O estado do Paraná, infelizmente para o povo que aqui vive, é um dos mais conservadores e reacionários do país. Os paranaenses são governados há séculos pelas mesmas famílias, que, com suas relações de parentesco, dominam o aparelho estatal, nos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, passando por outro importante instrumento de poder e renda, os cartórios.
O exemplo está no governo do Estado que, após a redemocratização de 1982, nas nove eleições seguintes teve apenas cinco governadores, os quais pertenciam a apenas quatro famílias: José Richa, que governou de 1983 a 1986, e o seu filho Beto Richa, que deverá ficar até 2018; Álvaro Dias, de 1987 a 1990; Roberto Requião, no período de 12 anos, e Jaime Lerner, outros oito anos. Os vice-governadores que assumiram não contam.
E o que é pior todos, com exceção de Jaime Lerner, deixaram sucessores. E a impressão que se tem é que o herdeiro político nem sempre demonstra a mesma competência e liderança política e administrativa do seu ancestral.
É o caso do governador Beto Richa, que em todas as campanhas eleitorais lembrou ao eleitorado, à exaustão, o nome do pai. Ele conseguiu em um mandato arruinar as finanças do Estado e o bom nome de José Richa. Para não quebrar definitivamente o Paraná, Beto Richa promoveu o maior de todos os arrochos fiscais da história, aumentando tributos de mais de 90 mil produtos, além do IPVA em 40% e se apropriando do fundo de aposentadoria dos servidores.
Já há mais de 20 anos o Núcleo de Estudos Paranaenses (NEP), liderado pelo sociólogo Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, tem estudado as relações de parentesco, o nepotismo e o comportamento da classe dominante do Paraná desde o período colonial. Inúmeras teses de doutorado e dissertações de mestrado têm sido produzidas neste período, começando com a clássica O Silêncio dos Vencedores, do próprio Oliveira.
Agora o NEP está lançando a obra “Estado, Classe Dominante e Parentesco no Paraná”, em 12 artigos científicos, fruto destes estudos, em que analisa desde a Câmara de Municipal de Curitiba, passando pela Assembleia Legislativa e pelo Congresso Nacional, até o futebol, chegando ao atual nepotismo estrutural paranaense em 2015.
A mim coube identificar as famílias que estiveram na Câmara de Curitiba nestes últimos 70 anos, 16 legislaturas. Encontrei atualmente quatro famílias, dos 22 grupos familiares que ocuparam ou ocupam o legislativo curitibano.
Foram identificados, de 298 vereadores, 52 que, por grau de parentesco, formaram os diversos grupos familiares (pai, mãe, filho, irmão, primo, marido, esposa e etc), ou 17,80 % da edilidade possuía laços familiares. A conclusão que se chega é que o aparelho de estado, no Paraná, é um patrimônio de família. Pode até mudar, mas sempre são os mesmos.
*Jorge Bernardi, vereador de Curitiba pelo PDT, é advogado e jornalista. Mestre e doutorando em gestão urbana, ele escreve aos sábados no Blog do Esmael.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.