Ricardo Gomyde*
Na última quinta-feira (13.03), a presidenta Dilma Rousseff e o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, receberam o volante Tinga e o árbitro gaúcho Marcio Chagas. Mais do que mostrar solidariedade à s recentes vítimas de racismo em partidas de futebol, eles também reiteraram a disposição do governo federal em combater este tipo de crime e o preconceito de maneira geral. à‰ muito importante não deixarmos a discussão esfriar porque é necessária uma mudança de postura de toda a sociedade.
Agora, estamos à s vésperas de uma Copa do Mundo, que abrange questões universais como a promoção da paz e o combate ao preconceito. Evidente que nossa preocupação é a de expressar solidariedade e a determinação do governo em enfrentar esse tipo de problema. Mas a própria presidenta já manifestou a intenção de fazer uma Copa pela paz e contra o preconceito, junto à ONU e à FIFA, criando mecanismos de expressão de repúdio, com frases, faixas e ações que definiremos. à‰ um evento com muita visibilidade, e as mensagens, transmitidas por ídolos como são os atletas, causam muito impacto
Aproveitando essa discussão que está em evidência ultimamente, o Ministério do Esporte vai relançar o livro O Negro no Futebol Brasileiro, publicado originalmente em 1947 pelo jornalista Mário Filho e elevado como um estudo clássico do esporte no País. Em edição bilíngue, a obra insere-se no propósito de realizarmos uma Copa do Mundo sem racismo. E mais que isso: um reconhecimento da contribuição do negro à formação social brasileira e exaltação à mestiçagem que nos distingue como nação.
O relançamento dessa obra torna-se oportuna na medida em que se percebe que a discriminação e o preconceito sobrevivem nas relações sociais e de trabalho. No esporte aparece, intermitente, mas sempre desprezível, em manifestações de torcedores contra jogadores negros !“ ainda que a torcida não seja um território ariano.
Vejam! O Brasil é fortemente miscigenado. A uma pesquisa de 2006 do Instituto Nacional de Estatística e Informação a população declarou-se mestiça (59,5%), quíchua (22,7%), aimará (2,7%), amazônicos (1,8%), negra/parda (1,6%), branca (4,9%) e outros (6,7%).
Como podem membros de uma nação com tal composição étnica, construída com o esforço comum do colonizador branco, índio nativo e escravo africano grunhir num estádio de futebol que negro é macaco? Um branco que hostiliza um negro ou um negro que discrimina um branco deveriam saber que carregam em seu DNA genes que determinaram a cor da pele do outro.
Se é episodicamente contaminado por tais comportamentos mesquinhos, o esporte mais popular do mundo, elevado à categoria de arte justamente pelo bailado dos jogadores negros, propicia em seu campeonato mundial a oportunidade de darmos o cartão vermelho a essa atitude infame.
*Ricardo Gomyde, diretor de Futebol do Ministério do Esporte, especialista em políticas de inclusão social, é membro da Comissão Organizadora da Copa do Mundo no Brasil em 2014. Escreve nos sábados no Blog do Esmael.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.