Dono da Riachuelo se junta a Montenegro e Quiroga. Defensor do impeachment para “salvar a economia”, viu queda de 44% no lucro de sua empresa

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Montenegro, do Ibope, derrotou Lula em 2010; Quiroga elegeu Serra

Sem Dilma, volta de investimentos seria ‘instantânea’, diz presidente da Riachuelo

por Ruth Costas, da BBC Brasil em São Paulo, 25 março 2016

Reprodução parcial

Economia

Presidente da Riachuelo – uma das maiores redes do varejo brasileiro – Flávio Rocha defende que o empresariado do país precisa “sair da toca” sobre suas posições políticas para garantir uma guinada liberal no Brasil – caminho que, na sua avaliação, poderia tirar o país da crise.

Rocha foi um dos primeiros empresários brasileiros a se posicionar abertamente a favor da saída de Dilma Rousseff da Presidência e diz acreditar que, nesse caso, haveria uma rápida retomada dos investimentos na economia real.

“Seria instantâneo”, defende. “É o que está acontecendo na Argentina. Não precisou de dez dias para a criação de um círculo virtuoso.”

BBC Brasil – O senhor tem se posicionado a favor do impeachment, mas mesmo se o afastamento da presidente for aprovado, há incógnitas sobre a estabilidade de futuros arranjos políticos. Não é arriscado assumir uma posição nesse cenário incerto?

Flávio Rocha – Acho que estamos em uma troca de ciclos que implicará em uma mudança no papel do Estado no Brasil. Encerramos um triste ciclo de mais uma tentativa de usar o Estado como indutor do desenvolvimento, que no mundo todo só gerou empobrecimento e desemprego. E há condições para uma virada de página em direção a um modelo pautado pelo binômio democracia e livre mercado, que é como se consegue a prosperidade.

O eleitor brasileiro está mais maduro, o que favorece a virada. Está deixando de ser um eleitor súdito para ser um eleitor cidadão, que vê o Estado mais ou menos como sua operadora de telefonia ou TV a cabo: um prestador de serviço do qual deve ser cobrado eficiência e baixo custo. Esse será o estopim da mudança, que pode acabar com esse Estado gigantesco, hipertrofiado, um Estado de 40% do PIB que existe para garantir os seus próprios privilégios.

O novo ciclo será marcado pela busca do Estado prestador de serviço e eficiente.

Mas esse novo modelo pressupõe um empresariado mais protagonista. Os que investem e dão empregos serão uma liderança necessária nesse processo. Quando eu me posicionei, há algum tempo, realmente pouquíssimos empresários tinham se manifestado. Mas vejo com muita alegria cada vez mais lideranças empresariais conscientes de seu novo papel “saindo da toca”.

[…]

BBC Brasil – O mercado financeiro parece animado com a possibilidade de uma saída da atual presidente. Como empresário do varejo, que efeito acha que isso teria nos investimentos na economia real?

Rocha – Seria instantâneo. Bastaria uma troca da sinalização. É o que está acontecendo na Argentina. Não precisou de dez dias para a criação de um círculo virtuoso. A partir do momento que você sinaliza que está entrando em campo um governo que entende as delicadas engrenagens do livre mercado e vai colocar a sua sabedoria a favor do desenvolvimento, o fluxo de investimentos se reestabelece e a confiança desabrocha.

BBC Brasil – Para o senhor, o eleitor brasileiro está cansado da social-democracia?

Rocha – Exato. Acho que o brasileiro se cansou dessa experiência socializante. Nós competimos com países que têm Estados de 12%, 15%, 17% do PIB. Aqui, depois da constituinte era 22%. Hoje temos 37% de carga tributária, com mais 10% de déficit publico.

E o que é social-democracia? Na Rússia, na Revolução de 1917, existiam os bolcheviques que queriam o socialismo pela via violenta e os mencheviques, que queriam pela via democrática. Os primeiros prevaleceram e tomaram o poder pela força e os últimos deram origem a social-democracia. Mas eles queriam a mesma coisa.

O socialismo fracassou em todas as ocasiões em que foi testado. Mas, como disse o Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central), é como o vampiro da meia-noite: ressuscita quando menos se espera, com outras roupagens. Há alguns anos ressurgiu na América Latina travestido de socialismo bolivariano e fez esse estrago no continente.

BBC Brasil – Há uma social-democracia forte na Europa, com relativo sucesso.

Rocha – Muita gente cita os países escandinavos como social-democracia. São países que foram muito prósperos enquanto eram capitalistas, se transformaram em social-democracia e estagnaram. É o capitalismo democrático que gera prosperidade porque liberta o espírito gerador de riqueza natural do ser humano.

BBC Brasil – A crise de 2008 não mostrou que o mercado com muito poder e pouca regulação também pode trazer problemas?

Rocha – Não defendo o Estado inexistente. Defendo o Estado mínimo, com uma atuação na regulação mínima. O mercado é como um cão farejador, que tem um faro mais apurado que o do ser humano. O bom caçador usa isso para encontrar seu caminho, mas não é o cachorro quem manda.

[…]

BBC Brasil – E a corrupção no setor privado? A própria Lava Jato revelou que também há empresários corruptos.

