Reinaldo de Almeida César: ‘Agora falta Richa voltar atrás no confisco da poupança previdenciária’

batman_richa_reinaldoO Blog do Esmael pediu ao colunista Reinaldo de Almeida César, especialista de Segurança Pública e Cidadania, uma análise em caráter excepcional sobre o cenário político após a demissão do Fernando Francischini da Secretaria de Segurança Pública do Paraná.

Segundo o articulista, que escreve originalmente nas quartas-feiras, o governador Beto Richa (PSDB) deu “uma dentro” ao desligar Francischini e escolher o novo titular da pasta, Wagner Mesquista de Oliveira, também delegado da Polícia Federal.

Para Almeida César, houve exagero semiótico e impropriedade na frase “não tem ninguém mais ferido que eu” — proferida ontem pelo governador Beto Richa. “Arrisca virar meme na web”, palpita o especialista do Blog do Esmael.

“Agora falta o governador Beto Richa “revisar” o confisco da poupança previdenciária e discutir a data-base com os professores”, sugere Reinaldo de Almeida César, além de opinar que o tucano tem de baixar o arrogante topete.

A seguir, leia a íntegra da análise do colunista:

Análise de cenário pós-massacre e pós-demissão de Francischini

Economia

por Reinaldo de Almeida César*

Com a queda de Francischini, o Breve, vira-se a página.

Como diz a canção de Julio Iglesias, a vida segue igual.

O Paraná nunca viu, nem viveu, crise de comando igual na área da segurança pública.

Confronto em campo aberto com vítimas, então, talvez somente na Guerra do Pente, em dezembro de 1959, que durante três dias, projetou-se da Praça Tiradentes para todo o centro de Curitiba e que só teve fim com a intervenção do Exército. Como conta a história, tudo começou pela discussão sobre a emissão de uma nota fiscal, entre o Subtenente da PM Antonio Tavares e o comerciante Ahmed Najar, motivada pela necessidade de aumento da arrecadação, no governo de Moises Lupion. A história se repete? A vida imita a arte?

Pode-se concordar ou discordar, gostar ou não, simpatizar ou não, em relação ao governador Beto Richa. É da lide democrática, conquista recente no Brasil, onde se pode, grazie a dio, manifestar opinião.

Mas, convenhamos, ninguém chega onde Beto Richa chegou, vitorioso em quatro eleições majoritárias, à toa. Sobra-lhe senso e faro para o jogo político.

Até as árvores do bosque nativo do Chapéu Pensador sabiam que a melhor saída política para Beto Richa era afastar, imediatamente, ainda no dia 29 de abril, o Secretário de Segurança e o Comandante da PM. Por que raios, então, o governador deixou seu governo e sua imagem escoarem pelo ralo, caudalosamente, durante dez dias? Faltou assessoramento, vida inteligente ao seu redor? Beto Richa foi mal informado, mal briefado pela SESP? Omitiram dele a dureza e realidade dos fatos? Procede a versão maldosa que circulou ali e aqui dizendo que ele estava sendo vítima de uma chantagem moral?

A primeira entrevista de Richa, no dia dos fatos, é uma calamidade. Uma tragicomédia sem fim.

O governador com olhos esbugalhados, transpirando raiva, limpando suor no buço, repetindo frases desconexas sobre policiais em legítima defesa, enxergando black blocs por todo canto e insistindo em botar a culpa no colo dos professores.

Não sou especialista em gerência de imagem, nos momentos de crise.

Meu guru neste campo é o genial ex-jornalista e consultor Mario Rosa que, soube, andou sendo sondado por estes dias para aterrissar seu talento por Curitiba, para que operasse milagres na imagem do governo. De forma polida, enjeitou a proposta.

Penso com meus botões porque razão o governador, tão resoluto e pragmático em certos momentos, às vezes passando por cima até mesmo de pessoas que lhe são verdadeiramente amigas e leais, foi tão tíbio e vacilante na decisão de afastar o Secretário de Segurança e o Comandante da PM, no mesmo dia dos fatos?

Passou uma eternidade de dias para esboçar uma reação que o tirasse das cordas.

Agora, o governador foi às redes sociais e à televisão para pedir desculpas pelo massacre do dia 29, postando-se sem gravata, com a calma de antes, com fotos de família e do saudoso José Richa ao fundo.

É certo que errou na dose ao dizer que o governo, mas também a APP-Sindicato estavam pedindo desculpas à população. Como assim?

Também houve exagero semiótico e impropriedade na frase “não tem ninguém mais ferido que eu”. Arrisca virar meme na web.

De qualquer forma, sejamos justos, ponto para Beto Richa.

Num único dia, tirar o Secretário de Segurança e apresentar desculpas, já foi um enorme passo.

Página virada, o que fazer agora?

O governador precisa fatiar o processo. Tratar tudo na vala comum é turvar a visão, embaralhar as ideias, provocar uma bagunça mental.

Professores e sua greve numa casinha; revisão crítica do projeto da ParanaPrevidencia, em outra; Discussão sobre data base do funcionalismo em outro espaço.

A partir disso tudo, retomar o diálogo com a sociedade, com a classe política, líderes classistas, com tudo e com todos. Baixar a bola, arrogância muito, muito longe daqui.

Na Segurança Pública, vai dar trabalho. Os cacos estão em todo canto. A última gestão não ajudou muito, para não dizer que espalhou cacaca de mal cheiro para todo lado.

Começa pela escolha de um bom secretário.

Tenho convicção em dizer que um secretário de segurança não precisa ser necessariamente policial.

Já tivemos na SESP, promotores, advogados, delegados civis e federais, coronel PM.

O Doutor Leon Grupenmacher, médico oftalmologista, foi um bom Secretário de Segurança.

Então, quais seriam os requisitos para o cargo?

Vou enumerar alguns, podem os leitores discordar ou acrescer a lista:

1- ter capacidade de se comunicar, com credibilidade, com a população;

2- ser respeitado e reconhecido como líder, pela PM e pela Policia Civil;

3- ter credibilidade para manter relacionamento institucional de alto nível com o Ministério Público, Poder Judiciário e OAB;

4- não ter projeto político ou eleitoral, para não contaminar uma desejável gestão técnica, neste setor;

5- lutar dentro do governo, em favor da sociedade, por recursos e investimentos na SESP, com independência e desapego ao cargo;

6- não ser contraditório nas suas declarações públicas, para não arranhar a credibilidade;

7- ser equilibrado, ter bom senso;

8- ter capacidade de diálogo com as mais diversas formas de representação da sociedade civil organizada;

9- ter sólidos valores morais e um passado limpo, sem qualquer dúvida pairando sobre si; e

10- ter formação humanista e respeitar as franquias da dignidade humana.

Além destes, last but not least, ter idealismo e, sobretudo, paciência.

Boa escolha, Governador.

*Reinaldo Almeida César é delegado da Polícia Federal. Foi secretário da Segurança Pública do Paraná. Chefiou a Divisão de Cooperação Policial Internacional (Interpol). Escreve nas quartas-feiras sobre “Segurança e Cidadania”. Excepcionalmente, escreveu neste sábado.

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