Professores católicos apelam ao Arcebispo de Curitiba contra o tucano Beto Richa

domjose

Um grupo formado por professores, servidores estaduais e estudantes, diante da intransigência do governador Beto Richa (PSDB), resolveu apelar para a intervenção Divina. Eles foram ao Arcebispo de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo, com o objetivo de retomar o diálogo com o tucano e superar o impasse da greve do funcionalismo estadual.

Eles redigiram uma carta que foi entregue a Dom José Antônio Peruzzo no último domingo, dia 31 de maio, durante a Solenidade da Santíssima Trindade celebrada pela igreja.

No documento, os 180 signatários se dizem católicos e agradecem a manifestação do Arcebispo que condenou o massacre dos professores e servidores ocorrido no dia 29 de abril. Eles pedem que a autoridade religiosa volta a se manifestar pedindo que o governador retome o diálogo com os grevistas.

Na carta, eles se dizem querem “apenas que se cumpra a lei que equipara nossos rendimentos aos da inflação nacional.” E completam se colocando “como ovelhas atacadas pelos lobos, recorremos ao nosso arcebispo, nosso pastor, e imagem terrena do Supremo Pastor.”

Nesta terça-feira (3), véspera de Corpus Christi, depois de bancar o durão, o governador do PSDB “afrouxou a tanga” ao encaminhar nova proposta aos grevistas. Entretanto, segundo alguns educadores ouvidos pelo Blog do Esmael, parece que a sugestão do tucano é para não resolver a greve. “É ruim demais”, diz um dos grevistas.

Economia

A APP-Sindicato informa que a categoria vai avaliar a proposta em assembleia geral de avaliação na próxima terça-feira, dia 9, em Curitiba.

Leia a seguir a íntegra da carta enviada a Dom José Antônio Peruzzo: 

Curitiba, na Solenidade da Santíssima Trindade, 31 de maio de 2015.

À V. Ex.ª Revma. Dom José Antônio Peruzzo,
Arcebispo Metropolitano de Curitiba

Excelência:

Graça e paz da parte de Deus, “em quem temos vida, nos movemos e existimos” (At 17,28).

Somos professores da rede pública e privada, servidores públicos da rede estadual de ensino do Paraná, estudantes, homens e mulheres de boa vontade. Além de nossa profissão para o próprio sustento e manutenção da dignidade de nossos lares, também vivemos a vocação leiga e, alguns, a vida religiosa e consagrada. Professamos, portanto, a fé no Cristo, Senhor da vida e vencedor do pecado e da morte.

Gostaríamos de lhe prestar nossa gratidão, senhor arcebispo, pelo seu posicionamento, em nota, pedindo o diálogo e denunciando a violência ocorrida na manhã do dia 28 e, sobretudo, na tarde do dia 29 de abril de 2015 na Praça Nossa Sra. de Salette, em Curitiba. Cristo, Nosso Senhor, certamente repudiaria toda ação violenta em que se valoriza o dinheiro em detrimento da vida.

Todavia, um mês já se passou do fatídico dia em que nós, professores e funcionários, fomos massacrados pelo desproporcional uso de spray de pimenta, balas de borracha, cassetetes, bombas de efeito moral, Tropa de Choque, bombas lançadas de helicópteros e cães. E o que mais nos entristece é que a falta de diálogo com nossa categoria perdura. Enquanto escolas e universidades públicas do Estado do Paraná continuam fechadas, prejudicando a nós mesmos, aos alunos e seus familiares, sobretudo aos cidadãos que dependem desses estabelecimentos de ensino para estudar e que, por diversas vezes, a única fonte de cultura letrada que recebem vem da estrutura pública, os representantes do governo estadual permanecem de ouvidos fechados aos nossos clamores e beneficiando apenas um pequeno grupo de privilegiados.

Gostaríamos ainda de ressaltar que não somos favoráveis ao uso de qualquer tipo de violência e tampouco nossas manifestações são movidas por interesses partidários, como vem afirmando o senhor governador do estado. Queremos apenas que se cumpra a lei que equipara nossos rendimentos aos da inflação nacional.

Solicitamos, pois, a V. Ex.ª Revma. um posicionamento na atual conjuntura, para que haja uma retomada de diálogo entre os representantes do governo e de nosso sindicato. Testemunhamos que nossos representantes sempre estiveram abertos às ações diplomáticas. Nosso desejo é de que se encerre esta greve o mais rápido possível, que haja uma definição justa e que se realize de maneira pacífica, a fim de que os filhos desse honrado Estado possam gozar de uma Educação Pública de qualidade, como garante a Carta Magna de nossa nação. Também sabemos que se aproxima a Solenidade do Corpus Christi e que toda Arquidiocese de Curitiba se mobiliza para festejar o Sacramento que jorra do lado aberto de Cristo em sinal de doação: a Eucaristia. Rogamos que na Solenidade deste ano, que expõe o Santíssimo Sacramento nas ruas da capital paranaense e culmina com a benção na Praça Nossa Sra. da Salette, faça-se também memória por todos os professores e servidores do Estado do Paraná e haja, num gesto simbólico, um pedido de paz.

Compreendemos a saudável separação que há entre Igreja e Estado e que garante a diversidade de pensamento, a liberdade de culto e de expressão religiosa. No entanto, também sabemos que a palavra de um líder religioso sempre possui reverência e apreço perante a sociedade de mulheres e homens de boa vontade. Acreditamos que, dessa maneira, como cristãos, estenderemos para a prática o que rezamos em comunidade na Liturgia da Sexta-Feira da Paixão: “por todos os governantes: que o nosso Deus e Senhor, segundo sua vontade, lhes dirija o espírito e o coração para que todos possam gozar de verdadeira paz e liberdade.”

Com a voz do salmista, atormentado em suas angústias, expressamos nossa confiança em Deus: “Bendito seja o Senhor para sempre! Amém! Amém!” (Sl 89,53). E, como ovelhas atacadas pelos lobos, recorremos ao nosso arcebispo, nosso pastor, e imagem terrena do Supremo Pastor.

Mais uma vez, nossa gratidão e apreço! Colocamo-nos à disposição para esclarecimentos em uma possível audiência de acordo com a vossa disponibilidade.

Cordialmente, subscrevemos.

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