Bruno Meirinho: Precisamos falar sobre a cultura do estupro

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Bruno Meirinho (PSol), em sua coluna desta sexta (27), anota que há uma cultura do estupro impregnada na sociedade, que despreza a integridade e a autonomia do corpo da mulher, especificamente. Ele cita como exemplo dessa banalização uma entrevista do ator pornô Alexandre Frota, novo conselheiro para a Educação do interino Michel Temer (PMDB), na qual descreveu de “forma engraçada” como estuprou uma mulher. Colunista afirma que não se trata de ser politicamente correto considerar abominável a cultura do estupro, muitas vezes tolerada pelas Globo da vida. “…vejo que a conduta de deputados e senadores sempre se chamaram de “excelência” mesmo quando estão se xingando, me parece um desses apegos ao politicamente correto que poderiam ser abolidos. Xinguem-se com liberdade!”, escreve Meirinho. Abaixo, leia, comente e compartilhe a íntegra do excelente texto:

Precisamos falar sobre a cultura do estupro

Bruno Meirinho*

Nessa semana, ficamos estarrecidos com o episódio de um estupro ocorrido no Rio de Janeiro, no qual 30 homens violentaram uma garota que seria ex-namorada de um deles. A primeira coisa a se dizer é que não se trata de um caso isolado. Inúmeros crimes dessa natureza ocorrem diariamente, revelando a gravidade do distúrbio cultural em nossa sociedade.

Há uma cultura do estupro impregnada na sociedade, que despreza a integridade e a autonomia do corpo da mulher, especificamente. Desde jovens, os homens assimilam por inúmeras fontes comportamentos agressivos contra a mulher, sendo notável a influência da família, da comunidade, dos filmes, da música, da política, de programas de tevê e das novelas nesse resultado.

Economia

Relembro o episódio em que Alexandre Frota, no programa de Danilo Gentili, descreve como se fosse uma história engraçada, o episódio em que teria estuprado uma mulher. Todos riram. Será natural? Em várias situações da vida, a gente ri por educação, da piada do amigo que nem sempre é tão boa. Por generosidade, damos aquele apoio moral. Mas é preciso distinguir o que é só uma piada ruim, e o que é inaceitável, que só alimenta a ignorância. Temos que alertar o contador da história e todos os demais de que aquela situação é um crime, e denunciar sempre.

Recentemente, uma novela da Globo exibiu com naturalidade uma cena de estupro, sem ter qualquer cautela de demonstrar que se tratava de um comportamento abominável. A emissora foi criticada, mas houve quem defendesse a linha do “deixa disso”, acusando os críticos de defenderem com excesso o “politicamente correto”.

O politicamente correto é muitas vezes entendido como algo pejorativo, um apego desmedido a formalidades. Nesse sentido, vejo que a conduta de deputados e senadores sempre se chamaram de “excelência” mesmo quando estão se xingando, me parece um desses apegos ao politicamente correto que poderiam ser abolidos. Xinguem-se com liberdade!

Mas ter o cuidado de não ser racista, machista ou preconceituoso de nenhuma forma jamais pode ser reduzido ao pejorativo politicamente correto. Trata-se na verdade do cuidado de respeitar a todos de forma igual e não disseminar nenhuma espécie de cultura de opressão. Isso é ser humanamente correto, é ser gente.

Estão banalizadas em nossa linguagem diversas expressões racistas e sexistas. Junto com comportamentos violentos, elas formam a cultura degenerada que domina nossa sociedade, que inclui a cultura do estupro. Devemos ser a contra-mola a essa naturalização, atuando nos diversos espaços da nossa vida para erradicar a cultura do estupro. Falar sobre isso na família, na comunidade, criticar quando vermos isso em qualquer lugar e praticar o exemplo.

Dessa forma, talvez um dia possamos ver erradicado esse tipo de comportamento.

*Bruno Meirinho é advogado, foi candidato a prefeito de Curitiba. É o coordenador local da Fundação Lauro Campos, instituição de formação política do PSOL. Ele escreve no Blog do Esmael às sextas-feiras sobre “Luta e Esperança”.

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