Rocha – Tem empresários e empresários. Não confunda Flávio Rocha, um empresário de mercado que acorda de manhã e calcula como produzir um vestido ao melhor custo para a dona Maria, com o empresário que acorda e se pergunta para quem tem de dar propina para conseguir uma obra pública ou fazer uma plataforma de petróleo superfaturada. São duas coisas diferentes: o empresário de mercado e o empresário de conluio, que é o câncer desse estado hipertrofiado. Um fator de aumento da corrupção do Estado já tão corrompido.

A livre concorrência ajuda a acabar com a corrupção. Por exemplo, se eu tiver na Riachuelo um comprador de gravatas corrupto que tenha feito um acerto com o fornecedor, a gravata será mais cara e a Riachuelo vai perder participação no mercado. Isso não acontece na Petrobras.

BBC Brasil – O senhor defende que papel para o Estado?

Rocha- Um país como o nosso precisa de um Estado de 20% a 25% do PIB. Na última década, 18 pontos percentuais de economia informal se formalizou no Brasil. Isso ajudou a elevar a produtividade desses setores, mas também houve um repasse maior de dinheiro para o setor mais ineficiente do pais – o estatal. Se lá atrás tivéssemos colocado um freio na participação do Estado no PIB e aproveitado essa maior receita para reduzir as alíquotas (de impostos) não tenho dúvidas que a China seria aqui. Estaríamos crescendo.

BBC Brasil – De onde cortar nos gastos públicos?

Rocha – Por exemplo, no meu estado, o Rio Grande do Norte, o grande escândalo agora é que há quase 3 mil funcionários (públicos) fantasmas, com salários que chegam a R$ 60 mil. Isso quebra definitivamente a crença de alguns de que o Estado seria um Robin Hood que pega dos ricos para distribuir aos pobres. É o Robin Hood às avessas. Tira de uma população extremamente pobre, como a do Rio Grande do Norte, para alimentar marajás.

PS do Viomundo: Flávio Rocha é uma piada. Começa que não é possível levar a sério uma pessoa que fala de si mesma em terceira pessoa. Segundo: sem a interferência mínima do Estado com políticas de distribuição de renda, num país de renda extremamente concentrada como o Brasil, o consumidor dos produtos da Riachuelo simplesmente desaparece! Ou ele pretende vender Louis Vuitton? Terceiro: o Estado brasileiro sempre foi eficientíssimo para perpetuar a desigualdade e beneficiar, acima de tudo, gente como o próprio Flávio Rocha. Portanto, ele quer acabar com o “Estado” dos outros, muitos dos quais consumidores de suas lojas! Com este empresariado o Brasil jamais irá além da esquina.

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RIACHUELO TEM QUEDA DE MAIS DE 44% NO LUCRO NO TRIMESTRE

Por Camila Mendonça, Novarejo

A Guararapes, companhia da varejista de moda Riachuelo, reportou uma queda de 44,4% no lucro líquido no terceiro trimestre deste ano, em comparação ao mesmo trimestre do ano passado. Ao todo, a rede acumulou R$ 17,8 milhões de lucro, ante os R$ 32 milhões do trimestre de 2015.

Apesar da queda, a varejista conseguiu vender mais: a receita líquida ficou 5,5% maior, totalizando R$ 1,39 bilhão. As novas lojas ajudaram a aumentar o resultado da empresa, uma vez que as vendas das mesmas lojas – aquelas abertas há mais de um ano – caíram 2,2%.

A empresa encerrou o trimestre com mais lojas: 289 ante as 274 operações do mesmo trimestre do ano passado. “O processo de expansão reflete o objetivo da Riachuelo de conquistar novos mercados e consolidar suas posições regionais por meio da inauguração e remodelação de unidades. Vale lembrar que o período de maturação de uma nova loja é de aproximadamente cinco anos, o que torna tais áreas um elemento relevante na definição do ritmo de crescimento das vendas da Companhia”, destacou a empresa em relatório.

Ao final do terceiro trimestre de 2016, a Riachuelo contava com 49% de sua área de vendas com idade entre um e cinco anos.

Os produtos feitos pela própria empresa, via indústria Guararapes, representaram 31,8% da venda total da Riachuelo neste terceiro trimestre. A estratégia, segundo a empresa, é focar a produção da própria indústria em itens de maior valor agregado.

Ao todo, a Guararapes produziu 10,8 milhões de peças ante 9,7 milhões de itens registrados no mesmo trimestre de 2015. No período, a Guararapes faturou R$ 978,4 milhões para a Riachuelo no período acumulado de janeiro a setembro de 2016, 1,4% a mais que o apurado no mesmo período do ano anterior.

Já a receita da operação financeira da marca totalizou R$ 434 milhões, 10,8% maior que o registrado no mesmo período do ano anterior.

Em relação aos investimentos da companhia, eles somaram R$ 140,9 milhões entre janeiro e setembro – o valor é menos que a metade dos R$ 381,6 milhões investidos no mesmo período do ano passado. Do montante investido neste período, 87% foram destinados à Riachuelo para abertura de novas lojas e centros de distribuição.

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