Internet é ferramenta social, não produto de mercado!, diz João Arruda

por Ivan Santos, do portal Bem Paraná

O deputado federal João Arruda (PMDB), em entrevista ao repórter Ivan Santos, do portal Bem Paraná, fala sobre a expectativa de o Congresso Nacional aprovar o Marco Civil da Internet; sobrinho do senador Roberto Requião (PMDB), o parlamentar prevê união! entre Pessuti e seu tio em torno da candidatura própria do partido; Arruda ainda vê dificuldades históricas! nas reeleições de governadores no Paraná, além de descer a borracha nos socialistas! Marina Silva e Eduardo Campos, possíveis aliados de Requião no estado; leia o texto.
O deputado federal João Arruda (PMDB), em entrevista ao repórter Ivan Santos, do portal Bem Paraná, fala sobre a expectativa de o Congresso Nacional aprovar o Marco Civil da Internet; sobrinho do senador Roberto Requião (PMDB), o parlamentar prevê união! entre Pessuti e seu tio em torno da candidatura própria do partido; Arruda ainda vê dificuldades históricas! nas reeleições de governadores no Paraná, além de descer a borracha nos socialistas! Marina Silva e Eduardo Campos, possíveis aliados de Requião no estado; leia o texto.
O deputado federal João Arruda preside a comissão especial da Câmara Federal que trata do marco civil da internet, assunto que ganhou ainda maior importância com a revelação de que os Estados Unidos estariam utilizando a rede mundial de computadores para espionar outros países. Como tal, ele defende a proposta da comissão de consagrar em lei o que chama de neutralidade! da rede, contra a posição das empresas de telecomunicações, que segundo Arruda, querem estabelecer uma espécie de apartheid! social, ao restringirem o acesso à  internet à  população de menor poder aquisitivo.

O parlamentar também é sobrinho do senador Roberto Requião e um dos defensores da candidatura própria do PMDB ao governo do Estado em 2014. E apesar do racha! no partido, onde boa parte da bancada da legenda na Assembleia Legislativa defende o apoio a reeleição do atual governador Beto Richa (PSDB), ele acredita que essa tese acabará prevalecendo. Até porque, afirma, apesar de Requião e do ex-governador Orlando Pessuti !“ outro que reivindica a vaga de candidato !“ terem rompido relações, isso não significa que o interesse dos dois não vai convergir lá na frente. Eles não precisam se conversar. Mas os seus interesses podem se conversar!, explica Arruda, em entrevista ao Bem Paraná.

Leia a íntegra da entrevista de João Arruda:

Bem Paraná – O senhor é presidente da comissão da Câmara que analisa o Marco Civil da Internet. Em tempos de suspeitas de espionagem, como equilibrar a necessidade de preservar a privacidade dos usuários da internet, com o caráter libertário da rede?

João Arruda !“ Primeiro que sem liberdade não tem privacidade. Se as pessoas não tiverem autonomia sobre aquilo que elas fazem na internet ou nas suas vidas elas não têm como preservar sua privacidade. O marco civil é essencial pelo que pode acontecer com a internet no Brasil e no mundo. Hoje nós pagamos o minuto mais caro de telefone celular no mundo. E pior do que isso, as pessoas que têm mais poder aquisitivo pagam menos por minuto do que as pessoas que têm menos poder aquisitivo. Quem tem menos poder aquisitivo compra um pré-pago. Quem tem condição de comprar o pacotão de celular paga o minuto mais barato. E a internet caminha para isso também. As empresas querem vender por conteúdo e não por velocidade. Hoje a Claro já vende pacotes só com Facebook. E elas querem fazer isso. E se você quer usar tudo, quer ter liberdade total na internet, você vai pagar um pacotão e vai sair muito caro por minuto que você acessa. Elas são contra a neutralidade da rede, que é isonomia no processo, que é o ponto principal do processo.

BP !“ E qual seria a proposta das teles?

Economia

Arruda – Chegou um momento de discussão da nossa comissão que as empresas de telecomunicação sugeriram que o marco civil fosse aprovado sem a neutralidade. Que permite que todos tenham uma internet justa, livre, o mesmo acesso para todos. O que eles querem vender um serviço diferenciado. O Brasil já é um País que tem diferenças de classe. Nós vamos potencializar essas diferenças com esse serviço personalizado que elas querem vender. E mais do que isso, além do acesso, qualquer um pode ser um blogueiro, um tuiteiro. Elas não querem que seja assim. Elas querem que você pague mais caro pelo aquilo que você posta. Nós estamos lutando por uma internet livre e justa para todos. Eu considero que a internet é uma ferramenta social, não é um produto de mercado. Essa é a grande briga entre nós que defendemos a internet livre e as empresas de telecomunicações. à‰ social porque é a única maneira que um professor do interior tem para receber material do Portal da Educação. Que um idoso tem de conhecer o mundo. Que um jovem tem para ter acesso à  literatura, filosofia. E essencial para a formação do cidadão.

Manifestações
Eleitor hoje tem ódio da política!

Bem Paraná – Como o senhor vê a onda de manifestações populares que atingiu o País desde junho e o papel das redes sociais nesse processo?

