Coluna do Rafael Greca: “Curitiba, nossa casa, precisa ser reerguida”

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O ex-prefeito de Curitiba, Rafael Greca (PMN), em sua coluna de hoje (1º), critica a despreocupação do prefeito Gustavo Fruet (PDT) com questão das moradias popular. O colunista relata seu périplo pela “Marcha para Jesus” e pelo “Corpus Christi” onde, segundo ele, deparou-se com o descuido da Prefeitura de Curitiba com a área social, com a desintegração do transporte metropolitano: “Fruet e governador Richa, cada qual queria uma catraca só para si”, espezinha. Greca se propõe contra “os efeitos perversos sobre a nossa alma de uma política de más práticas – hoje enredo das operações Zelotes, Lava-Jato, Quadro Negro”. Abaixo, leia, ouça, comente e compartilhe a íntegra do texto:

Curitiba, nossa casa, precisa ser reerguida

Rafael Greca*

Re-cons-tru-ção , já! Esta imagem é inspiradora e fascinante. Na foto de Nani Góis, em 1994 – uma família curitibana remonta no Bairro Novo, sua casa de tábuas e ripas, tirada do lixão da CIC, onde promovemos uma eficiente desocupação. Naquele tempo criei Vilas de Ofício, o Bairro Novo do Sítio Cercado, a Gleba da Ordem e as Moradias Santa Rita do Tatuquara, para abaixar os aluguéis, prevenir e debelar invasões.

Sei que podemos voltar a fazer habitação de interesse social – com aluguel social – no centro abandonado, nos vazios urbanos dos bairros de Curitiba e na região metropolitana. #voltaCuritiba não é olhar o passado, mas sonhar com qualidade de vida e inovação.

Economia

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Andar nas ruas, entre o povo, para colher seus ensinamentos, é exercício de humildade, indicado para desmanchar os efeitos perversos sobre a nossa alma de uma política de más práticas – hoje enredo das operações Zelotes, Lava-Jato, Quadro Negro. A cidade, o Paraná e o Brasil, precisam de seres políticos além do marketing, maiores do que as estratégias dos João Santana da vida. Faço minha parte, procuro exercer minha humanidade em plenitude.

Na semana que passou fui à “Marcha para Jesus” – com os nossos irmãos evangélicos – e à procissão de “Corpus Christi” – da minha Igreja Católica. Como diz um fado português, referindo antigas procissões, as cidades são abençoadas com estas festas cristãs, por que “não há nada mais bonito que estes passeios de Nosso Senhor”.

O primeiro choque de realidade é que muitos devotos – ao invés de Bíblias Sagradas, velas ou rosários – levavam nas mãos “carteiras de trabalho”, empunhadas contra o céu, na esperança votiva de recuperar empregos perdidos. Vi também a mãezinha com a matrícula do FIES da filha universitária, tungada pela manobra federal de reduzir as verbas para aquele programa.

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A senhora de branco, com cabelos brancos, dona Maria do Xapinhal, denuncia que – terceirizados em seus fornecedores e operadores – os Armazéns da Família da nossa Prefeitura de Curitiba, agora vendem arroz bichado, com vermes saltitantes saindo das embalagens.

O pai de família, vendedor ambulante de bebidas, reclama do péssimo atendimento nos postos de saúde, já tendo percebido que Fruet fecha um 24 Horas por temporada, não faz nada lá dentro, reforma alguma, reparo nenhum, apenas ganha tempo para cobrir um inexplicável rombo de contas públicas.

Os jovens cheios de esperança querem a volta da reintegração metropolitana de transportes, já conscientes que o benefício cessou apenas porque prefeito Fruet e governador Richa, cada qual queria uma catraca só para si. Uma última notícia vem de um gari que, de passo pela rua Westphalen – na tarde daquele dia santificado – viu um corpo estendido no chão. Um homem executado num acerto de contas do tráfico de drogas, em pleno dia, no centro de Curitiba, imediações da Rua da Cidadania da Matriz.

Abandonados dos nossos governantes, só mesmo com Deus na frente.

Tanto na “Marcha para Jesus”, como em “Corpus Christi”, a parcela da população que, dispondo do dom da fé, ainda é capaz de ter esperança, me acolheu. Agradeço a Deus poder andar nas ruas, não ter que temer o contato popular, continuar exercendo a boa política do aperto de mão, do olhar nos olhos, do carinho com as pessoas, do abraço fraterno.

Afinal, ex-prefeito e curitibanos, somos todos irmãos por parte desta cidade, nossa Mãe. Enquanto a Palavra de Deus era proclamada, inevitável foi a súplica de que o Altíssimo tenha piedade de nós, não se esqueça do Brasil, aplique sobre nossa brava gente os efeitos de sua santa promessa no Evangelho de Mateus (11:28): “ + Vinde a Mim vós todos que estais cansados e sobrecarregados que Eu vos aliviarei.”

Para quem ama, o tempo não existe

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Tenho aprendido muito na intensa pesquisa preparatória de meu novo livro “ Curitiba, Luz dos Pinhais “ com Estórias e História de nossa amada cidade. O milagre da memória exerce em mim efeitos benéficos, que espero compartilhar com vocês, leitores.

Na imagem acima, postal, manuscrito de 1886, vê-se o começo da atual avenida João Gualberto, quando era Boulevard 2 de Junho, ou começo da Estrada da Graciosa. O nosso Passeio Público tinha então apenas 2 anos. Vê-se o engenho do Comendador Fontana, sua Mansão das Rosas, cujo Portal monumental ainda existe diante de prédios erguidos no local a partir de 1974 quando o casarão foi demolido. E – no lugar do Colégio Estadual – a antiga chácara de Nhá Laura de Macedo, mãe de tia Estela que seria a senhora Pinheiro Lima.

O Passeio Público, antigo charco dos meandros do rio Belém, na altura do Engenho Bittencourt foi nosso primeiro parque urbano.Fruto da intervenção do engenheiro Lazzarini e do refinado Alfredo D’Escragnole – Visconde de Taunay – que então governava o Paraná.

As palmeiras do Passeio, que protagonizam a foto ainda estão lá. A imagem é coberta de manuscrito, de próprio punho, da professora Júlia Wanderley Petrich, colecionadora de fotografias e postais, hoje conservados no Instituto Histórico do Paraná e na nossa Casa da Memória de Curitiba – que criei em 1981..

*Rafael Greca, ex-prefeito de Curitiba, é engenheiro. Escreve às quartas-feiras no Blog do Esmael sobre “Inteligência Urbana”.

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