Alvo de investigação no STJ, Beto Richa escreve sobre “ética” na Folha

O ministro Og Fernandes, do STJ, decidirá sobre a abertura de inquérito para investigar do governador do Paraná Beto Richa (PSDB). Mas esse fato não constrangeu a Folha de S. Paulo, na edição desta quarta-feira (14), publicar artigo do tucano falando sobre “ética” e “ajuste” — dois temas que podem interromper o ilegítimo governo de Michel Temer (PMDB) e levar para a cadeia o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

A Procuradoria-Geral da República pediu ao STJ a abertura de inquérito para investigar o governador do Paraná com base em delações premiadas de executivos da construtora Odebrecht e se referem a crime eleitoral. Beto Richa foi registrado nas planilhas de propina da empreiteira como “Piloto” e, segundo os delatores, ele teria recebido R$ 2,5 milhões.

O diabo é que mesmo estando mais sujo que pau de galinheiro no Paraná, quando cruza a divisa com São Paulo, Richa se esquece das encrencas nas quais está metido para falar de “ética”, “moral”, “ajuste”, etc. Foi assim no mês passado quando concedeu entrevista à Jovem Pan. Até parecia candidato a Papa.

Mas o “ajuste” que Richa tenta vender como algo “revolucionário” literalmente custou o “couro” dos servidores públicos do estado. Ainda permanece na memória 29 de abril de 2015, quando 213 pessoas foram covardemente massacradas pela PM. Além disso, é bom frisar, se o tucano tirou do ‘funcionalismo’ é para entregar para ‘outrem’. É aí que a porca torce o rabo…

Resumo da ópera: o ‘ajuste’ é uma falácia e ‘ética’, no bico de tucano, é igual perna de mentira, curtíssima.

A seguir, leia o artigo de Beto Richa defendendo o “ajuste” na Folha:

Economia

O inadiável ajuste nas contas

A persistência da maior crise econômica, ética e social da história do Brasil produziu um inesperado consenso entre economistas e gestores públicos: é inadiável um ajuste fiscal em todos os níveis de poder.

Não faltam críticas procedentes de que deveríamos ter nos antecipado nessa tarefa, aproveitando os tempos de bonança, como na fábula da cigarra e da formiga. É preciso prover e ser previdente no tempo bom, para depois poder enfrentar o inverno.

Com o perdão da ousadia, acho que fizemos um pouco disso no Paraná. Em dezembro de 2014, com os sinais de deterioração no horizonte, iniciamos um forte ajuste.

Encaramos a questão da Previdência dos servidores públicos -que naquele momento impunha compromissos exagerados ao Tesouro estadual- e revisamos alíquotas de impostos, ajustando-as aos níveis praticados em outras unidades da Federação.

Impusemos limites aos gastos e ao crescimento das despesas, que terminaram por contar com boa margem de apoio na iniciativa privada e até mesmo no funcionalismo público. São controles cada vez mais rígidos, que exigem atenção permanente para garantir novas economias e o corte de despesas não prioritárias.

Claro que nos favorece a inevitável comparação com outros Estados, nos quais salários atrasados ou parcelados foram tomados como exemplo de realidade a ser rejeitada. A manutenção de pagamentos em dia é mais importante que o argumento corporativo dos sindicatos, sempre a querer mais e mais benefícios. Fornecedores que recebem nas datas combinadas também fazem parte dessa receita.

Os investimentos públicos voltaram a crescer. As obras de infraestrutura criam novas condições para o avanço dos investimentos privados, num ciclo virtuoso e poderoso para debelar crises e gerar empregos.

Costumo dizer que não há mau governo com dinheiro em caixa. Não para entesourar riqueza, mas para organizar e programar os investimentos, segundo prioridades definidas pela sociedade.

Neste momento em que o Brasil precisa, mais do que nunca, de ajustes de Norte a Sul, vejo que a experiência paranaense deve ser olhada como um gesto de coragem e de contribuição para o país.

Não há fórmulas mágicas ou indolores, mas é por comparação que vamos descobrindo novos caminhos para retomar o crescimento e recuperar os milhões de empregos perdidos nos desvãos da crise.

O debate sobre a Previdência é apenas parte do problema. No entanto, o êxito de um projeto que devolva solvência ao sistema, sem impor sacrifícios demasiados aos trabalhadores, será visto como o primeiro passo numa reforma maior, que aponte para novas bases nas relações federativas. O contrário disso será desastroso.

Apesar de tudo, sou otimista. É na dificuldade que aprendemos a procurar as saídas mais responsáveis. O Brasil que quer resgatar a esperança tem um encontro marcado com seus deficits nas contas públicas. E não pode fugir dele.

Não se trata mais de escolher entre fazer ou não fazer o ajuste e as reformas. Chegou a hora de ousar e realizar. A história, mais uma vez, cobrará daqueles que possuem a responsabilidade e a oportunidade em suas mãos.

O bom desse desafio é que no final, feito o ajuste, o cenário é bem mais favorável que a fatigante rotina de administrar o caos.

BETO RICHA (PSDB) é governador do Paraná. Foi prefeito de Curitiba e deputado estadual

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