O Brasil real não existe para Temer e a imprensa que o sustenta

O deputado Enio Verri (PT-PR) advoga em sua coluna desta terça-feira (2) que “o governo Michel Temer deve renunciar” em virtude da alienação em relação à sociedade.

O colunista defende ainda a volta de Dilma para convocar novas eleições, bem como de uma Constituinte para as reformas política, de comunicação, agrária, tributária, entre outras não menos importantes.

Enio também critica a tentativa de censura da mídia golpista brasileira, que foi mais uma vez desmoralizada pela imprensa internacional. “Essa imprensa está nua diante da opinião pública e não parece ter tanto poder quanto ostenta”, observa.

O Brasil real não existe para Temer e a imprensa que o sustenta

Enio Verri*

É necessariamente urgente a restituição da democracia. Ela passa pela volta de Dilma Rousseff à Presidência e a convocação de eleições diretas e de uma Constituinte para as reformas política, de comunicação, agrária, tributária, entre outras não menos importantes. Dia 28, cerca de 40 milhões de pessoas pararam contra medidas ultraliberalizantes que reduzem a pó o solidário e superavitário sistema previdenciário e conduzem o País a condições de trabalho de 1920.

Economia

Por meio do ministro da Justiça, Temer desqualificou a greve, chamando-a de “fracasso”. A declaração diante de quase ¼ da população é um deboche e a confissão de que esse governo está alienado da sociedade e deve renunciar. A imprensa aliada de Temer não conseguiu esconder o que as redes sociais e a imprensa internacional mostraram em dezenas de cidades brasileiras. Essa imprensa está nua diante da opinião pública e não parece ter tanto poder quanto ostenta.

As propostas de acabar com a Previdência e precarizar as condições de trabalho uniram desde centrais sindicais adversárias a religiões de diversos credos, cujas lideranças fizeram abertas campanhas junto a seus fiéis. Seria bom acreditar que o ministério de notáveis de Temer está apenas tecnicamente errado. Mas, infelizmente, o desmonte é proposital para reduzir o Estado a zero e privatizar o que for do interesse do mercado financeiro, principalmente.

Desde as primeiras medidas, Temer deixa clara a estratégia. Asfixia financeiramente o Estado, por 20 anos, com a EC 95/2016. Precariza as instituições públicas, reduz e privatiza a previdência, com a PEC 287/2016. Torna o trabalhador uma peça ainda mais descartável, sem garantias e sem a proteção dos sindicatos como mediador no conflito entre os donos dos meios de produção e do capital e os fornecedores da força do trabalho, com o PL 6787/2016.

O PIB caiu, em 2015 e 2016, 3,8% e 3,6%, respectivamente. A inflação está baixa devido ao que se chama de recessão. Não há consumo porque não há emprego. Com a imposição da EC 95/16, de o Estado investir apenas a inflação do ano anterior, não haverá aumento real do salário mínimo. Ao diminuir ainda mais o poder de compra dos trabalhadores, a Previdência vai arrecadar menos. O resultado pode ser bom, ou ruim, depende do lado em que se está. Para os mais de 80% da população é péssimo, mas, para banqueiros, planos de saúde e de previdência privada, é ótimo.

Para sair da crise é necessário fazer a roda da economia girar. A primeira medida é retirar de pauta as reformas da Previdência e trabalhista. Tivesse esse governo a intenção de proteger a população, ampliaria as parcelas do seguro desemprego e anteciparia a 2ª parcela do abono salarial (PIS) de 2016, que só será paga em 2018. Essa alternativa foi utilizada pelo Partido dos Trabalhadores, em 2009, como medida anticíclica do reflexo da crise econômica internacional, de 2008.

Temer poderia aumentar o valor do Bolsa Família, incluir o 13º salário para o benefício e alterar a faixa de enquadramento da pobreza, para incorporar mais famílias. Junto com essas medidas, instituir política de formação profissional das famílias beneficiadas. Outra medida ao alcance do governo seria a retomada do Minha Casa Minha Vida, faixa 1, com recursos do FGTS. Garantiria um pequeno patrimônio para famílias cuja renda per capta é um salário mínimo e geraria muitos empregos no agonizante setor da construção civil.

Enfim, há uma série de medidas que dinamizariam a economia, sem destruir um exitoso e superavitário programa previdenciário e sem suprimir leis trabalhistas com as quais o País alcançou a condição de pleno emprego, em fins de 2014, com 4,5% de desempregados. O governo e a imprensa que lhe dá respaldo não se sustentam de pé. A cada dia que passa, cristaliza-se na consciência popular a certeza da ilegitimidade de Temer e seu grupo. Negar a última manifestação popular não a faz desaparecer, apenas revela o quão distante estão da realidade. Avante.

*Enio Verri é deputado federal e presidente do PT no Paraná.

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