Gleisi: O ilegítimo Temer é um JK invertido: 20 anos de atraso em apenas dois

gleisi_JKA senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), em sua coluna desta segunda-feira (5), diz que o ilegítimo Michel Temer (PMDB) é uma espécie de Juscelino Kubitschek invertido: “20 anos (de arrocho) em 2”. A colunista também explica a proposta de uma Frente Ampla para defender direitos e disputar 2018. Abaixo, leia, comente e compartilhe a íntegra do texto:

Frente Ampla contra 20 anos (em 2) de arrocho

Gleisi Hoffmann*

Depois de ouvir os primeiros pronunciamentos do presidente usurpador, Michel Temer, me veio à mente uma espécie de “analogia perversa” com um inesquecível e grande personagem da nossa história política: o presidente Juscelino Kubitschek.

Do alto de sua grandeza e capacidade de vislumbrar o florescimento de uma Nação, Juscelino traçou como plataforma de governo um Plano de Metas que incluía, entre outros programas, a implantação de uma indústria de base, com a produção de bens de consumo duráveis e não duráveis; e a interiorização do Brasil, com a criação de Brasília e a abertura de imensas oportunidades. Era o famoso “50 anos em 5”, apresentado ao povo brasileiro durante sua posse, em janeiro de 1956. Esse foi JK.

Na primeira reunião com sua equipe de governo, o outro, o ilegítimo presidente anunciou: “Inauguramos uma nova fase, uma fase com horizonte de 2 anos e 4 meses, que terão uma cobrança muito maior. Que façamos aquilo que temos alardeado, de colocar o Brasil nos trilhos”.

Economia

Quanta desfaçatez! Na verdade, os trilhos em que Temer pretende colocar o Brasil serão os que abrem caminho para o arrocho e a perda de direitos econômicos e sociais de milhões e milhões de cidadãos.

No “plano de metas” do presidente e de seus aliados de última hora destacam-se as preocupantes mudanças na CLT e na aposentadoria. Como já foi intensamente “alardeado”, Temer quer substituir os consagrados preceitos legais das normas trabalhistas, substituindo o legislado pelo negociado. Quer ainda obrigar os brasileiros a trabalharem até não poder mais e ainda acabar com a vinculação da aposentadoria ao salário mínimo, um dos mais espetaculares modelos de distribuição de renda adotado pelos governos do PT.

Temer também prescreveu no seu pacote fiscal de maldades a inacreditável ideia de cortar as despesas da União pelas próximas duas décadas, limitando os gastos do governo à inflação do ano anterior. Será um desastre para as áreas sociais, principalmente a educação e a saúde. O plano golpista simplesmente despreza a necessidade de aumentar os investimentos nesses setores vitais, cuja demanda cresce sem parar diante do aumento da população e retira do Estado um importante instrumento de política econômica: a gestão fiscal. Ou seja, Temer já bradou seu slogan: “20 anos (de arrocho) em 2”.

Acompanhei no Palácio da Alvorada o discurso emocionado da presidenta Dilma Rousseff logo após o Senado ter sacramentado o golpe sem precedentes contra a nossa democracia. Como bem disse a presidenta, esse atentado não foi cometido apenas contra ela e o seu partido. É só o começo. “O golpe é contra os movimentos sociais e sindicais e contra os que lutam por direitos em todas as suas acepções: direito ao trabalho e à proteção de leis trabalhistas; direito a uma aposentadoria justa; direito à moradia e à terra; direito à educação, à saúde e à cultura”, afirmou Dilma.

Nesses mais de oito meses em que pude ver de perto a farsa misógina, conservadora e entreguista que ia sendo montada na Câmara e no Senado para nocautear a primeira mulher eleita presidenta e mudar os rumos do Estado brasileiro, eu e meus companheiros e companheiras dessa luta sem trégua tivemos a certeza de que ali se urdia apenas uma coisa: o achaque à população mais humilde.

Não vamos permitir isso. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já iniciou as articulações para enfrentar o governo usurpador com um novo modelo de oposição. Lula propõe uma Frente Ampla de esquerda que una os partidos políticos, inclusive o PT, em nome de um programa e de candidatos escolhidos por associações, movimentos sociais, intelectuais e artistas. Será uma poderosa plataforma de esquerda para o país em 2018.

E podem contar. Essa Frente Ampla terá como hino de resistência o outro alerta feito pela presidenta Dilma em sua despedida no Alvorada: “Ouçam bem: eles pensam que nos venceram, mas estão enganados. Sei que todos vamos lutar. Haverá contra eles a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer”.

*Gleisi Hoffmann é senadora da República pelo Paraná. Foi ministra-chefe da Casa Civil e diretora financeira da Itaipu Binacional. Escreve no Blog do Esmael às segundas-feiras.

Comments are closed.