A indireta de Gleisi para Richa: “não consigo ir à  academia”

por Klécio Santos, Brasília, para o Zero Hora

A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, fez balanço sobre sua atuação na pasta, falou sobre o mensalão e sua vida pessoal; "não consigo ir à  academia", reclamou, como se estivesse se comparando ao governador Beto Richa, sem citá-lo nominalmente, com quem poderá disputar o Palácio Iguaçu em 2014; sobre o temperamento e o mito das broncas da presidenta Dilma, Gleisi afirmou que na gestão pública, não estão acostumados a cobrança"; leia a entrevista.
A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, ao jornal Zero Hora, de Porto Alegre, fez balanço sobre sua atuação na pasta, falou sobre o mensalão e sua vida pessoal; “não consigo ir à  academia”, reclamou, como se estivesse se comparando ao governador Beto Richa, sem citá-lo nominalmente, com quem poderá disputar o Palácio Iguaçu em 2014; sobre o temperamento e o mito das broncas da presidenta Dilma, Gleisi afirmou que na gestão pública, não estão acostumados a cobrança”; leia a entrevista.
Em meio a assessores estressados com a recepção do presidente da França, François Hollande, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, transpira tranquilidade. Pontualmente à s 10h30min, abre a porta do florido gabinete no quarto andar do Palácio do Planalto, trajando vestido, casaquinho de tweed e escarpim de verniz.

Os cabelos presos destacam brincos de pérolas. Na mesa principal, uma pilha de pastas. Gleisi, 48 anos, prefere conversar na mesa de reuniões, com as fotos dos filhos, João Augusto e Gabriela Sofia. Em nada lembra a “dama de ferro” ou o “pitbull”, como a chamavam nos tempos de Senado por conta de sua defesa ao governo do PT.

Agora, à s vésperas de deixar o cargo, Gleisi deve concorrer ao governo do Paraná contra o atual governador Beto Richa, do PSDB. Ela esconde o jogo sobre o futuro político, mas tentará viabilizar a candidatura retornando ao Senado, para onde foi eleita por 3,1 milhões de paranaenses. Pretende dedicar mais tempo à  paróquia.

Desde 2011, quando recebeu o convite de Dilma Rousseff para ocupar o antigo posto da presidente, na esteira do escândalo que derrubou o então titular Antonio Palocci, a rotina de Gleisi mudou. Chega cedo e quase nunca deixa o Planalto antes das 22h. Nem levar os filhos no colégio, atividade que esperava manter, ela consegue.

!” Eles estão indo de van !” lamenta.

Casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, Gleisi se destacou na equipe de transição para o governo Lula, em 2002. Foi convidada pelo então presidente para ser diretora Financeira da Itaipu Binacional.

Economia

A Zero Hora, fez um balanço dos dois anos e meio em que comandou uma das principais pastas da Esplanada, mas falou ainda sobre mensalão e vida pessoal ao longo de cerca de 40 minutos de conversa, só interrompida pelo chamado de Dilma para recepcionar Hollande.

Confira a seguir trechos da entrevista:

Zero Hora !” A senhora vai deixar a Casa Civil para concorrer ao governo do Paraná?

Gleisi Hoffmann !” Não há definição. Isso só será feito em 2014. Existe a possibilidade de eu deixar a Casa Civil no início do ano que vem para avaliar.

ZH !” Como é a experiência de ser a Dilma da Dilma?

Gleisi !” Não sou a Dilma da Dilma. A presidenta tem outra característica. Tentei suprir uma demanda que a própria presidenta passou, de ter a atenção voltada para organização interna do governo, monitorando os programas, coordenando as ações para buscar resultados à  população. Jamais pretendi substituí-la.

ZH !” O perfil da senhora é diferente dos seus antecessores, como José Dirceu, Antonio Palocci e a própria presidente. Qual a marca que a senhora deixa na Casa Civil?

Gleisi !” Não tenho preocupação de deixar marca. Aqui é a antessala do gabinete da Presidência, quem deixa marca é a presidenta. Minha atuação é de retaguarda, para fazer as coisas andarem da melhor forma possível.

