Coluna do Luiz Cláudio Romanelli: Porque navegar é preciso

Em sua coluna desta segunda-feira (14), o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli explica os motivos de sua saída do PMDB.
Em sua coluna desta segunda-feira (14), o deputado estadual Luiz Cláudio Romanelli se despede do PMDB após 35 anos de militância. Romanelli faz um histórico do partido no Brasil e no Paraná citando suas principais lideranças. Ele fala da pluralidade do partido que se formou para abrigar a todos que não compactuavam com o regime militar ainda nos ano 60 do século XX. Cita também sua trajetória política dentro do PMDB e nos cargos e mandatos que ocupou. Mas lamenta que a legenda tenha se estagnado, “com grupos em briga permanente, sem perspectiva de conciliação.” Segundo ele, “o partido deixou de ser um espaço em que conviviam em harmonia diferentes correntes de pensamento e de visão do mundo”. Leia, ouça, comente e compartilhe.

“Sei que há léguas a nos separar. Tanto mar, tanto mar.
Sei, também, como é preciso, Navegar, navegar”.
Chico Buarque

Ouça o áudio:

Luiz Cláudio Romanelli*

Há 50 anos, no dia 24 de março de 1966, nascia o Movimento Democrático Brasileiro, reunindo os políticos progressistas oriundos dos partidos políticos extintos pelo Ato Institucional nº 2. Mais do que um partido, era uma frente na luta contra a ditadura e a repressão militar, na defesa dos direitos fundamentais como a liberdade, igualdade e a democracia. Em 1980, por força da reforma partidária, surge o PMDB, partido majoritário da oposição.

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Foi nesse PMDB, símbolo de resistência contra o regime militar, que lutava pela anistia, contra o arbítrio e as violações dos direitos humanos, que me filiei.

Aos vinte e poucos anos, idealista e combativo, fui um dos fundadores do partido no Paraná e tive a honra e o privilégio de conviver com políticos como Euclides Scalco, José Richa, Álvaro Dias, Walter Pecoits, Adhail Sprenger Passos, Goiá Campos, Maurício Fruet, Enéas Faria, Waldyr Pugliesi, Requião e tantos outros homens públicos de caráter e conduta irretocáveis.

Foi nesse PMDB que trabalhei para eleger José Richa governador e Alvaro Dias senador, em 1982, na primeira eleição direta para governadores pós-64. Como na música Tanto Mar, de Chico Buarque: “foi bonita a festa, pá, fiquei contente,ainda guardo renitente um velho cravo para mim”.

Foi nesse PMDB, então um partido guarda-chuva que abrigava liberais, socialistas, comunistas, futuros pedetistas, pefelistas e pepistas, que lutei pelas Diretas Já, no memorável comício de janeiro de 1984- que ajudei a organizar. Naquele PMDB havia políticos da envergadura de Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas, Miguel Arraes, Pedro Simon, José Richa, Fernando Henrique Cardoso, Teotônio Vilela, Tancredo Neves. O PMDB era um partido de todos que acreditavam ser possível construir um Brasil melhor, mais justo e solidário.

Naqueles bons tempos, o PMDB era mais do que um partido político- era uma bandeira de esperança. E cheio de esperança em dias de mais justiça social que fui um dos coordenadores da campanha de Roberto Requião à prefeitura de Curitiba, em 1985. Lutamos juntos por uma Curitiba bela e justa e demos ali os primeiros passos para a redução das desigualdades na capital paranaense.

Trabalhamos para eleger Alvaro Dias governador em 1986 e estivemos juntos nas campanhas ao governo do Estado e ao Senado- uma trajetória de companheirismo, solidariedade e lealdade. Tínhamos os mesmos sonhos, objetivos comuns.

Na Assembleia, de 95 a 99, fiz oposição ao governo Jaime Lerner e fui uma voz solitária, mas firme, contra a implantação do pedágio. O tempo provou que eu estava certo.

No governo do Estado, fui duas vezes presidente da Companhia de Habitação do Paraná nas gestões de Requião e pude desenvolver programas inovadores como o Casa da Família, Casa da Família Rural e o primeiro programa de moradia para famílias indígenas. Na nossa gestão, iniciamos os programas de regularização fundiária e a urbanização da Vila Zumbi do Palmares e do Guarituba.

De volta à Assembleia, fui líder do governo Requião e participei diretamente da criação do plano de cargos e salários para professores e funcionários da rede estadual, da articulação para implementar o salário mínimo regional e da ampliação dos benefícios fiscais para as pequenas empresas, que garantiu empregos em todo o Paraná.

Nesses 35 anos de PMDB tive alegrias e tristezas. Vi grandes lideranças e companheiros se elegerem, contra todas as expectativas. Assisti a derrota dos que queriam a todo custo mudar para que tudo continuasse do mesmo jeito. Vi o país crescer, o povo conquistar justiça e igualdade Mas assisti o partido perder lideranças autênticas por conta das divergências entre grupos que se digladiaram pelo poder. Vi progressivamente o partido perder espaço e credibilidade, por conta de alianças e acordos espúrios. Vi o MDB velho de guerra perder a identidade, elitizar-se.
Do meu PMDB, resta muito pouco ou quase nada. Nacionalmente, o partido democrático, de mudanças, virou um Arenão- clientelista, conservador, golpista.

Aqui no Paraná, o partido se estagnou, com grupos em briga permanente, sem perspectiva de conciliação. O partido deixou de ser um espaço em que conviviam em harmonia diferentes correntes de pensamento e de visão do mundo, com respeito mútuo e diálogo.

Nesses mais de 35 anos de PMDB vi e vivi muita coisa. Aos meus companheiros, só tenho a agradecer pela generosidade, amizade e parceria. Faço política, com paixão, para melhorar a vida das pessoas. É o que continuarei a fazer, agora no PSB – Partido Socialista Brasileiro.

*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado estadual e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.

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