“Não tive direito à defesa. Fui linchado pela mídia, sem dó nem piedade”. Essa declaração foi dada pelo deputado licenciado André Vargas (PT-PR), na quinta (10), ao Blog do Esmael. Em apenas duas semanas, Vargas foi alçado pela imprensa à condição de “corrupto número um” do país depois de divulgados fragmentos de mensagens de texto trocadas entre ele e o doleiro Alberto Youssef, também morador da cidade de Londrina, preso em março pela operação Lava Jato da Polícia Federal.
A este blog, no qual é colunista sobre “poder e socialista” nas terças, o ex-vice-presidente da Câmara disse ser vítima de uma armação política para atingir o governo Dilma Rousseff (PT), que vai disputar a reeleição em outubro. “Não há provas, somente acusação, condenação e execução pela mídia”, afirma.
Requião Filho, outro colunista deste blog, que escreve nas quintas sobre “políticas públicas”, observou nesta semana que há “uma verdadeira guerra na mídia para ver em quem cola a maior pecha de LADRàƒO, de CORRUPTO e outros tantos adjetivos que descrevem o substantivo político na boca do povo, ou o sujeito da sentença nas matérias condenatórias da imprensa (clique aqui).
A propósito, o pai do colunista das quintas, senador Roberto Requião (PMDB), pelo Twitter, também vê cerceamento ao direito de defesa do petista. “André Vargas foi presidente do PT e fez parte de nossa coligação. Ele nem ninguém podem ser massacrados sem direito ao contraditório. Claro? O direito de defesa deve ser exercido, em qualquer circunstância”, cravou o peemedebista.
O jornalista Paulo Moreira Leite, colunista da revista Istoà‰, condena o linchamento contra o ex-vice-presidente da Câmara. “André Vargas tem algo a ver com corrupção na Petrobrás? Nada. Com lavagem de dinheiro? Nada. Tem a ver com o que mesmo? Com um passeio !“ condenável !“ de jatinho até João Pessoa com a família”, diz ele, ressaltando o que diz o próprio juiz Sergio Moro no processo contra Youssef.
Neste final de semana, a Istoà‰ colocou André Vargas na capa acusando-o de fazer de seu mandato uma “lavanderia” para pequenas quantias, acredite, de vinte reais. O petista rebateu a “nova” acusação: “Na campanha de 2006 reuni um grupo de vigilantes para pedir apoio para minha eleição. Eles me trouxeram 199 votos. A acusação de lavagem de dinheiro não faz sentido. Deram contribuições de R$ 20. Alguém vai fazer alguma coisa para lavar R$ 20?”. Ele atribui essa antiga acusação e o processo sobre sua prestação de contas à disputa política com um sindicato de Maringá (PR).
Esse assunto sobre os vigilantes pode ser “novidade” para o resto do país, mas para o mundo político paranaense é matéria requentada para dar verossimilhança à gincana contra o “corrupto número um” André Vargas.
O deputado estadual Enio Verri, presidente do PT do Paraná, em entrevista ao blog, afirmou que a mídia pode ter produzido uma nova “Escola Base” na política ao acusar sem provas o parlamentar. Enio esteve reunido com Vargas na última quarta (9), em Brasília, onde soube que o companheiro de partido “vai para a briga”. “Eu renunciou à vice para organizar sua defesa, pois, à s vezes, de acordo com o ensinamento leninista, é melhor recuar um passo para avançar dois em seguida”, filosofou o dirigente.
Quem não se lembra do caso Escola Base, de São Paulo? O fato ocorreu há quase 20 anos. Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada, Mauricio Alvarenga e Paula Milhim Alvarenga eram donos Escola de Educação Infantil Base, na zona sul da capital paulistana. Sem chance defesa, eles foram acusados de pedofilia, condenados e executados pela velha mídia. Anos mais tarde ficou provado que eles eram inocentes. A Rede Globo foi condenada a pagar R$ 1,35 milhão para reparar os danos morais sofridos pelos donos e pelo motorista da escola.
Na época, na competição de quem esculhambava mais os acusados, a imprensa destacou que, antes de praticar ações perversas, os quatro sócios cuidavam ainda de drogar as crianças e fotografá-las nuas. Kombi era motel na escolinha do sexo!, estampou o extinto jornal Notícias Populares, editado pelo Grupo Folha. Perua escolar carregava crianças para a orgia!, manchetou a também extinta Folha da Tarde.
Talvez André Vargas esteja bem longe de ser um Querubim, mas a satanização do deputado do PT tem a ver com a tentativa de setores da mídia de criminalizar ação política no país. Em curto prazo, possivelmente, o tribunal de exceção midiático seja excelente para a oposição ou mesmo para eventuais acertos de contas, pontuais, dentro do próprio partido. No entanto, em perspectiva, em longo prazo, é uma péssima estratégia para o Estado Democrático de Direito. Ou seja, todos perdem com o nivelamento por baixo! da atividade política e dos partidos no Brasil.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.