ZH !” Como a senhora vê as prisões do mensalão?

Gleisi !” à‰ um caso que pertence ao Judiciário, já foi julgado. Só espero que o rigor com que esse julgamento aconteceu seja o rigor que permeie todos os demais julgamentos daqui para frente em relação a casos semelhantes.

ZH !” A senhora se refere ao mensalão do PSDB?

Gleisi !” Me refiro a todos os casos.

ZH !” Há presos políticos no mensalão?

Gleisi !” Não vou entrar nesta discussão.

ZH !” O empresário Jorge Gerdau elogiou as concessões recentemente, mas disse que há defasagem de 20 anos na logística do Brasil. Quando o atraso será superado?

Gleisi !” Ele tem razão. Esta falta era tão presente que, em 2007, o presidente Lula lançou o PAC, que a presidenta Dilma organizou e coordenou. Como fazia muito tempo que o Estado não investia, faltavam projetos de engenharia. Como diz a Miriam Belchior (ministra do Planejamento), tivemos de trocar o pneu e melhorar o motor com o carro andando.

ZH !” Mas persistem as queixas do empresariado sobre o governo, sobre a falta de diálogo.

Gleisi !” Há muita fofoca. Minha avaliação se dá muito em relação ao que é prático. A melhor forma de avaliar são as parcerias. E as concessões de aeroportos, portos e rodovias, o leilão de Libra, as futuras concessões de ferrovia dão uma resposta positiva. Fizemos um chamado para a iniciativa privada participar de forma mais incisiva com as concessões. Vamos dar resposta à  demanda.

ZH !” Do que a senhora sente mais falta da vida antes da Casa Civil?

Gleisi !” Do tempo livre, de ler mais, de sair mais e passear. A demanda é muito grande, o país é muito grande.

ZH !” A senhora é mulher do ministro Paulo Bernardo. Conseguem tempo para namorar?

Gleisi !” A gente trabalha muito em casa, de vez em quando vamos ao cinema. Leio muitas coisas. Comecei a ler o livro 1889, do Laurentino Gomes.

ZH !” O PIB teve a maior queda em quase cinco anos. Isso é normal na economia, ou, como diz a oposição, o Brasil vive uma crise de expectativas?

Gleisi !” O Brasil faz parte do mundo, que está em uma crise que coloca os países desenvolvidos em grandes dificuldades. Europa, EUA, China tiveram dificuldades, é natural termos impactos. Agora, é importante analisar a vida do povo. O Brasil conseguiu manter qualidade de vida, temos o menor índice de desemprego dos últimos tempos, não deixamos a renda cair, a inflação e a dívida em relação ao PIB estão controladas, mantivemos programas de inclusão.

ZH !” A presidente distribui muitas broncas?

Gleisi !” A presidenta cobra muito, e isso é muito positivo. Tem um mito sobre as broncas, mas isso acontece porque as pessoas na política ou na gestão pública não estão acostumadas a cobranças de resultados mais efetivos. E a presidenta é uma gestora, ela cobra resultados.

ZH !” Existe um conflito no país sobre a demarcação de terras indígenas e quilombolas. Como equacionar a situação?

Gleisi !” Precisamos mediar a relação. Não adianta fazer uma demarcação porque ali há direito de terra indígena, sem considerar o pequeno agricultor ou os quilombolas. Se não dá para demarcar como gostaríamos, vamos fazer uma mediação, uma demarcação que atenda à s expectativas de todos. Temos de buscar o equilíbrio, ter procedimentos sobre as demarcações e ouvir todos os envolvidos, não apenas a Funai. Temos de ouvir o Incra, os ministérios da Cidade e Desenvolvimento Agrário, a Secretaria de Direitos Humanos, ouvir todos.

ZH !” E a situação da compra de terras por estrangeiros no Brasil, o governo estuda rever o parecer que limita a aquisição?

Gleisi !” Por enquanto, o assunto não é prioridade. Temos de ter muito cuidado, terra é questão de soberania nacional. Queremos que este país produza essencialmente para o povo brasileiro e, de preferência, por brasileiros.

