Romanelli: lava jato revira a lata de lixo

O deputado Luiz Claudio Romanelli (PSDB), da China, manda suas impressões da crise política sem-fim no Brasil: “Vejo a mídia diariamente insistindo na apuração da corrupção promovida pela operação lava jato, e a sensação que fico é que estão revirando uma lata de lixo que não vai parar de feder nunca.”

A lata de lixo

Luiz Claudio Romanelli*

“Não importa a cor do gato, desde que ele caçe o rato” (Deng Xiaoping)

Na China, onde participo de um Seminário sobre Governança – a convite do governo Chinês e da Província de Jiangxi – fica ainda mais espantoso como o óbvio não é enxergado pelos brasileiros: sem estabilidade não haverá a retomada do crescimento econômico, sem economia forte não há prosperidade.

Vejo a mídia diariamente insistindo na apuração da corrupção promovida pela operação lava jato, e a sensação que fico é que estão revirando uma lata de lixo que não vai parar de feder nunca.

Aqui na China descobri que o atual presidente Xi Jinping elegeu como prioridade do governo o combate a corrupção, que segundo os especialistas que tenho conversado, é tão grave como a existente no Brasil, e nem por isso a economia parou, ao contrário, o país cresceu 6,4% no primeiro trimestre. Mas há um paradoxo: de uma intelectual ouvi a seguinte frase: “Foi no mais sujo período é que a economia desenvolveu mais rápido”.

Economia

Mas sobre a China falarei nos próximos artigos.

No Brasil a semana foi marcada pela ofensiva do presidente Temer e de seus ministros para garantir maioria de votos e barrar a denúncia por corrupção no plenário da Câmara. A acusação só será analisada pelo STF se pelo menos 342 dos 513 deputados votarem pela admissibilidade da denúncia.

Lutando contra o tempo, o Palácio do Planalto se desdobra para conquistar os corações e as mentes dos parlamentares. O toma lá da cá é escancarado. A ONG Contas Abertas passou um pente fino nos valores empenhados na liberação de emendas neste ano e constatou que parlamentares pró-Temer receberam, em média, no primeiro semestre, R$ 1 milhão a mais em emendas que em 2016.

Cento e oito deputados que declararam voto contra a denúncia que tramita na Câmara tiveram R$ 766,4 milhões em emendas empenhadas em 2017, isto é, R$ 7,1 milhões em média. Em comparação com os deputados que votam contra Temer, os parlamentares pró-Temer receberam, em média, R$ 1 milhão a mais em emendas. No total, foram liberados R$ 4,2 bilhões em emendas este ano. Mas como cautela não faz mal a ninguém, para assegurar mais alguns votos a favor de Temer, os ministros licenciados do mandato de deputado federal retornarão à Câmara para votar na próxima quarta-feira, dia 2.

Mas é bem provável que o desfecho dessa novela seja protelado. Isso porque é plausível que não haja quórum na sessão de quarta. Quem levantou a estratégia foi o Jornalista Ricardo Noblat, de O Globo.

Segundo ele, “se a oposição comparecer, mesmo que para votar pela aprovação da denúncia, o governo só precisará de 172 votos para derrotá-la. A oposição está dividida quanto a isso. Um pedaço dela quer ajudar a dar quórum e, assim, salvar o governo. Outro pedaço não quer. Como o voto de cada deputado terá que ser anunciado no microfone em sessão transmitida pela televisão, se saberá como cada um deles votou. É isso que ainda inibe parte do PT, do PC do B de admitir que prefere a vitória de Temer”, revelou.

Muito provavelmente, os deputados vão preferir que a sessão seja suspensa por falta de quórum a declinar publicamente o voto a favor de um presidente que é aprovado por apenas 5% da população, índice inferior ao de José Sarney em 1989, no auge do descontrole inflacionário.

A pesquisa CNI Ibope, divulgada na semana passada, revela que 70% consideram o governo ruim ou péssimo e traz ainda outras informações relevantes: 83% dos eleitores desaprovam a maneira de Temer governar, 87% não confiam nele, 65% tem uma expectativa ruim ou péssima sobre o restante do governo e 52% consideram o atual governo pior do que a gestão de Dilma.

Obviamente que esses índices de rejeição não são à toa. Temer consegue desagradar a gregos e troianos porque desde que sentou na cadeira de presidente, adotou uma agenda retrograda e contra o povo.

Prometeu recolocar a economia nos trilhos e conter o rombo fiscal.

O setor público registrou um rombo fiscal de R$ 19,5 bilhões em junho, segundo divulgou o Banco Central. Foi o pior resultado para o mês na série histórica iniciada em dezembro de 2001. O déficit acumulado em doze meses já soma R$ 167,2 bilhões – R$ 28,2 bilhões acima da meta.

O desemprego ficou em 13,0% no trimestre encerrado em junho, segundo dados divulgados na sexta-feira (28) pelo IBGE, por meio da pesquisa PNAD- Contínua. São 13,5 milhões de desempregados. Houve um recuo de 0,7 ponto percentual em relação ao trimestre terminado em março de 2017. Mas em relação ao mesmo trimestre de 2016, a taxa continua 1,7 ponto percentual maior, já que o desemprego naquele período estava em 11,3%.

A informalidade aumentou. O número de empregados com carteira de trabalho assinada foi de 33,3 milhões, recuando 3,2% em relação ao mesmo trimestre de 2016. Só para comparar, em 2014 havia 36,880 milhões de carteiras assinadas. De lá para cá, houve redução de mais de três milhões de postos de trabalho formais no país.

O país desmorona. E Temer só pensa em salvar a própria a pele.

Enquanto isso, aqui aqui na China estou tentando entender como um país com numerosa população, imensa área territorial e as situações complicadas que tem enfrentado, consegue manter a estabilidade da sociedade e desenvolver de forma tão acelerada a economia.

Boa Semana! Paz e Bem!

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado, especialista em gestão urbana, deputado estadual (PSB) e líder do Governo na Assembleia Legislativa do Paraná.

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