Coluna do Rafael Greca: 2016, Ano Novo ou tudo de novo?

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Em sua coluna desta quarta-feira, Rafael Greca (PMN) faz uma retrospectiva dos fatos negativos ocorridos em Curitiba em 2015. Começando com a desintegração do transporte público, passando pelo massacre de 29 de abril, e chagando ao fechamento de berçários pela prefeitura. Greca aponta o momento de crise como propício para renovação através da consciência política. Leia, ouça, comente e compartilhe.

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Rafael Greca*

Proponho aos curitibanos como resolução de Ano Novo seguir a lição das Araucárias, as árvores cujas sementes dão nome a cidade de Curitiba, “muito pinhão” em tupi.

Poucos sabem que os pinhões que frutificarão no próximo ano, a partir de abril, começaram a se formar há três anos, gestados nas ramas altas das araucárias. Assim também é o processo de Consciência política.

Cada geração carrega consigo a experiência, as alegrias e as dores da geração anterior. Cada ano precisamos aprender com as lições – mesmo as mais amargas – do ano que passou.

E assim também acontece com as eleições. Cada eleição se faz com a Consciência, ou a Inconsciência, da última eleição. É imperioso cultivarmos a boa Consciência, o senso de Justiça.

Economia

Curitiba é a capital da Operação Lava Jato, que espantou o Brasil este ano, derrubando os poderosos de seus tronos, colocando no presídio de Pinhais, empresários e políticos, notórios corruptos — ainda que não todos.

2015 foi um ano duro e difícil. Em Curitiba, 2015 começou com a desintegração da RIT, Rede Integrada de Transporte Metropolitano, desmanche da obra urbanística que permitia às pessoas irem e virem, entre a capital e a Região Metropolitana, pagando uma só passagem em múltiplos trajetos.

Espantou, em véspera de Carnaval, com os Deputados Estaduais, pró Beto Richa, seguindo para votação em camburão policial, sob vexaminosa vaia da multidão de funcionários públicos tungados.

2015 prosseguiu com o fechamento da FAS-SOS, o espaço da Prefeitura para resgate social, Socorro aos Necessitados, na rua Conselheiro Laurindo.

Fato que promoveu a caótica situação de 4 mil moradores de rua, pernoitando dentro das estações tubo, sob marquises, ou abandonados na umidade das calçadas desta chuvosa Curitiba.

Explodiu, a 29 de abril, com inédito bombardeio aéreo do Centro Cívico Curitiba, estrepolia inaceitável. Nem na sangrenta Revolução Federalista de 1894 nossa Cidade havia sido tão desrespeitada e vilependiada. Episódio arrematado pelas cenas dos professores espancados, cenas que já conhecíamos no passado é que jamais deveriam ter se repetido na história do Paraná, cenas que rodaram o mundo via internet.

No âmbito político, em 2015, as manifestações de apoio à Lava Jato sucederam-se lotando o centro da cidade de multidões vestidas de verde e amarelo, almas imersas em decepção política e justa indignação cívica.

O ano,tão avaro em boas notícias quanto pródigo em carestia, arrastou-se com os sucessivos adiamentos da licitação do Metrô de Curitiba, finalmente enterrado no infortúnio dos aliados petistas do prefeito Gustavo Fruet no Governo Federal.

As mãos algemadas do deputado André Vargas já não podem cavar polpudas verbas em escaninhos ministeriais.

Voltaram as enchentes — algumas catastróficas — a insegurança pública chegou a níveis aterrorizantes, a programação cultural minguou, o comércio e a indústria retraíram-se.

Fábricas da CIC reduziram empregos, deram férias coletivas, ou encerraram suas atividades – anunciando mudança de setores inteiros para outros continentes. A Bosch, por exemplo, levou boa parte da fabricação de seus motores para a Índia.

No final do ano, a Prefeitura anunciou o fechamento dos berçários municipais em 23 bairros de Curitiba. Apenas os ratos da praça Tiradentes continuaram a ter o direito de crescer e multiplicar-se. Seu berçário assegurado, ao som dos sinos da Catedral, num centro histórico sujo e deteriorado, cracolândia em expansão.