ZH !” Mas as limitações atrapalham investimentos, como o da celulose no Rio Grande do Sul.

Gleisi !” Há questões específicas que precisam de respostas, como a celulose. A AGU (Advocacia-Geral da União) está estudando soluções pontuais.

ZH !” Dilma discute alianças com a senhora?

Gleisi !” Não discuto esse assunto com a presidenta.

ZH !” O recente aumento na expectativa de vida da população reduziu o valor das aposentadorias. O governo estuda mexer no fator previdenciário?

Gleisi !” A discussão sobre o tema está em andamento, mas não há definição.

ZH !” O projeto de lei do novo indexador da dívida dos Estados está no Congresso e deveria ser votado este ano, mas deve ficar para 2014. Qual a posição real do governo?

Gleisi !” à‰ uma posição de cautela, coordenada pelo Ministério da Fazenda.

ZH !” Mas o projeto será votado no ano que vem?

Gleisi !” O Congresso tem autonomia para fazer sua parte, mas, como existe uma situação econômica externa adversa, temos de trabalhar com cautela todas as medidas com impacto fiscal e na macroeconomia.

ZH !” As manifestações de junho mudaram a rotina da senhora e a do governo?

Gleisi !” A presidenta foi muito ativa nas ações para responder à  população. Focamos em temas que avaliamos que as mobilizações colocavam como prioritárias para o governo. Além das atividades e dos desafios cotidianos com a gestão da máquina, houve foco nos pactos anunciados pela presidenta.

ZH !” Preocupa a possibilidade de que as manifestações se repitam na Copa?

Gleisi !” O país é livre e democrático, a manifestação quando é pacífica é bem-vinda. Queremos evitar as manifestações violentas, que não contribuem com a democracia. O governo vai estar preparado para o enfrentamento.

ZH !” Falando em Copa, permanecem os gargalos de infraestrutura. Eles ameaçam o Mundial?

Gleisi !” Não ameaçam. Estamos com aquilo que é essencial para realizar a Copa sob controle, tanto nos aeroportos e na mobilidade assim como nos estádios, que são investimentos privados. Vamos realizar uma boa Copa.

ZH !” Como está a relação com Tribunal de Contas da União (TCU)?

Gleisi !” O TCU é parceiro no programa de concessões, fez avaliações rápidas, acatamos muitas sugestões. à‰ óbvio que o TCU também trabalha com equipe reduzida e não tem toda a experiência necessária para avaliar todas as propostas. Temos concessões de ferrovia, o que o país não fazia há anos, então é normal o TCU ter dificuldades. à‰ importante ter claro o papel de cada um. Cabe ao Executivo definir e executar a política, enquanto ao TCU cabe fiscalizar.

ZH !” Congresso e governo discutem a PEC do orçamento impositivo. As emendas influenciam tanto na relação com os parlamentares?

Gleisi !” A emenda é um direito do parlamentar. Particularmente, sou contra o orçamento impositivo. à‰ sempre um risco impor uma despesa sem saber se aquela receita vai se efetivar. O parlamento entendeu que deveria ser assegurada a emenda, mas achamos que deveria ser negociado, mediamos para que uma parte substancial do dinheiro vá para saúde. A proposta é razoável e equilibrada, é passível de ser executada.

ZH !” Um ex-assessor da Casa Civil (Eduardo Gaievski) foi preso após denúncia de pedofilia. Qual foi a sua reação?

Gleisi !” Foi um momento muito triste. Espero que as coisas sejam esclarecidas, e os responsáveis, punidos.

ZH !” A presidente Dilma já disse que sente preconceito por ser mulher. A senhora acha que o preconceito permanece?

Gleisi !” Não de forma clara ou expressa, mas ainda tem. A política é um ambiente majoritariamente masculino, as pessoas não estão acostumadas à  presença feminina, especialmente em postos de comando.

ZH !” A senhora é uma mulher bonita. Recebe muitas cantadas, toma cuidados com a beleza?

Gleisi !” Nunca recebi cantadas e sou vaidosa como toda mulher. Procuro caminhar todas as manhãs, mas não consigo ir à  academia.

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