Antes de responder ao artigo do deputado Ademar Traiano (Mentirosa é dona Gleisi e o PT mensaleiro!), publicado na última quarta-feira neste espaço, permito-me dois preâmbulos: primeiro, destaco a coragem de Traiano e os verdadeiros malabarismos que emprega em sua função de líder do governo Beto Richa. De fato, é preciso muito desassombro para defender este governo. Em segundo lugar, lamento que neste mister o deputado tucano tenha escorregado feio na direção da irresponsabilidade, dos xingamentos, da futrica.
Apesar de todo o seu esforço, Traiano não é convincente. Ele repete a velha cantilena do desastroso governador que representa: o PT, o governo federal e, particularmente, a ex-ministra e novamente senadora Gleisi Hoffmann, prejudicaram deliberadamente o Paraná por inconfessas motivações eleitorais. E cita estados que estariam em pior situação financeira que o Paraná (Tocantins, Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe e Alagoas) mas que receberam os recursos do ProInveste, enquanto o Paraná não.
O deputado deveria explicar porque, para citar apenas dois exemplos marcantes, São Paulo (cérebro, coração e pulmões do PSDB) e Minas Gerais (terra do candidato tucano à Presidência) não estão entre as unidades federativas supostamente discriminadas pelo governo federal.
Porém, isso não é o essencial. O cerne da questão é que o Paraná está, sim, quebrado financeiramente, fato reconhecido de público, embora sinuosamente, tanto pelo ex-secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, quanto pela atual ocupante do cargo, Jozélia Nogueira. O governo fez mágicas para adequar o gasto com pessoal ao limite da Lei de Responsabilidade Fiscal. Como estava gastando mais que o limite permitido, alterou a metodologia para chegar ao resultado desejado. A STN (Secretaria do Tesouro Nacional) e o Ministério Público estão investigando essas manobras contábeis e financeiras, o que impede a liberação dos empréstimos. à‰ da lei, e não da vontade de Gleisi ou do PT.
O CADIN (Cadastro de Registro de Adimplência), uma espécie de Seproc! do governo federal, registra com clareza a má situação paranaense. Por isso, e só por isso, o Paraná não consegue empréstimos.
Ainda em relação à Lei de Responsabilidade Fiscal, o Paraná incorre em outras irregularidades. O governo deveria ter divulgado até 31 de janeiro os relatórios fiscais referentes ao último bimestre de 2013. Não o fez, como aliás tem sido a tônica da atual administração.
Para ocultar a situação catastrófica de seu governo, Beto Richa vem reduzindo drasticamente a transparência das contas públicas. Em 2012 deixou de divulgar algumas informações sobre folha de pagamento e número de servidores públicos no Boletim RH!“Informação. Em 2013 reduziu mais ainda as tabelas divulgadas. Os últimos números disponíveis são de fevereiro de 2013, ou seja, informações de um ano atrás.
à‰ inglório o esforço do deputado Traiano. O Paraná está no noticiário nacional, não pelos bons feitos de seu governador (que não existem), mas pela dívida de R$ 1,1 bilhão junto aos fornecedores, pelo corte do leite das crianças, pela falta de gasolina para as ambulâncias e viaturas policiais e pela apropriação indevida de depósitos judiciais, o que o governo só reconheceu depois da denúncia pela imprensa.
Não vou debater com o deputado suas sorrateiras e impertinentes colocações sobre o alegado mensalão!, para não me deter na avaliação de um julgamento eminentemente político e midiático e cujas irregularidades estão vindo à tona, dia após dia, com enorme nitidez; depois, não me parece este o momento, quando se debate o caos em que Beto Richa mergulhou o Paraná, para abordar temas incômodos como Alston, Siemens, propinoduto, helicóptero, privataria, compra de votos para reeleição e tantos outros que marcam o modo tucano de governar.
*Elton Welter (PT) é líder da Oposição na Assembleia Legislativa do Paraná.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.