Coluna do Gomyde: A soberania do voto contra o poder econômico

Ricardo Gomyde, em sua coluna deste sábado, discorre sobre a teoria da ditadura militar segunda qual o povo brasileiro não estava apto para votar; "[Ernesto] Geisel deu ao autoritarismo histórico da elite brasileira uma formulação mais elaborada ao dizer que em primeiro lugar deve vir o crescimento econômico, depois o bem-estar social", analisa o colunista; Gomyde destaca ainda que uma reforma política democrática, a soberania do voto e a vontade popular certamente mandariam para casa velhas raposas que se encastelaram em postos eletivos. E promoveriam uma renovação na política brasileira, que seria oxigenada com novas lideranças e ideias avançadas!; leia o texto e compartilhe.
Ricardo Gomyde, em sua coluna deste sábado, discorre sobre a teoria da ditadura militar segunda qual o povo brasileiro não estava apto para votar; “[Ernesto] Geisel deu ao autoritarismo histórico da elite brasileira uma formulação mais elaborada ao dizer que em primeiro lugar deve vir o crescimento econômico, depois o bem-estar social”, analisa o colunista; Gomyde destaca ainda que uma reforma política democrática, a soberania do voto e a vontade popular certamente mandariam para casa velhas raposas que se encastelaram em postos eletivos. E promoveriam uma renovação na política brasileira, que seria oxigenada com novas lideranças e ideias avançadas!; leia o texto e compartilhe.
Ricardo Gomyde*

Ao dizer que o povo é soberano, as constituições democráticas determinam que o fundamento da democracia é o voto individual de cada um dos cidadãos legalmente habilitados a votar. Se essa singela constatação fosse levada em consideração por todas as forças políticas, muitos equívocos poderiam ser evitados. Um eles é dizer que o exercício do voto deve ser condicionado a outros fatores. Na fase final do regime militar de 1964, por exemplo, o então presidente Ernesto Geisel proclamou, sem meias palavras, a tese da imaturidade! do eleitorado brasileiro – opinião reafirmada por seu sucessor, o general João Batista Figueiredo.

O que levou Geisel a manifestar esse pensamento, contudo, não foi aquele elitismo grosseiro que sempre caracterizou os que se imaginam os bem-nascidos do Brasil. Foi um elitismo mais sofisticado; ele não encampou em sua fala os termos rudimentares dos tempos áureos do pensamento autoritário nos primeiros anos da República em nosso país. Geisel deu ao autoritarismo histórico da elite brasileira uma formulação mais elaborada ao dizer que em primeiro lugar deve vir o crescimento econômico, depois o bem-estar social. Para ele, enquanto não tivéssemos um eleitorado composto de cidadãos conscientes, racionais, sociabilizados e educados” o voto não deveria ser universalizado.

Na democracia, no entanto, o povo não é soberano porque sabe ou deixa de saber algo. à‰ porque é. Ele é a fonte da soberania. à‰ porque encarna o direito de voto, porque vota como entende que deve votar e porque o voto é o único caminho legítimo para quem queira ser investido nas mais altas funções decisórias. Hoje em dia, os que gostam de menosprezar a capacidade intelectual dos eleitores utilizam o expediente de vender um conteúdo de péssima qualidade embrulhado em embalagens cuidadosamente maquiadas. Ou seja: fogem das propostas e investem na pirotecnia, no espetáculo das imagens e das palavras ocas para engambelar incautos.

O Brasil tem, atualmente, uma democracia cada vez mais cara, com o poder econômico com uma força enorme. As tendências conservadoras se opõem a uma reforma política que garanta a livre escolha do eleitor, sem influências do poder econômico, porque se beneficiam dessa situação. Ainda é comum, infelizmente, vermos a venda de votos e de vagas eletivas (como a suplência de senador, para citar um exemplo). Com uma reforma política democrática, a soberania do voto e a vontade popular certamente mandariam para casa velhas raposas que se encastelaram em postos eletivos. E promoveriam uma renovação na política brasileira, que seria oxigenada com novas lideranças e ideias avançadas.

As eleições deste ano, portanto, representam um momento histórico singular para que um programa de projetos sociais e de soberania nacional seja levado a cabo. Os brasileiros têm sua grande oportunidade de instaurar de maneira mais sólida no país um modelo político moderno, rompendo, de um lado, com as amarras oligárquicas e, de outro, com as utopias neoliberais que mesmo tendo virado pó em todo o mundo ainda se oferecem como panaceia e propõem o caminho que, já sabemos, dá em tragédias sociais, como o desemprego e a degradação dos serviços públicos.

Economia

O prometido projeto democrático e popular de sociedade ainda é algo que está florescendo no Brasil. E, na mesma medida, a construção de uma sociedade coesa, fundada na defesa dos interesses nacionais, disposta a erigir sistemas que sustentem a longo prazo o desenvolvimento econômico e a distribuição da riqueza produzida. O povo está percebendo que enquanto elegermos propostas fantasiosas e de faz-de-conta teremos inevitavelmente um país de mentiras, de trocas de favores, de tráfico de informações, de sonegação de impostos e de vassalagem. Renovação é a palavra chave. Novas lideranças e ideias avançadas são o segredo para mantermos o país no rumo do progresso. E o Paraná não pode ficar de fora desse grande esforço.

*Ricardo Gomyde, especialista em políticas de inclusão social, foi membro da Comissão Organizadora da Copa do Mundo no Brasil em 2014. Escreve nos sábados no Blog do Esmael.

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