Reinaldo de Almeida César*
E eis que novamente chega, para nós outros que estamos abaixo da linha do Equador, a estação do outono austral.
Não tenho dúvidas em dizer que é também o outono da gestão do governador Beto Richa, cujos acertos e erros serão julgados pela história. E, talvez, pela massa dos eleitores paranaenses em 2018.
É chegado o outono do atual ocupante temporário do Iguaçu, porque de agora em diante, a velocidade do passar dos dias se acelera. É quando a fina areia da ampulheta parece ser ainda mais fina, esvaindo-se com incrível rapidez pelo vértice do artefato de tempo.
De agora até a desincompatibilização do cargo para fins eleitorais, restam apenas e exatos dois anos.
Tire feriados, esticados finais de ano, temporadas de praia em Caiobá, períodos em que despesas já não podem mais ser empenhadas, lapsos de tempo em que o orçamento ainda não foi votado e liberado, prazos licitatórios e de contratação de obras previstos na lei e veja quanto ainda resta de tempo útil para o atual governo. É muito pouco.
Dificilmente o que não foi feito em seis longos anos, será agora feito em míseros dois.
Já, já, faremos o cotejo do que foi executado no Programa PARANÁ SEGURO, programa oficial do governo para o setor.
Nesta despretensiosa análise, estou a assumir a premissa de que Sua Excelência haverá de apresentar seu nome às urnas, em 2018.
Neste ponto, sou lembrado pelos meus sempre indóceis botões que os procedimentos investigativos no STJ, PGR e PF, sobre as operações Publicano e Quadro-Negro, haverão de empurrar o governador para a disputa eleitoral.
Seria um arriscado luxo permanecer sem foro privilegiado, num país que redescobriu o significado deste instituto jurídico.
Não se sabe, porém, se Beto Richa buscará a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal.
Se tiver êxito, na eleição para a Câmara Baixa, adentrará o Plenário Ulysses Guimarães trajando um elegante terno cinza claro, com gravata azul de listras, ambos da caríssima grife Ermenegildo Zegna. Caem-lhe bem, segundo vejo nas fotos e telas.
Se for eleito para o Senado, poderá tomar assento no belíssimo plenário de tons azulados, projetado por Niemeyer, com a abóbada cintilante de Atos Bulcão.
O mesmo plenário em que Beto Richa esteve, quando ainda prefeito de Curitiba e onde foi saudado pelo então Senador Artur Virgilio, que evocou a memória de José Richa, no mesmo momento em que a segurança do Senado barrava o ingresso de Luis Abi, integrante da comitiva, que teve seu acesso impedido por estar trajando calça jeans, camiseta preta de gola V e uma inseparável mala de couro preta.
Se estiver sentado na bancada do Paraná no Senado, Beto Richa será observado o tempo todo pelo busto de Rui Barbosa, jurista e jornalista, emérito defensor das liberdades individuais que, entre outros tantos pensamentos, nos legou o sentimento de que “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”
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Mas, não estou aqui a deitar escrita sobre a eventual eleição de Richa.
O que me importa mesmo é que toma desenfreado ritmo a chegada de Cida Borghetti ao cargo de Governadora do Estado.
Não arrisco dizer, tenho certeza: será uma grande governadora.
Cida Borghetti tem, ao lado das qualidades de liderança e sensibilidade, as virtudes do gosto pela política, sabe ouvir, é ponderada.
Mais que isso, tem vocação para a gestão, interessa-se de verdade pelos assuntos de Estado, jamais revela sinal de enfaro quando algum tema da administração da coisa pública lhe é apresentado.
Digo ainda mais, será candidata muito, mas muito competitiva, na eleição de 2018.
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Na Segurança Pública, as peças começam a se mexer, girando-se a proa do poder para a governadora Cida Borghetti.
Se teremos Hillary Clinton como primeira presidente americana e Cida Borghetti como primeira governadora empossada no Paraná, teremos também a primeira Comandante-Geral da Polícia Militar, que será, com inteira razão de ser, a Coronel Audilene Rosa de Paula Dias Rocha.
Conheci a Coronel Audilene nos meus tempos de SESP, quando ela cumpria seu ofício militar em Maringá. É extremamente competente e muito preparada, sabe exercer comando e liderança, é cativante, sabendo dosar a propensão ao diálogo com muita firmeza no agir.
Será o primeiro grande acerto da governadora.
Alguns especulam que a melhor equação para Cida Borghetti, no setor, seria deslocar o Coronel da reserva – portanto, hoje, em trajes civis – Adilson Castilho para a SESP e o Coronel Tortato, hoje no comando-geral da PM, para a Casa Militar.
Não sei se acontecerá, mas se ocorrer, o governo acertará em cheio.
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Na Polícia Civil, o quadro é mais incerto.
Só não pode ocorrer o que agora se tenta, sem cerimônias, em conversas conspiratórias nas franjas do gabinete do atual governador, que é trocar prematuramente Julio Reis por Francisco Caricatti, no cargo de delegado-geral, aproveitando-se que Reis estaria enfraquecido pela barulhenta queda de Sciarra na Casa Civil.
Caricatti é igualmente competente, contudo, não é hora pra marola.
Deixem chegar 2018. É logo ali.
*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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