Por fim, foram acomodadas as relações do senhor Prefeito com os concessionários de Transporte Coletivo; assim como o contrato da Prefeitura com o ICI foi prorrogado — mesmo que o Tribunal de Contas tenha nele enxergado 500 irregularidades. Coisa pouca, como a Prefeitura pagar para ter acesso aos Códigos Fonte de Lançamento de Impostos Municipais.

Aliás, o IPTU subiu para acima da inflação, em até 25%. Novas taxas municipais foram criadas. Mas, mesmo com os radares da Zona Calma do centro multando a todo vapor, a vida da Urbs/Setran continuou nervosa. Seus 1500 funcionários, mobilizados nas ruas, dia 23 de dezembro, se ressentem de terem recebido apenas 25% do salário que ainda lhes é devido.

Ao longo de 2015, proliferaram autorizações para derrubada de árvores, de magnólias a araucárias.
Alguém precisa tomar consciência de que nos tornaremos superficiais se reduzirmos Curitiba e seu Urbanismo a uma crosta edificada em pedra e cimento. Quem derruba árvores é superficial. Não compreende estes seres com raízes profundas e que apontam para o Céu.

Entre as pragas de 2015, ano em que o Congresso Nacional somou às suas incapacidades o fracasso de uma verdadeira reforma política, persiste a devoção da mídia brasileira às pesquisas de opinião.

Muitos insistem no velho jogo de menosprezar a inteligência do povo, convocando políticos dóceis e meigos aos interesses mais excusos, cacifando-os em pretensas pesquisas, que são meras peças de propaganda política.

Eu, quaisquer que sejam os resultados das pesquisas de sucessão à atual Prefeitura, persistirei.

Não me movo pela vontade de poder, isso é um dos nome da comédia humana, mas pela vocação de servir.

Move-me uma Consciência madura, que nasceu no exercício do poder, fazendo direito o ofício de Prefeito.

Consciência iluminada pelas últimas eleições, somada às percepções do desdobramento da Lava Jato e das manifestações populares — alentada pelo dever de defender nossa Curitiba do marasmo administrativo em que fomos mergulhados.

Estou agora num partido novo, o PMN, onde procuramos criar um programa inovador. Alternativas de eficiente serviço público a serem oferecidas à nossa terra e à nossa gente. Inovação é a palavra de ordem.

jano

Os antigos romanos tinham um protetor para a virada de ano, Jano, o bifronte, deus de Janeiro, olhando para trás e para frente, protegendo as pessoas que ficavam no mesmo lugar.

No mundo moderno mudaram os conceitos de Tempo e Espaço. Estamos aqui, mas — pelo celular, ipad, tablet, pc., redes sociais, internet, TV, — plugados pelos satélites ao Céu, também estamos no Cosmos.

As distâncias acabaram. As diversidades culturais antes relacionadas com uma ideia de longitude,hoje são próximas. A vizinhança moderna tem dois domicílios: onde se vive e o sítio telemático (o site).

Por isso, eu que já trouxe a internet para os Faróis do Saber de Curitiba, em 1993, quando poucos sabiam do que a rede mundial se tratava, agora quero edificar uma nova Cidade.

A Curitiba do século 21 – que está demorando a chegar – precisa ter sua periferia valorizada somada à um convívio “glocal”. O que é isso: a troca de ideias, direitos e deveres, a nível local e globalizado.

Se quisermos um ano novo para nossa Cidade, precisamos criar um presente inovador para nosso passado.

Você decide se, em 2016, ajuda a criar um Ano Novo, ou elege tudo de novo.

Eu persistirei dizendo: Curitiba, sim. Curitiba, sempre.

*Rafael Greca, ex-prefeito de Curitiba, é engenheiro. Escreve às quartas-feiras no Blog do Esmael sobre “Inteligência Urbana”.

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