por Elton Welter*
Cresce a cada dia a convicção de que o governo paranaense passa por um momento de completo descontrole financeiro. Esta percepção é partilhada por um número cada vez maior de políticos, jornalistas e pessoas do povo. Depois que praticamente três anos de gestão, é impossível fazer com quer essa situação passe em branco.
O governo de Beto Richa, através de seus apoiadores, tenta transferir a culpa pelo descalabro financeiro do Estado para o governo federal. O fato é que o Paraná se viu impossibilitado de contrair empréstimos junto a Brasília e a organismos internacionais por não estar em dia com suas obrigações junto ao Tesouro Nacional. Essa inadimplência foi admitida publicamente pelo ex-secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly, que deixou o cargo há dois meses.
Ora, esses quase R$ 3,5 bilhões em empréstimos seriam destinados a projetos, e não para cobrir rombos do caixa estadual. Ademais, é completamente insensato atribuir-se a crise estadual à falta desses R$ 3,5 bilhões, que correspondem a apenas 3,1% do total previsto de arrecadação pelo Estado nos quatro anos de gestão Richa- R$ 110 bilhões.
O discurso para consumo externo não esconde os fatos, que são alarmantes. A nova secretária da Fazenda, Jozélia Nogueira, ao que se diz em choque com outros membros da equipe de governo, suspendeu todos os pagamentos para garantir o salário e o 13!º dos servidores estaduais. A conclusão óbvia que se pode tirar dessa medida é que não há nenhuma garantia de que os salários de 2014 estejam assegurados.
Uma das áreas mais afetadas é a da segurança pública. As contas de telefone da Polícia Militar e da Secretaria de Segurança Pública não eram pagas desde setembro. No final de novembro, esses telefones passaram a apenas receber chamadas, sem poder efetuá-las. Não há combustível para os veículos policiais. O governo também deixou de pagar as seis empresas que fornecem alimentação para os 31 presídios do estado. Há informações também sobre a falta de equipamentos, inclusive balas, para os policiais.
Com o caixa vazio, tudo acaba ficando mais difícil. O Paraná não tem dinheiro para proceder à s desapropriações necessárias para a construção de uma terceira pista no Aeroporto Afonso Pena, obra fundamental e que se esperava estivesse pronta já em meados de 2014. São necessários pelo menos R$ 300 milhões. A situação se repete em Londrina, com o Aeroporto José Richa, onde as desapropriações sairiam por cerca de R$ 50 milhões.
Vê-se, então, que acusar os ministros paranaenses (principalmente a ministra Gleisi Hoffmann) de discriminação contra o Paraná é um expediente meramente eleitoreiro. A situação é muito grave para que se possa perder tempo em picuinhas.
Mas o governo de Beto Richa não tem jeito. Gasta mais com manutenção de veículos (o total acumulado, de R$ 133 milhões, daria para comprar 4,4 mil veículos de R$ 30 mil cada) do que com a conservação de estradas e vias; anuncia a compra de mil tornozeleiras para monitoramento de presos, a um custo de R$ 25,9 mil cada uma; eleva o custo da obra de engorda das praias de Matinhos de R$ 60 milhões para mais de R$ 500 milhões; faz com que o Estado perca mais de R$ 300 milhões numa canetada, com a compra superfaturada de ações da Sanepar; privilegia-se os acionistas da Copel e não os investimentos em energia; e muitos outros absurdos. São fatos que revelam uma completa desorientação.
Ainda que pudesse contar com todos os empréstimos que estiveram impedidos de tomar, o governo estadual não resolveria sua crise. Todo mundo tem direito de espernear, mas isso não leva a nada.
*Deputado Elton Welter (PT) é líder da Oposição na Assembleia Legislativa do Paraná.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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