campanha que até o momento se impôs por meio de uma retórica raivosa, que explora medos e preconceitos.

O postulante da direita radical beneficia-se, ao mesmo tempo, da degradação econômica e social do país nos últimos anos e da ausência de candidaturas definidas fora do campo esquerdista.

Por ora um lobo solitário nesse terreno, pesca nas águas turvas do quadro de escândalos de corrupção, descrédito de partidos tradicionais, insegurança trabalhista e temor da violência.

Segundo o Datafolha, ele obtém 17% dos votos em qualquer dos cenários projetados. Seus eleitores mostram perfil um tanto atípico. Dois terços são homens; cerca de 30% têm menos de 24 anos; 60% concluíram o ensino médio.

Entre os nomes até agora mais prováveis, seus adeptos são aqueles que menos declaram preferência por algum partido —75% deles, contra 63% da média.

No universo de entrevistados com renda superior a dez salários mínimos, bate Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede).

Firme no segundo lugar das pesquisas, Bolsonaro ainda procura o que dizer sobre os destinos do país.

Mesmo no seu tema de predileção, a segurança, jamais propôs diretrizes mais consistentes para a ação do Estado. Limita-se a pregar a repressão de crimes por meio de métodos violentos e do armamento da população.

Não faz muito tempo, apresentava-se como um nacionalista econômico, simpatizante de políticas da ditadura militar, contrário a privatizações, favorável ao protecionismo e ao fechamento de fronteiras, inclusive para imigrantes.

Mais recentemente, de modo trôpego, tenta incorporar a sua retórica alguns rudimentos do liberalismo e da responsabilidade orçamentária. O próprio deputado, no entanto, reconhece que pouco entende do assunto.

Tampouco se tem grande noção do pensamento de Bolsonaro por meio da análise de sua carreira política —afora o que se conhece de seus rompantes e grosserias, costumeiramente ofensivos a mulheres e homossexuais.

A despeito de exercer seu sétimo mandato consecutivo, a trajetória parlamentar é apagada. Não se destacou por apresentar ou relatar projetos de importância, por articular ou liderar grupos políticos de relevância no Congresso.

Carece de aliados, de planos de substância, de partido. Muito terá de trabalhar para que não seja tão somente mais uma outra ameaça ao soerguimento do país.

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