Há 62 anos suicidava-se Getúlio Vargas contra o golpe de Estado. A História se repete?

getulio_dilmaO velho Karl Marx, em O 18 Brumário de Luis Bonaparte, ensina que “a História se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Nada mais atual.

No dia 24 de agosto de 1954, portanto há 62 anos, suicidava-se no Catete – antigo palácio presidencial no Rio — o presidente Getúlio Vargas contra os golpistas da época que eram liderados por Carlos Lacerda, UDN, uma espécie de Michel Temer (PMDB) de antanho.

A partir dessa tragédia e comoção, o povo brasileiro acordou para o golpe contra a democracia e tomou o udenismo — derivativo da UDN — como símbolo do “falso moralismo” no combate à corrupção.

A presidente eleita Dilma Rousseff fez analogia ontem (23) à noite, em São Paulo, ao drama vivido por Vargas há seis décadas.

“Não fui obrigada a me suicidar, não fui obrigada a pegar um avião para ir para o Uruguai, porque temos uma democracia que construímos. Minha presença [no Senado] é muito incômoda, extremamente incômoda”, discursou em ato promovido pela Frente Brasil Popular.

De fato Dilma não precisa ir ao extremo contra a própria vida, pois vivemos numa democracia embora jovem de 27 anos. Amanhã (25), ela [a democracia] será submetida a um teste no Senado.

Economia

Em suma: o impeachment é uma farsa.

Para não dizer que a História não se repete, eis a carta-testamento de Getúlio Vargas após o suicídio:

Carta testamento

carta_getulio

Mais uma vez, a forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

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