Direita volver: Maia e Temer representam atraso para a agenda do trabalhador

romanelli_maia_temerO antenado deputado Luiz Claudio Romanelli (PSB), líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná, captou a guinada à direita do interino Michel Temer (PMDB) cuja agenda política prevê, após o impeachment, mais perdas de direitos e revisão (para baixo) do reajuste do salário mínimo, dentre outras pautas bombas.

O colunista também relata que, depois de anos de decadência, o “PCdoB e de parcela do PT” ajudaram ressuscitar o DEM na Câmara. Romanelli observa ainda que o MPF inocentou Dilma Rousseff de crime de responsabilidade e o consequente desprezo da mídia por esta informação.

“… como condenar a presidente Dilma por “crime de responsabilidade”, se o próprio MPF, titular da ação penal, garante que não houve crime?”, questiona o articulista. Abaixo, leia, ouça, comente e compartilhe a íntegra do texto:

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Direita volver

Luiz Claudio Romanelli*

Economia

‘No pasarán’ – lema dos revolucionários da guerra civil espanhola contra o avanço do exército do general Franco

O saudoso e sábio Anibal Khury já dizia: em política até elefante pode voar. Porque na política, mesmo o que parece impossível ou improvável, pode acontecer. Pois na madrugada da última quinta-feira (14), um elefante alçou asas em Brasília e não era o Dumbo do filme de Walt Disney. O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi eleito com 285 votos como novo presidente do legislativo federal. Maia venceu no segundo turno o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), que teve 170 votos. Apenas cinco deputados votaram em branco.

Depois de anos de decadência, eis que o DEM ressurge e assume o comando da Câmara dos Deputados. Com 27 deputados, o Democratas, ex-PFL, soube costurar alianças e derrotou o candidato preferido do
Centrão, com o inusitado apoio de partidos como o PCdoB e de parcela do PT.

De tudo o que li sobre a eleição na Câmara dos Deputados, ressalto a análise de Breno Altman para quem a vitória de Maia representa “a liquefação do campo antigolpista, abrindo caminho para a substituição do centro fisiológico pela direita orgânica no comando do parlamento”.

Para o jornalista, “a vitória de Rodrigo Maia sela uma nova etapa na reorganização das forças conservadoras: com a recondução da direita neoliberal ao núcleo de poder, a agenda do retrocesso tende a ganhar mais credibilidade, vigor e unidade”.

Rodrigo é filho do ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, representa uma direita mais ideológica e em breve colocará na pauta as reformas liberais propostas pelo presidente interino Michel Temer, entre elas
as reformas da Previdência e a Trabalhista.

Também vai dar agilidade a outros projetos, como o 4567/16, do Senado Federal, de autoria de José Serra (PSDB-SP), que retira a obrigatoriedade de atuação da Petrobras como operadora única de todos
os blocos contratados pelo regime de partilha de produção em áreas do pré-sal. Na semana passada, foi aprovado o regime de urgência para a tramitação da proposta.

É certo que também deve acelerar votações como a desvinculação de receitas da União, que representa o fim das despesas obrigatórias para saúde e educação e a revisão do reajuste do salário-mínimo, entre
outras pautas-bomba.

O presidente interino afirmou que não iria interferir na eleição para a presidência da Câmara. Mas houve uma ação nítida do Planalto para implodir a candidatura do peemedebista Marcelo Castro, ex-ministro de Dilma e contrário ao impeachment. A eleição de Maia agradou muito a Michel Temer, que livrou-se de ter Rogério Rosso (PSD-DF), candidato do centrão e ligado ao ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na presidência da Câmara. Agradou também a Aécio Neves e ao PSDB, principais fiadores e articuladores da eleição de Maia. Não foi à toa que a primeira visita do novo presidente da Câmara foi ao senador mineiro.

Já alertei em artigos anteriores para o fato de o governo Temer ter dado uma grande guinada à direita, com propostas e ações que representam um grave retrocesso em políticas públicas inclusivas,
duramente conquistadas pela sociedade depois da promulgação da Constituição de 88. A cada dia fica mais evidente o desmanche de programas de proteção social, a tentativa de criminalização dos
movimentos sociais, as manifestações contra direitos dos trabalhadores, vindos dos setores mais conservadores, com respaldo do governo interino.

O próprio Temer já declarou que tomará “medidas impopulares”. Obviamente, aguarda o impeachment da presidente Dilma para pôr em prática seu programa, que afetará todos os que mais necessitam do Estado.

A votação na Câmara só confirma que Temer está alinhado aos setores mais atrasados da sociedade brasileira.

Como definiu Renato Rovai, editor da Revista Fórum: “o momento não é duro. É duríssimo. Quando há quem se reivindique progressista comemorando a vitória do Demo sobre o Coisa Ruim é porque o fundo do
poço já ficou pra trás faz tempo. Esse é o momento atual”.

Em tempo: o Ministério Público Federal determinou o arquivamento da investigação pedida pelo Tribunal de Contas da União, referente às chamadas “pedaladas fiscais”, diante da inexistência de crime. Os grandes jornalões e a mídia ignoraram solenemente o fato.

Há uma pergunta que não quer calar: como condenar a presidente Dilma por “crime de responsabilidade”, se o próprio MPF, titular da ação penal, garante que não houve crime?

Pax ex Benne! Uma ótima semana a todas e todos.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PSB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas no Blog do Esmael.

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