Coluna do Rafael Greca: De água parada só se espera o veneno

alagamento
Em sua coluna desta quarta-feira, Rafael Greca fala das fortes chuvas que vem se abatendo sobre Curitiba e dos alagamentos resultantes. Segundo Greca, esses problemas são resultado da má administração que não faz a manutenção mínima, que é a limpeza das galerias pluviais da cidade. Além disso a violência se alastra e governo do Estado quer fechar escolas tradicionais, históricas, que fazem parte da tradição da cidade. Leia, ouça, comente e compartilhe. 

Rafael Greca*

Tenho pensado em trocar o nome desta coluna para “Desinteligência Urbana”. Quase tudo que vemos na atual Curitiba são erros de urbanismo somados a erros de administração.

Erros por cima de erros, que a atual prefeitura tenta esconder através um marketing governamental inútil, debochado, mentiroso e dispendioso para os contribuintes. Marketing este tripudiado, na semana que passou, pela prefeitura de São Paulo, para vergonha nossa.

Enquanto tenta tapar o sol, de suas más apostas políticas, com a peneira, o prefeito Gustavo Fruet (PDT) permanece imóvel. Infrutífero,em sua privilegiada zona de conforto, assistindo como rei de camarote,a deterioração da nossa Cidade de Curitiba, sem esboçar reação em favor dos contribuintes.

Autoridade vem de “augere”, do latim, agir. De um prefeito exige-se ação.

Na última quinta, 22 de outubro, uma chuva de 53 mm quase nocauteou Curitiba. Foram poucas as ruas que não alagaram devido os bueiros entupidos. As construtoras estão livres para amontoar areia, cimento e brita sobre os passeios, em cima dos drenos, ajudando o seu entupimento. Falta ação fiscalizadora.

Economia

As velhas galerias estão entulhadas de lixo, e até por cobertores e pertences dos moradores de rua, quando não são suas próprias “moradias”. Falta ação social. Não existe uma política de drenagem e saneamento.

Se tivéssemos implantado os drenos acumuladores de vazão, os bueiros 5 x 1, nos pontos críticos de cheia, uma proposta concreta que fiz na campanha de 2012, Curitiba não teria passado por mais este apuro.

“De água parada só se espera o veneno”, diria William Blake. Por isso, os ratos saem da toca, como aconteceu no CMEI do Ganchinho, creche fechada pelo sindicato por insalubridade e ameaça de leptospirose.

Desde quando creches em Curitiba deixaram de ser endereços saudáveis? Culpa da crise? Tudo é culpa de Brasília agora?

Enquanto ratos vazam nas creches, outro tipo de ratazana invade o outrora seguro transporte coletivo de Curitiba.

Nos últimos dias, três ocorrências graves. A primeira, no último domingo, 25, na boca da noite; um arrastão no Terminal do Portão assaltou os curitibanos que lá estavam.

A segunda, ontem, no final da manhã, na estação-tubo onde a rua Westphalem encontra a André de Barros, um jovem curitibano foi espancado até cair no chão, por dois marginais que pretendiam roubar-lhe o celular.

A terceira, um bandido de arma niquelada se apossa de estações-tubo, no Boqueirão e no Cajuru, respectivamente, nas ruas Antonio de Paula e Catulo da Paixão Cearense.

O vídeo bomba na internet, nenhuma autoridade manifesta-se, restando a indignação do PM ou GM que, ao analisar as imagens, jurou pegar o malfeitor.

Policiar é civilizar. E desconheço outra forma mais eficiente de civilizar do que através de uma escola.

Pois bem, engrossando o caldo deste pacto contra a civilização, eis que o governador Beto Richa anuncia o fechamento de nove escolas estaduais em Curitiba.

Na lista deste fatídico corte – que será devidamente repudiado por nós e por muitos – está um colégio de 106 anos e outro de 87 anos: o centenário Xavier da Silva (desde 1903 no bairro Rebouças) e o Dom Pedro II (desde 1928, no Seminário).

