Dilma criticada por “privilégio” à Folha

Os jornalistas Paulo Nogueira e Leandro Fortes, expoentes da militância de esquerda, questionam a presidente Dilma Rousseff pelo artigo publicado no dia 1º, saudando a chegada de 2016, com antecedência no jornal Folha de S. Paulo em detrimento da mídia livre e digital; "a nossa querida presidenta não aprendeu nada", lamentou Fortes; mesmo raciocínio fez Nogueira, ao lembrar que o ex-presidente Lula dava entrevistas a blogueiros para fazer o contraponto à velha mídia; abaixo, leia a íntegra das considerações dos ativistas.
Os jornalistas Paulo Nogueira e Leandro Fortes, expoentes da militância de esquerda, questionam a presidente Dilma Rousseff pelo artigo publicado no dia 1º, saudando a chegada de 2016, com antecedência no jornal Folha de S. Paulo em detrimento da mídia livre e digital; “a nossa querida presidenta não aprendeu nada”, lamentou Fortes; mesmo raciocínio fez Nogueira, ao lembrar que o ex-presidente Lula dava entrevistas a blogueiros para fazer o contraponto à velha mídia; abaixo, leia a íntegra das considerações dos ativistas.

O jornalista Leandro Fortes, ativista digital de esquerda, abriu o pelotão de críticas à presidente Dilma Rousseff, que escolheu ontem (1º) o jornal Folha de S. Paulo para saudar os brasileiros com a vinda de 2016 (clique aqui).

“Ou seja, a nossa querida presidenta não aprendeu nada”, concluiu Fortes, antes, porém, ele enumerou os motivos que  Dilma tinha para não “privilegiar” os Frias — a família dona do grupo de mídia.

“A mesma Folha que, há três meses, fez um editorial intitulado ‘Última chance’, no qual exigia a saída dela, de forma desrespeitosa e degradante”, pontuou.

O jornalista Paulo Nogueira, do Diário Centro do Mundo, também contestou o artigo de Dilma na Folha. “Lula deu também entrevistas coletivas não a jornalistas da Folha, Globo, Veja – mas a blogueiros”, demarcou.

“Em situações normais, a relação entre figuras públicas e a imprensa segue outro caminho, mais cordial. Mas estamos brutalmente distantes de uma situação normal”, anotou Nogueira.

A seguir, leia a íntegra das considerações dos jornalistas:

Economia

AOS FRIAS, COM CARINHO

por Leandro Fortes

O artigo da presidenta Dilma Rousseff com desejos de um feliz 2016 a todos brasileiros e brasileiras foi, primeiro, publicado na Folha de S.Paulo.

A mesma Folha que, há três meses, fez um editorial intitulado “Última chance”, no qual exigia a saída dela, de forma desrespeitosa e degradante.

A mesma Folha da ficha falsa, da campanha eleitoral de 2010.

Sem falar no fato de que, até o Blog do Planalto ser autorizado a reproduzir o artigo, às 13h39 do dia 1º, somente os assinantes da Folha (em sua maioria, partidários do impeachment) puderam ler o texto – a tempo de ridicularizá-lo nas redes.

Tiveram a primeira manhã inteira de 2016 para isso.

Redes que Dilma poderia ter usado para, democrática e gratuitamente, publicar o texto para todos os brasileiros e brasileiras.

Sobretudo para aqueles que enfrentaram a Folha de S.Paulo, entre outras cidadelas do golpe, para mantê-la no cargo, em 2015.

Ou seja, a nossa querida presidenta não aprendeu nada.

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A polêmica em torno do artigo que Dilma escreveu para a Folha

por Paulo Nogueira

A primeira treta de 2016 já está no ar. No centro está um artigo que Dilma escreveu para a Folha a propósito do Ano Novo.

A questão é: Dilma apanhou tanto da Folha, e é assim que ela responde?

Para mim, trata-se de um modelo mental obsoleto. Dilma enxerga a mídia ao velho modo – jornais e revistas impressos, rádios e televisão.

A internet, nesta ótica, é uma coisa exótica e para poucos.

Os que defendem o artigo na Folha usam também, essencialmente, o mesmo modelo mental obsoleto.

Eles dizem que é uma maneira de Dilma se comunicar com analfabetos políticos, ou reacionários, ou, como muitos definem, “coxinhas”.

Não é um bom argumento.

Quantas pessoas leem a Folha? Destas, quantos lerão Dilma? E quantos se deixarão convencer por qualquercoisa que venha dela? Faça um exercício: leia os comentários no site sobre o texto. Do ponto de vista da simbologia, além de tudo, a mensagem não poderia ser pior: fraqueza e pusilanimidade diante do inimigo.

Dilma não se ajuda com o artigo na Folha. Ajuda, com certeza, a Folha, em seu marketing cínico de pluralidade.

É por esta mesma lógica que os dois governos do PT veem enfiando bilhões de reais, ano após ano, em empresas jornalísticas dedicadas a destruí-los.

Não é fácil para ninguém se libertar de velhos modelos mentais.

No PT, um raro exemplo de libertação veio de Lula. Em 2015, Lula passou a tratar a mídia como ela o trata. Ou quase, uma vez que Lula não é inescrupuloso como os donos das corporações jornalísticas.

Mas ele disse um claro basta depois de apanhar calado durante tanto tempo.

Deixou de dar entrevistas, por exemplo, aos jornais. A internet permite a ele dizer o que quer do modo que quer. Em seu Instituto Lula ele coloca suas opiniões com frequência.

Elas acabam repercutindo na mídia tradicional, nas redes sociais e nos sites progressistas.

Lula encontrou seu jeito, na Era Digital, de se comunicar. Descobriu que não tem que se ajoelhar e pedir espaço para jornais e revistas que o abominam.

Lula deu também entrevistas coletivas não a jornalistas da Folha, Globo, Veja – mas a blogueiros.

É um bom hábito que ele deveria manter em 2016.

Igualmente neste caso, a mídia tradicional acabou cobrindo, indiretamente, Lula.

Em sua reinvenção no trato da mídia, Lula deu outro grande passo. Deixou de ser passivo diante de calúnias e acusações sem fundamento. Passou a dar seu lado prontamente via instituto e, em muitos casos, acionou a Justiça.

Hoje, quem quiser acusar Lula das costumeiras barbaridades vai pensar duas vezes, ou três. Ainda que a Justiça seja de um modo geral favorável à mídia e desfavorável a Lula, ser processado dá trabalho e custa dinheiro.

Em situações normais, a relação entre figuras públicas e a imprensa segue outro caminho, mais cordial. Mas estamos brutalmente distantes de uma situação normal.

Lula se deu conta disso.

Dilma não.

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