Candidatos ‘nanicos’ ao governo apresentam propostas radicais

via Folha de Londrina

Os cinco candidatos ao governo considerados
Os cinco candidatos ao governo considerados “nanicos” têm programas de governo que vão da reestatização de empresas públicas à  privatização dos presídios, chamando a atenção com radicalizações pela esquerda ou pela direita. Pouco tempo de rádio e tv e estrutura fraca de campanha leva concorrentes a tentar se diferenciar com propostas bombásticas.

Dos oito candidatos que se registraram junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para concorrer ao governo do Paraná, cinco são considerados “nanicos”. Com menos tempo de televisão e recursos escassos de campanha, Bernardo Pilotto (PSOL), Geonísio Marinho (PRTB), Ogier Buchi (PRP), Rodrigo Tomazini (PSTU) e Tulio Bandeira (PTC) correm por fora na disputa. Talvez por isso, alguns deles apostem em medidas mais radicais, como a reestatização de empresas públicas, no caso do PSTU, ou a privatização dos presídios, proposta pelo PRTB, para chamar a atenção do eleitor.

PSOL

Pilotto e Tomazini são, notadamente, os candidatos mais à  esquerda do espectro político. Ambos enfatizam o fato de não dependerem do financiamento de banqueiros, do agronegócio ou de empreiteiras. O sociólogo do PSOL diz que seu plano de governo é também um programa de ação, pois continuará sendo utilizado para a militância cotidiana mesmo em caso de derrota nas eleições.

Segundo ele, sua primeira tarefa será desfazer os mitos difundidos pelas propagandas oficiais, de que “vivemos em um Estado branco, europeizado, sem desigualdades sociais e oligarquias”. Na saúde, suas principais propostas são o “esvaziamento” da Funeas (Fundação Estatal de Atenção à  Saúde), criada no início do ano pelo governador Beto Richa (PSDB), com o argumento de garantir maior autonomia orçamentária e financeira ao setor, e a criação de uma empresa pública de produção de medicamentos. Adotado na gestão atual, o modelo de Parcerias Público-Privadas (PPPs), base da Funeas, é defendido no plano de metas de Beto. Em relação à  nova empresa, Pilotto diz que teria como objetivo investir em pesquisa e novos tratamentos, fazendo com que o poder público dependa cada vez menos da “poderosa indústria farmacêutica”.

Outro órgão público que seria criado em um eventual governo do PSOL teria a função de executar programas de regularização fundiária, além de incentivar a aplicação de mecanismos tributários para combater os terrenos e imóveis vazios. Já na segurança, as principais promessas giram em torno da desmilitarização do aparato policial brasileiro. “Apesar de ser uma competência federal, é possível que o Estado, por controlar a Polícia Militar (PM), tenha “medidas desmilitarizantes””, afirma, citando um novo código de ética para os policiais, sem o “código de guerra do Exército”, e a separação entre a PM e o Corpo de Bombeiros como exemplos. Vincular uma parte da verba arrecadada com o ICMS para as universidades estaduais e ajudar os municípios a reduzir a tarifa do transporte coletivo são outras promessas do socialista, que não menciona valores.

Economia

PSTU

Em 17 páginas, Tomazini apresenta um plano focado na classe trabalhadora e na juventude, pegando como gancho os protestos de junho de 2013. Entre as medidas a serem tomadas pelo candidato do PSTU estão a reestatização do Banco do Estado do Paraná (Banestado), privatizado em outubro de 2000, durante a gestão do ex-governador Jaime Lerner (então no PFL), e a redução imediata das tarifas de água e energia em 50%.

O funcionário público sugere, ainda, a suspensão do pagamento da dívida interna e externa do Paraná, a realização de uma auditoria pública para demonstrar que a dívida do banco já foi paga e o direcionamento de todos os recursos hoje gastos com a “dívida ilegal” na implantação de um amplo plano de habitação popular.

Na segurança, na educação e na saúde, ele chega a propor medidas que demandariam uma alteração na Constituição Federal, como a legalização das drogas, “para acabar com o tráfico e o crime organizado”, a estatização do sistema privado e a descriminalização do aborto, que passaria a ser realizado pelos hospitais públicos do Estado.

