Ricardo Gomyde*
Nos últimos dias, uma legião de “economistas” saiu das sombras e vem povoando o noticiário para reforçar a tática de terrorismo eleitoral. Sob o pretexto de “explicar” as causas dos solavancos da economia brasileira, que tenta se proteger da devastação econômica mundial, falam pelos cotovelos e se comportam como professores de Deus. A impressão que se tem é a de estar numa sala de aula, ouvindo asneiras dos que pensam ser verdadeiros CDFs. Muita calma nessa hora! Para entender o que estará acontecendo com a economia precisamos entender o que ocorre de mais relevante hoje: o debate eleitoral.
Esses economistas das sombras, das esquinas desertas, que falam grosso porque em caso de apuro ameaçam chamar o tio grandão – o tio Sam -, em sua maioria são elos entre beneficiários da especulação financeira e da privataria com a disputa política. Muitos estiveram no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) e são responsáveis por coisas que jamais levaram o país a lugar algum – exceto à s reais crises morais, políticas e econômicas que pontuam a história naquele período.
Hoje, eles tentam sofisticar o discurso porque ninguém mais confia no papo-furado de que a dimensão social micro será abundante com a sociedade guiada apenas por índices macroeconômicos. Por isso, eles querem levar a disputa para o terreno marrom do espetáculo circense e da luta-livre, a fim de desviar as atenções com lances patéticos e golpes baixos. Seria ingenuidade achar que passaríamos incólumes por esse processo, que tende a se tornar cada vez mais agressivo. A maioria do eleitorado está recusando a esperteza e a malandragem como armas para se ganhar eleições.
Aquela prédica de Nelson Rodrigues de que não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos parece não estar surtindo efeito no debate eleitoral. Essa constatação constrói duas hipóteses: a primeira é que boa parte do povo – ou a parte boa do povo, a sua imensa maioria – chegou à conclusão que não dá para apostar as poucas fichas que lhe restam em um projeto aventureiro de governo. Esses eleitores se deram conta de que a presença do concerto de facções conservadoras no poder se traduz em desemprego, miséria e violência.
A outra hipótese é que esse eleitorado aprendeu com a experiência que votar em pessoas críveis, que não são de duas caras, que não falam uma coisa e fazem outra, é uma boa iniciativa. Talvez seja difícil encontrar alguém que votou nesse concerto algum dia e tenha orgulho de confessar sua opção.
O problema é que, de modo geral, o Brasil ainda conserva fortes traços do modelo da Casa Grande. Esse concerto conservador pode ser comparado ao que o jornalista Sebatião Nery chamou de “UDNs civil, militar e gráfica (talvez tenha faltado a eletrônica)”, em seu livro “Grandes Pecados da Imprensa”. Nery escreve: “Quem abre caminho corre o risco das cobras, mas é aos pés dos que vão na frente que as borboletas se levantam.”
Aquela turma que incomodou o país vendendo estatais, pondo fim ao monopólio do petróleo, acabando com a estabilidade para os servidores, atacando a Previdência Social e implodindo postos de trabalho não merece voltar. A rigor, uma parte dela merece um veredito mais contundente: rua, lei e cadeia.
*Ricardo Gomyde, especialista em políticas de inclusão social, foi membro da Comissão Organizadora da Copa do Mundo no Brasil em 2014. Escreve nos sábados no Blog do Esmael.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.