Coluna do Enio Verri: Preconceito, ódio e indignação seletiva

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O deputado federal Enio Verri (PT) fala em sua coluna desta terça-feira sobre ódio, preconceito e indignação seletiva de parcelas da sociedade que condenam a corrupção, mas ficaram revoltados com o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Leia, ouça, comente e compartilhe!

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Enio Verri*

“Bandido bom é bandido morto”, “todo político é ladrão”, “eu não tenho preconceito, a minha empregada até dorme em casa”. Esses, entre outros jargões, não só reproduzem toda uma discriminação social, como ainda, reforçam todo um ódio de classe e indignação seletiva esbravejadas pelas redes sociais.

O ódio seletivo, em boa parte, está atrelado a indivíduos que pedem a cabeça de infratores, porém, que não se incomodam com os abusos cometidos pelos seus filhos com servidores de seu condomínio. Os mesmos exigem o fim da corrupção, mas defendem abertamente a sonegação de impostos ou a manutenção do sistema privado de campanha.

É nesse sentido, e sob uma justificativa no mínimo ambígua, que uma elite política, midiática e financeira se opõe a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de acabar com o financiamento empresarial de campanha, após mais de um ano de julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4650.

Ao entender o fim do financiamento como motivador do Caixa Dois, essa elite não somente banaliza os anseios da população e a capacidade de fiscalização do Estado, como também, sinaliza para a naturalização de uma ilicitude que afeta diretamente a administração pública.

Economia

A inconstitucionalidade do financiamento empresarial, ao contrário do que uma minoria formada por indivíduos reprodutores da indignação seletiva acredita, não incentiva o Caixa Dois. Potencializa a transparência quanto aos gastos eleitorais, promovendo o acompanhamento e a punição daqueles que abusarem de recursos não declarados e que ferirem a lei para se elegerem.

Enfraquece, ainda, os eventuais acordos e laços obscuros que possam ocorrer entre financiadores e financiados, evitando possíveis ilegalidades ou decisões políticas que beneficiem determinados doadores de campanha em vez de toda uma população ou setor da sociedade.

Na essência, o fim do financiamento empresarial representa um grande abalo aos parlamentares ou possíveis competidores que se elegem ou se popularizam pelos expressivos recursos monetários, sem efetivamente se colocar como um representante de um setor da sociedade ou até mesmo um conglomerado regional.

Trata-se, assim, de uma vitória jurídica que amplia a participação de representantes de grupos minoritários, maior fiscalização de campanha e equalização mais adequada de vozes entre competidores e, consequentemente, dos parlamentares eleitos.

*Enio Verri é deputado federal, presidente do PT do Paraná e professor licenciado do departamento de Economia da Universidade Estadual do Paraná. Escreve nas terças sobre poder e socialismo.

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