RPC/Gazeta do Povo volta a atacar professores e defender governo Richa

ediitorial_alepO jornal Gazeta do Povo, carro-chefe do grupo de comunicação RPC, em editorial, atacou nesta quinta-feira (18) os professores que almejam reajuste de 8,17% na data-base. O veículo defende abertamente a proposta do governador Beto Richa (PSDB) de reposição de apenas 3,45% e classifica como “oportunistas” aqueles que defendem o cumprimento da lei.

O editorial também saiu em defesa da dupla infernal Luiz Claudio Romanelli (PMDB), líder do governo na Assembleia, e o presidente da Casa e do PSDB do Paraná, Ademar Traiano, dando-lhes razão no embate contra os educadores e a diminuta bancada de oposição.

Ao tomarem conhecimento do antológico editorial, parlamentares oposicionistas ironizaram: “O Romanelli levou os donos da Gazeta/RPC para dar uma voltinha na ‘charrete’ do Traiano”; eles se referiram ao automóvel avaliado em 700 paus que o presidente da Assembleia bateu no último sábado, em Curitiba, enquanto fiscalizava professores repondo aulas.

Como era de esperar, a Gazeta do Povo lamenta o jogo democrático na Assembleia onde a minoria utiliza de táticas próprias do parlamento para alongar o debate. Na verdade, os donos do jornalão já sentem saudades do tratoraço naquela Casa, ou seja, da aprovação de projetos sem muita participação popular.

A Gazeta do Povo apresenta-se mais realista que o rei ao atacar os professores que suspenderam a greve e voltaram às aulas em respeito aos alunos e à sociedade. Portanto, fique claro, é falso o argumento de que o reajuste de 3,45% satisfez a categoria após um “acordo” com a oposição. Pelo contrário, ampliou as feridas provocadas no dia 29 de abril.

O deputado Requião Filho (PMDB), vice-líder da oposição, rechaça a existência de acordo com o governo. Pelo Twitter, ele desmentiu o jornal: “Editorial da Gazeta deve ter sido escrito em alguma sala governista da Assembleia. Traz informações truncadas. Oposição não faz acordo com governo”.

Economia

Os donos da Gazeta do Povo sabem que o cobertor – não aquele da Fernanda – é curto; se o dinheiro for para o pagamento de reajuste para professores e servidores públicos faltará para a propaganda do governo do estado.

A pancadaria da RPC/Gazeta contra os educadores teve início na metade de maio, coincidindo com a liberação de verbas para a propaganda de Beto Richa. No começo deste mês, o jornalão voltou à carga contra os profissionais do magistério dizendo que os professores tinham conseguido mais que as finanças do estado suportariam

Insuportável é a corrupção no governo Beto Richa.

Leia a íntegra do editorial da Gazeta do Povo:

O custo do oportunismo

O Paraná inteiro sabe o quanto custou o acordo para se votar o projeto de lei que concederia aumento de 3,45% aos servidores públicos do estado. O reajuste acertado deveria ser o capítulo final de uma novela iniciada no começo do ano e que envolve o esforço fiscal do estado para colocar em ordem suas contas, a greve dos professores e de várias outras categorias de servidores, a invasão do plenário da Assembleia Legislativa para impedir a votação de um projeto sobre a Paranaprevidência, e o tristíssimo episódio de 29 de abril, em que confronto entre polícia e professores deixou mais de 200 feridos. O estado inteiro – não apenas os servidores, mas também aqueles que deles dependem, como os alunos da rede estadual – sofreu, e esperava-se que, uma vez acertados os termos do reajuste salarial, seria possível retomar a normalidade.

No começo de junho, governo estadual, deputados da base de apoio, da oposição e sindicatos dos servidores concordaram com um aumento de 3,45% em outubro, seguido por novos reajustes em janeiro de 2016, janeiro e maio de 2017 e maio de 2018, sempre levando em consideração a inflação dos períodos correspondentes. Os professores da rede estadual encerraram a greve, na expectativa de que a Assembleia aprovasse o aumento. O substitutivo foi enviado pelo governo no dia 8; o projeto de lei passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Alep no dia 9; e, no dia 10, foi aprovado pelo plenário em primeiro turno.

Mas, na votação em segundo turno, na segunda-feira, dia 15, deputados da oposição resolveram incluir no projeto uma emenda que colocava por água abaixo tudo o que havia sido acertado anteriormente: em vez dos 3,45% em outubro, previa aumento de 8,17% retroativo a maio e a ser pago já na folha de junho. Com isso, eles forçaram a devolução do projeto à CCJ – na prática, todo o trâmite terá de ser reiniciado, adiando ainda mais uma definição que a sociedade paranaense já dava como certa. Na quarta-feira, dia 17, a CCJ rejeitou a emenda, mas a oposição pode apresentar recursos que levarão a votação final a ocorrer só em julho.

Deputados da base aliada desabafaram, e não há como lhes tirar a razão. “Infelizmente, é dessa forma que a oposição conduz seus posicionamentos. Eles não cumprem com a palavra, que aqui sempre valeu mais do que o está escrito”, disse o presidente da Alep, Ademar Traiano. “Muito provavelmente teremos de fazer reuniões com gravações para que todos se lembrem exatamente qual foi o papel de cada um na construção deste acordo”, afirmou o relator do projeto de lei do reajuste, o peemedebista Luiz Cláudio Romanelli.

É claro que o Legislativo precisa prever meios para que grupos minoritários sejam ouvidos e tenham seus pleitos pelo menos levados em consideração sem que sejam esmagados pela maioria. Mas usar esses recursos para desmanchar acordos duramente costurados, apenas com o objetivo de salvaguardar a imagem de alguns deputados perante os servidores estaduais, é uma atitude puramente oportunista. Pior: prejudica os próprios trabalhadores, ao adiar uma definição longamente esperada sobre o reajuste. É um custo elevado demais para a mera autopromoção.

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