Político: afinal, que bicho é esse?

O deputado Requião Filho (PMDB) aborda na coluna desta terça-feira (18), em tempo de espetacularização de delações, a banalização da corrupção e sua consequente pasteuzização. “… já não prestamos mais atenção como antes no conteúdo completo, apenas nas manchetes”, resume, ao apontar a despolitização da sociedade.

Político: afinal, que bicho é esse?

Requião Filho*

Todos os dias milhares de brasileiros lotam suas timelines das redes sociais com discursos moralistas, defendendo bandeiras contra a corrupção, criticando a conduta de políticos e compartilhando denúncias envolvendo seus representantes. Pessoas que já se acostumaram a ligar seus aparelhos de rádio e TV, e a ouvir sempre a mesma ladainha diária de matérias falando de denúncias, falcatruas e já nem se espantam mais.

E, como se não bastasse isso, já não prestamos mais atenção como antes no conteúdo completo, apenas nas manchetes. Como se aqueles poucos caracteres resumissem todo o conteúdo de uma denúncia, com diferentes posicionamentos e reflexões. Embora nem sempre os diferentes pontos de vista estejam presentes numa reportagem, depende muito do veículo de comunicação.

Entretanto, estamos entrando numa nova Era, num tempo em que a velocidade impera, com a leitura dinâmica de poucas linhas sem aprofundamento. Não há tempo a perder! E, por isso, vamos consumindo meias verdades sem perceber.

Economia

Tudo se resume a uma manchete – às vezes sensacionalista, às vezes não… e, pronto! Já se sabe tudo o que é preciso para condenar ou alfinetar este ou aquele figurão que te pediu votos na última eleição. Não há mais tempo para ler nada, para procurar informações neste ou naquele outro veículo. O senso crítico está morrendo! Está todo mundo apedrejando todo mundo, atirando para todos os lados, reclamando de tudo e de todos, como se a culpa fosse tão somente do outro e não de si mesmo.

“Peraí, como assim, Requião Filho? Você está dizendo que a culpa também é minha?”

Não se sintam ofendidos, mas sim, a culpa é sua, é minha e de todos aqueles que nos acostumamos a pedir favores, seja para realizar este ou aquele sonho, aquela viagem de férias (sim, acreditem, já me pediram até isso), ou um tratamento caro de saúde, o pagamento de uma tarifa de luz atrasada e até uma simples doação. Não é errado buscar auxílio ou patrocínio, mas esta não é a função de um político!

Para muitos, isso pode até soar estranho, por incrível que pareça, mas dar dinheiro ou qualquer auxílio financeiro não é função de um político! São atribuições de um deputado, por exemplo, criar leis e fiscalizar o poder público… não distribuir dinheiro.

Aliás, estas vantagens que o brasileiro adora são as grandes responsáveis pelo país estar no mar de lamas político que se encontra. Sim, enquanto eles lá em cima tiram benefícios da população para votar de acordo com seu patrocinador de campanha, tiram também seu direito a ter uma saúde de qualidade, escola estruturada e moderna, mais segurança nas ruas, e projetos sociais que auxiliam a todos igualmente.

Lembre-se, que todo auxílio “por fora” está saindo de um montante que iria para a sua saúde, para as estradas, para a educação, segurança etc. Sim, a corrupção está nos pequenos gestos! Seja naquele momento em que você quer furar uma fila, ou em que compra um produto pirata – só porque é mais barato – violando muitas vezes direitos comerciais e autorias, deixando de pagar impostos, ou naquele momento em que você quer apenas contar vantagem aos outros que conseguiu isto ou aquilo de um jeito “esperto” que só você foi capaz de conquistar.

A lei dos “mais espertos sobrevivem” está em xeque. Será mesmo que nossos representantes, lá em cima, não estavam fazendo o mesmo que você? É correto querer tirar vantagem dos outros? E quem são, afinal, estes representantes? Representantes de quem? Quem os colocou lá? Não seriam eles uma cópia fiel dos nossos bons costumes e das nossas pequenas corrupções do dia-a-dia? Por que ser correto nos dias de hoje está cada vez mais difícil? Por que poucos políticos não se deixam corromper e quem são eles? Por que votamos em quem não confiamos? Por que escolhemos o cara que nos deu uma caixa de cerveja ao invés de um projeto de esperança para nosso bairro? Estaríamos ainda acreditando apenas em propagandas bonitinhas e números apresentados em pequenas manchetes de TV? Qual a influência disso na sua decisão, no seu voto? Quem colocou esse político lá em cima? Por que político tem salário? Por que não trabalha de graça? Opa… mas e se fosse você, trabalharia e dedicaria todo seu tempo… De graça? Vai viver de quê? Vai comer o quê? Vai pagar a escola do filho com quê?

Pensar, refletir e tomar boas atitudes… A escolha é sua! A começar pelo papel de lixo que joga no chão, pela vantagem que você quer tirar em cima dos outros, pelo pedido de dinheiro por fora que pede ao seu político… O mundo reflete o que você é, o que você faz!

Seja justo com a sua comunidade, escolha bem seus representantes e terá um líder de acordo com o seu pensamento, com o seu jeito de viver! Você tem o poder nas mãos… E se faltarem opções, seja a opção e candidate-se! Afinal, já dizia um sábio pensador: “Quem não gosta de política ser á governado por quem gosta”.

Simples assim.

*Requião Filho é deputado estadual pelo PMDB do Paraná.

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