Também ameaçados de extinção, os colégios estaduais Professor Cleto (na Visconde de Nacar), Pio Lanteri, (no Uberaba); Nossa Senhora de Fátima (no Tarumã), Dom Orione (no bairro de Santa Quitéria).

Sem falar no Colégio Tiradentes, na praça 19 de Dezembro, onde lecionaram as lendárias professoras Elmira Greca, Nair Macedo e Maria Elvira Fraxino, de gloriosa memória.

Por estas e por outras, a sociedade está inquieta, prestes a explodir em dias de fúria. Este é um tempo em que até a Esperança sente Medo.

Assim como nunca se abriu um colégio pensando em fazer economia, jamais um colégio deve ser fechado por motivos de economia. Fechar escolas é burrice ao quadrado. Implica em multiplicar penitenciárias e necrotérios.

A decisão afeta Curitiba. E a Prefeitura, conivente pelo silêncio, sequer pergunta se os prédios escolares abandonados, dois deles verdadeiros monumentos históricos, vão virar cracolândia ou servirão à especulação imobiliária?

Os desmandos do Beto Richa e o festival de descasos & desculpas do Fruet levam a afirmar, sem medo de errar, que o mal nunca começa pelo povo.

O mal, minha amiga, meu amigo, começa sempre pelos que estão por cima; começa pelos que tentam continuar poderosos usando de artimanhas e fazendo os diabos para continuar no poder.

Para um governador que nada construiu, resta apenas a desconstrução.

Para um prefeito que não decolou, resta apenas se afogar nas mágoas da própria contradição.

Um prefeito tem que ser um coerenciador. Cadê a coerência de Fruet?

Estou até pensando em marcar um encontro com os dois Fruets.

Um encontro entre o Fruet que brilhou no Mensalão com o Fruet que se queimou no Petrolão.

Na inauguração de uma nova decoração de um abrigo para 16 meninas, obra feita pela iniciativa privada, destaque-se, Fruet esboçou um descolamento impossível do seu vexame com o PT. Disse, com a vice prefeita petista ao seu lado, “não existe nenhum parente meu na Lava-Jato.”

Que deselegante pisar no pescoço dos antigos companheiros. Depois de tentar tapar o sol com a peneira, agora tenta cuspir no prato que comeu. Para completar a piada, falta mascar chiclete comendo banana ou assobiar chupando cana.

Fruet não tem como negar que deitou no colo do PT para ser eleito prefeito de Curitiba pela força da grana. As fotos dele na última campanha valem mais do que mil palavras: Fruet de rostinho colado com Gleisi. Fruet em conversinhas de pé do ouvido com Paulo Bernardo. Fruet levantando os punhos ainda não algemados do André Vargas. Fruet sorrindo para Lula e Dilma, prometendo-nos o buraco do metrô. São Fotos & Fatos.

Agora não adianta negar o pacto infeliz feito para conquistar o poder. A vida sempre cobra a conta.

Fruet gastou R$ 6.176.440,16 oficialmente. De onde veio tanto dinheiro? Reflita.

Quando a gente erra, confessa o erro. Quando descobrimos um erro a tempo, temos tempo para consertá-lo. Quando tentamos esconder a coisa errada, o erro reproduz muitos outros erros. Errar é humano, esconder o erro não.

A consciência é o serrote com o qual podemos serrar o nariz do Pinóquio. Felizmente, parece, estamos no tempo do pega-na-mentira. Não adianta tentar mentir. A consciência é um item em crescimento no Brasil. Lava-Jato e Operação Publicano que o digam.

A prefeitura não deve ser um esconderijo de gente errada, de desculpeiros, de egotistas, de gente sem espírito público.

Poder o povo dá, poder o povo tira. Só o povo é o poder. Como diria o saudoso vereador Horácio Rodrigues: “já terminou mais uma administração que não revelou nenhum talento.

*Rafael Greca, ex-prefeito de Curitiba, é engenheiro. Escreve às quartas-feiras no Blog do Esmael sobre “Inteligência Urbana”.

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