Alvaro Dias*
A disposição anunciada pelo governo de reduzir o número de ministérios é positiva, desde que a intenção se transforme realmente em ação. A medida não pode ser apenas cortina de fumaça para tentar disfarçar a crise.
É praticamente impossível administrar uma esplanada com 39 ministérios, além de centenas de órgãos auxiliares e empresas públicas. Diante de um desgoverno como esse, o País precisa urgentemente de uma grande reforma administrativa que corte, de cima a baixo, a gigantesca estrutura de ministérios e estruturas paralelas, que estabelecem uma superposição de ações e aumentam os gastos do erário.
O anúncio do governo chega com muito atraso e em meio à perda de credibilidade e popularidade da presidente da República. E como uma reforma administrativa profunda depende de apoio político no Congresso para se concretizar, o governo vai precisar primeiro derrotar o monstro que criou e do qual é refém: o balcão de negócios.
Em busca de apoio político, o Estado brasileiro foi sendo aparelhado nos últimos anos. Criou-se uma estrutura agigantada e incompetente. Os apaniguados, sem qualificação técnica, dominaram os órgãos administrativos e puxaram para baixo a qualidade da gestão pública.
O governo montou esse balcão de negócios para garantir apoio fisiológico. Cargos vêm sendo usados como moeda de troca para garantir a aprovação de projetos no Congresso, mas com a popularidade da presidente em queda livre, esse apoio tornou-se insuficiente.
Nós da oposição já denunciamos no plenário, diversas vezes e por vários anos, o gigantismo da máquina pública e cobramos o corte das despesas correntes. Mas o governo não nos ouviu e precisou chegar ao fundo do poço para acenar com a disposição de cortar na própria carne
Esperamos que o corte na estrutura da administração pública seja para valer, e não apenas em ministérios que, na prática, não existem. Aquelas secretarias desnecessárias que foram criadas para alimentar o apetite por cargos.
A reforma administrativa foi anunciada para tentar recuperar politicamente o governo, mas a dinâmica palaciana tem mostrado que o governo é especialista em anunciar, mas péssimo em executar. Se dessa vez a execução do corte de ministérios for uma lástima, o governo terá perdido seu tempo mais uma vez.
*Alvaro Dias é senador pelo PSDB e líder da Oposição no Senado Federal. Ele escreve nas quartas-feiras para o Blog do Esmael sobre “Ética na Política”.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.