Artigo de Zeca Dirceu: “A CPI da Swissleaks e o silêncio midiático”

swisslea.jpgArtigo de Zeca Dirceu*

Depois de dez anos guardando documentos comprometedores, o ex-funcionário do HSBC, Hervé Falciani, enviou o material para um grupo de jornalistas investigativos, dando origem ao Swissleaks. Poderia ser mais um caso absurdo na esfera internacional, mas o problema foi ainda maior e está no quintal da nossa casa.

As contas secretas no banco britânico ultrapassam seis mil. Mais de 8,6 mil brasileiros estão envolvidos e o rombo em sonegação pode ser de 7 bilhões de dólares. Esse conjunto de fatores renderia grandes reportagens, manchetes de jornais e infográficos em quaisquer mídias do mundo… menos no Brasil.

O caso do HSBC tem sido abafado pela grande mídia, que insiste em esconder os detalhes. Como brasileiro fico bastante preocupado com isso, haja vista a cobertura que os mesmos órgãos de imprensa têm destinado a outros assuntos. Por outro lado, ainda que indignado, sei dos porquês da falta de divulgação deste escândalo que tem sido noticiado quotidianamente na imprensa internacional: a própria mídia brasileira é ré no caso.

O Swissleaks aponta que entre os correntistas suspeitos de sonegação fiscal no HSBC da Suíça estão muitos proprietários de empresas midiáticas. Organizações Globo, Rede Massa, Rede Transamérica, Grupo Abril e Jovem Pan são algumas das citadas.

O que isso significa? Que a luta pela democratização da mídia é cada vez mais urgente. O comportamento da imprensa sobre o caso do HSBC demonstra que existe um jogo de interesses em detrimento (do mito) da imparcialidade pregado pelos jornalistas no Brasil.

Economia

Outro ponto que, como cidadão brasileiro, me deixa preocupado, é o silêncio de alguns partidos, bancadas e políticos sobre o caso. O próprio PSDB, que muitas vezes se coloca como defensor da ética e dos bons costumes não quer se posicionar quanto à investigação porque acredita que assim sairá incólume.

Ledo engano. A Comissão Parlamentar Investigativa (CPI) da Swissleaks será instaurada e dará respostas aos cidadãos e cidadãs do nosso país. E o PSDB, que não quer a apuração da CPI, porque governos tucanos atuais e passados estão envolvidos em fraudes escandalosas como a do metrô de São Paulo, precisa ter mais respeito com os brasileiros.

Ademir Venâncio de Araújo, que tinha US$ 1,2 milhão num banco suíço e foi diretor da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) durante os governos de Mario Covas e Geraldo Alckmin, José Luiz Lavorente, que está na companhia desde 1999 e atuou nos governos Covas, Alckmin e José Serra; Mário Manuel Bandeira eleito presidente da empresa no governo Alckmin são apenas exemplos de alguns dos envolvidos no caso de cartel do metrô.

É inadmissível que um rombo de 7 bilhões de dólares não seja investigado. Esse dinheiro pertence a todos os trabalhadores e trabalhadoras, a todos aqueles que batalham por um país melhor. Como deputado federal reeleito pelos paranaenses, cobro uma postura mais comprometida dos meus colegas parlamentares de oposição durante o andamento desta CPI.

Já como cidadão cobro mais seriedade da imprensa na cobertura do escândalo do HSBC. Sei que existem muitos jornalistas comprometidos com a verdade, porém também sei que muitos donos das empresas de mídia manipulam o trabalho desses profissionais.

Também não posso deixar de citar que já estão feitas investigações sobre o caso. A Receita Federal tem apurado as denúncias de sonegação fiscal, enquanto o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), órgão do Ministério da Justiça, tenta recuperar o dinheiro. E por último, uma entidade que tem se destacado como uma das mais importantes do Brasil, está a Polícia Federal (PF) investigando os crimes.

Sabendo da importância da atuação parlamentar neste caso, mais uma vez reitero meu compromisso com o povo e espero que as mais de 6,6 mil contas secretas que pertencem a mais de 8,6 mil pessoas físicas e jurídicas no Brasil sejam investigadas e que os 7 bilhões de dólares voltem aos cofres públicos do nosso país.

*Zeca Dirceu é deputado federal pelo PT do Paraná

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