PRTB

O PRTB de Geonísio Marinho, que se entitula “único partido de direita do Brasil”, por sua vez, apresenta propostas que contrapõem frontalmente as visões de PSOL e PSTU. Em um plano mais enxuto, de apenas três páginas, ele sugere medidas como a privatização de todos os presídios estaduais, através de concessão pública, para “garantir melhores condições humanas dos detentos”, e a redução da carga de impostos, principalmente da cesta básica.

Marinho também pretende, caso seja eleito, realizar cursos de prevenção de incêndio anuais, reestruturar o Instituto de Criminalística, com “os mais modernos equipamentos de laboratório forenses de primeiro mundo”, e implantar centrais de monitoramento, nas principais cidades do Estado, on line 24 horas por dia. Nestes casos, ele não fala em números, nem especifica os locais.

As propostas mais curiosas, porém, são a “criação, através de PPP, de Escolas de Escotismo para prática de cidadania e bons costumes” (o candidato não chega a dar detalhes sobre como seriam as unidades), e a instituição do “bolsa talento”, para premiar alunos com médias acima de 20%. No último caso, ficaria estabelecido o pagamento mensal de R$ 100, em depósito com conta poupança exclusiva ao estudante, para retirada apenas com 18 anos completos, de forma a garantir o financiamento de parte do ensino superior.

Outras ideias de Geonísio Marinho são a troca das frotas do transporte escolar no mínimo a cada seis anos, a criação de “pólos de saúde com cinco a dez cidades circunvizinhas”, a priorização do modal férreo, com implantação de 1.000 quilômetros de linhas de transporte de cargas, e a implantação, em parceria com o governo federal, do “Porto da Ilha da Cotinga” (novamente, ele não traz detalhes).

PTC

Mais “genérico” entre os cinco “nanicos”, o programa de governo de Tulio Bandeira elenca propostas vagas, como “garantir e melhorar o acesso da população a serviços de qualidade”, no caso da saúde, ou “melhorar os aspectos e a organização das delegacias”, no que tange à  segurança. O documento se divide em 12 itens, distribuídos por nove páginas.

A exceção é a curiosa intenção de criar “o SOS Oprimidos”. Sem especificar, Bandeira diz que a iniciativa seria voltada “a pessoas que têm problemas em geral e não têm a atenção do Estado”. No restante do texto, que trata ainda de educação, assistência social, cultura, meio ambiente, desenvolvimento econômico, gestão pública, habitação, mulheres, turismo, esporte e lazer, ele não estipula metas, nem fala em números.

PRP

A exemplo de Marinho, Ogier Buchi (PRP) segue a linha da direita, ao sugerir a redução de secretarias e órgãos da máquina administrativa, além da diminuição dos cargos de confiança de livre provimento, ainda que não fale em números. O que mais chama a atenção no plano de governo do apresentador de televisão, contudo, é a proximidade com os “ideais” do atual governador.

Em vários trechos do documento de seis páginas, com 44 itens “a serem debatidos durante a campanha eleitoral”, o candidato repete o discurso de Beto Richa, como no caso da demora pela aprovação das operações de crédito pleiteadas junto à  União. “Denunciar toda forma de discriminação do governo federal com o Estado do Paraná, como vem acontecendo e é de conhecimento de todos os paranaenses”, diz um dos itens do programa do representante do PRP. Em outro ponto, ele sugere viabilizar planos de investimento em parceria com a iniciativa privada, “reforçando o ambiente de segurança jurídica e de respeito aos contratos, que tem garantido o dobro do crescimento do PIB no Paraná em relação ao Brasil”.

Até mesmo quando propõe melhorias, Buchi se preocupa em defender o legado de Beto, como quando fala em “preservar e ampliar os bons programas de saúde implantados no atual governo”, caso do Mãe Paranaense, ou “completar o trabalho de expansão da oferta de vagas no sistema prisional, de modo a zerar o déficit, herança dos governos passados”.

Em relação à  gestão de Dilma Rousseff (PT) na Presidência, o tom é sempre de crítica. O candidato diz que irá cobrar do governo federal “a sua atuação constitucional no policiamento de fronteiras”, exigir “a parte que cabe ao Paraná, que tanto contribui com o Brasil”, e garantir a ampla participação popular nas decisões do governo, “sem a demagogia de criar, por decreto, no Brasil, a política falida dos sovietes, como fez recentemente o governo federal”.

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