Água que rega bolso privado não traz lucro ao Paraná

O deputado Requião Filho (PMDB) denuncia em sua coluna desta terça-feira (23) a privatização, a conta-gotas, da Sanepar, a companhia de água e esgoto do Paraná. Segundo ele, o governador Beto Richa (PSDB) dobrou o valor dos dividendos aos acionistas de 25% para 50%, transferindo a terceiros, o lucro da empresa, e as retiradas para cobrir os furos no governo do estado.

Água que rega bolso privado não traz lucro ao Paraná

Requião Filho*

As movimentações financeiras que envolvem as empresas públicas paranaenses têm sido um tanto controversas nos últimos anos. Em especial, a Sanepar, responsável pela água distribuída e consumida por quase 11 milhões de pessoas no Paraná, tem uma estrutura que envolve quase 7,5 mil funcionários, mas suas finanças um tanto descomprometidas com a população.

Para se ter uma ideia, num breve comparativo, no período do nosso governo, a gestão da Sanepar tinha um grande compromisso com a sociedade. Além de garantir todos os investimentos necessários para manutenção e criação de novas linhas de água e esgoto, em todo período de oito anos, manteve a remuneração do capital dos investidores em 25% dos dividendos, no valor mínimo que a lei determina, porém todos eram beneficiados com isto. Afinal, os lucros iam diretamente para as obras e a expansão da empresa.

Procurando preservar os investimentos, o governo à época nunca retirou a remuneração dos Juros do Capital Próprio (dividendos ao governo) e injetou na companhia 221 milhões de reais. Valores estes que, se atualizados pelo INPC, atingiriam 442 milhões. Isto representava, juntamente com outros rendimentos, no plano de gestão da companhia, saneamento básico de qualidade e um reforço a mais para os investimentos que eram necessários.

Economia

A população ganhou também o congelamento da tarifa durante todo o período e isto refletiu diretamente na economia paranaense, tanto para as famílias de baixa renda quanto para o capital de giro, principalmente ao desenvolvimento dos micro e pequenos empresários. Eram tempos difíceis de crise, mas que não foram sentidos como hoje, pois tinha um governo que se preocupava com as pessoas! A prioridade era a população!

Porém, o que aconteceu após o Requião sair do comando estadual, foi desastroso. Passando por cima de todo esforço, da gestão consciente e comprometida de seu antecessor, o governo Richa priorizou aumentar a tarifa e o repasse dos lucros aos acionistas. Passou a sangrar o bolso da população com aumentos que já somam 124%. O governo do PSDB perde a oportunidade de capitalizar a companhia em mais de 710 milhões, para reforçar a remuneração dos acionistas, pisando, mais uma vez, em suas promessas de campanha registradas em cartório que primavam pelos interesses da população.

Na prática, é menos investimento na rede de coleta e tratamento de esgoto que poderia estar sendo ampliada e aprimorada no Paraná.

Nos tempos de Requião, os investimentos no setor de saneamento básico beiravam os 65%, com mais e mais casas beneficiadas pelo programa da tarifa social. Crescimento que poderia ter continuado, não fosse à ganância de suprir o Caixa Único criado por eles e o interesse em mandar recursos para fora, sem retorno ao nosso Estado, avesso a tudo que fizemos e deixamos.

Beto Richa dobrou o valor dos dividendos aos acionistas de 25% para 50%, transferindo a terceiros, maior valor de remuneração, o que corresponderia a mais 426 milhões de reais no caixa da Companhia, em valores atuais.

Esta retirada é mais uma prova cabal da necessidade de cobrir as contas do Estado, furo no caixa do governo, deixando de lado o compromisso do reinvestimento e melhoria na companhia. A soberba do lucro impera nesta gestão comprometida apenas com o capitalismo desenfreado.

Aos poucos estamos perdendo a Sanepar, que vem sendo privatizada a conta-gotas. De 2003 a 2010, mantínhamos a proporção de 60% da participação acionária para o Estado contra 40% do capital aos acionistas “terceiros”. Mas o que veio a seguir, de 2011 em diante, inverteu o quadro. Hoje temos a proporção de 30% das ações para o Estado contra 70% de capital de terceiros, tal qual é o desinteresse pela Companhia.

Quanto dinheiro foi desperdiçado com vazamento do capital próprio em troca da entrada de caixa no tesouro estadual! Será que estamos caminhando a passos largos ao alto endividamento e à descapitalização? Sinto cheiro de mais uma privatização no ar…

*Requião Filho é deputado estadual pelo PMDB do Paraná.

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