Memorial da Resistência debate a relação entre o jogo do bicho e a ditadura

Um debate ocorrido hoje (2) no Memorial da Resistência, na cidade de São Paulo, tratou da aliança entre os donos do ilegal jogo do bicho e os militares durante a ditadura. O evento teve a presença do jurista Walter Maierovitch e dos autores do livro recém-lançado: Dos Porões da Repressão para os Subterrâneos da Contravenção, de autoria de Aloy Jupiara e Chico Otavio.

O livro conta como os agentes da ditadura passaram a atuar no crime organizado, em aliança com os bicheiros, após o desmonte do regime militar no fim dos anos 1970. A obra relata a história de nomes como Capitão Guimarães, agente da repressão, que foi “amaldiçoado” pelo Exército e passou a atuar no jogo do bicho. “Ele levou o conhecimento que tinha para a contravenção, que foi reinventada”, disse o jornalista Chico Otavio.

Outro nome citado no livro, o coronel Paulo Malhães, também torturador, foi entrevistado para o livro, em 2012, em seu sítio na Baixada Fluminense. Chico relata o esforço de reportagem para obter o relato do coronel. “Ele veio muito irritado quando nós batermos lá, dizendo que não tinha se esquecido de como se atira. Percebemos uma mágoa muito grande dele com o Exército, ele reclamava, reivindicava o seu lugar na história”, afirmou Chico Otávio.

O coronel, segundo relato do jornalista, também foi acolhido pelo jogo do bicho e tornou-se líder de uma milícia na Baixada Fluminense até ser assassinado em 2014. Para  Aloy Jupiara, é importante registrar os relatos dessas pessoas que atuaram nos porões da ditadura. “O tempo está passando, essas pessoas estão morrendo. Temos que correr para recontar as histórias, para que elas não se repitam”, disse. “Sempre me preocupei em ouvir o lado das vítimas, das famílias que perderam seus parentes. Mas o grande desafio da reportagem é convencer esses militares que ainda estão vivos a contar o que sabem”, completou Chico Otavio.

Fonte: Agência Brasil

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