João Arruda !“ A gente passou por um processo de transformação da política, em que as pessoas tinham mais liberdade para se manifestar nas ruas, de comício, de participação, as pessoas se aproximavam dos políticos. Com a mudança na lei eleitoral, passamos a ter menos comícios, menos ferramentas para se aproximar do eleitor. Não diminuímos o custo das campanhas, pelo contrário, ele aumentou, e as pessoas deixaram de participar. Ao mesmo tempo a imprensa crítica – e isso de fato dá mais audiência em qualquer conjuntura !“ se interessa mais por aquilo que acontece de ruim na política, os escândalos, veio o “mensalão”, escândalos de corrupção que não tinham tanta exposição, porque o controle era frágil também no passado. Chegou um momento em que só esses casos ganhavam exposição. As pessoas passaram a cultivar um sentimento de revolta que cresceu ao longo do tempo. E aí vieram as redes sociais, e a possibilidade de se manifestar. Assim como o jornalista se manifesta pelo seu veículo de comunicação, através do facebook, do twitter, ela vê que também tinha voz. Isso não aconteceu da noite para o dia. Na eleição de 2010 a participação do internauta foi pequena e acredito que não tenha influenciado muito o pleito. Já em 2012 já teve muito mais importância. Agora no julgamento da administração municipal, estadual, federal, dos mandatos, um papel mais forte ainda, e acredito que em 2014 será decisiva. Não acredito que será determinante, mas vai influenciar muito o processo eleitoral. Já em 2016 e daí para frente, eu acredito que ela será determinante. O político ou candidato que não estiver na vanguarda vai perder a eleição por conta desse novo público, que tem posição, que está vendo que tem uma forma de expor essa posição e influenciar outras pessoas.

BP – Acha que as manifestações podem voltar a tomar corpo no ano que vem, com a Copa e eleições?

Arruda !“ O político hoje tem que administrar um eleitor que tem ódio da política, do político, do candidato, de tudo o que acontece no entorno do poder. E como administrar isso? Fazendo política com muita cautela. O político agora tem que pegar o eleitor de surpresa, se não ele não consegue abrir diálogo com o eleitor. Isso é uma coisa que se alimenta. O eleitor está certo, ele quer respostas diante do seu problema. Quem não apresentar essas respostas com otimismo e com planejamento do que pode fazer, expondo inclusive de maneira sincera suas limitações vai sair perdendo. Chegar, se aproximar do eleitor será muito difícil.

Presidência
Marina perdeu credibilidade!

Bem Paraná – Como o senhor vê o cenário para a disputa presidencial?

João Arruda !“ A Marina Silva perdeu posição porque ela fazia o discurso antipolítico. Continua fazendo, mas agora ela está em um partido (PSB) que foi base do governo Dilma, teve ministérios !“ o da Integração. Ela não tem mais credibilidade para manter o discurso. Enquanto o Eduardo Campos (governador de Pernambuco) ainda não representa uma ameaça para a presidente Dilma, ninguém vai atacar sua maneira de fazer política. Existia lá muita fisiologia também, tudo o que ela critica no governo da presidente acontecia através do ministério do PSB. Eu vi isso de perto. Não se esqueça que a mãe do Eduardo Campos (Ana Arraes) foi eleita com a grande maioria dos votos da Câmara ministra do TCU (Tribunal de Contas da União). Ela (Marina) perde credibilidade ao apresentar seu discurso pelo PSB.

BP !“ E o governador de Pernambuco, Eduardo Campos?

Arruda – Em relação ao Eduardo Campos, na minha opinião, ou você tem o discurso de situação ou de oposição. Esse discurso de que está bom, vai melhorar um pouco. Ou está bom mas tem condições de melhorar ainda mais para mim não existe. E o eleitor, ou está satisfeito ou insatisfeito. O eleitor não busca o mais ou menos. A não ser que aconteça alguma coisa nova. Quanto ao Aécio (Neves), ele faz o discurso de oposição, mas tem uma imagem muito desgastada. E a presidente Dilma tem o seu governo, que é uma plataforma eleitoral. Como o próprio governador do Paraná faz, qualquer prefeito faz quando disputa a reeleição. As oportunidades para ela são maiores por falta de outros nomes. Se o (José) Serra (PSDB) tivesse ido para o PPS ou para qualquer outro partido, se a Marina tivesse conseguido viabilizar a Rede com o Aécio mantendo sua candidatura o quadro seria mais favorável para a oposição. Haveria certeza de um segundo turno e união de forças nesse segundo turno de três nomes em torno de um. Agora não. Então eu acredito que a Dilma vai ganhar a eleição pela falta de alternativas na oposição. Falta de estratégia.

2014
Reeleições no Paraná sempre foram difíceis!

Bem Paraná – E no Paraná, como o senhor vê o quadro para disputa pelo governo?

João Arruda !“ No Paraná as reeleições sempre foram muito difíceis. Em 98, o Jaime Lerner tinha aprovação alta, baixou a tarifa do pedágio, grande estrutura, uma campanha com muito dinheiro, máquina do governo e mesmo assim, se reelegeu com dificuldades, quase perdeu a eleição para o Requião. Em 2006, o Requião tinha mais de 60% das intenções de voto, não tinha candidatos. O (ex-senador) Osmar Dias (PDT) resolveu sair de última hora, conseguiu reunir alguns partidos, foi para o segundo turno e a diferença foi de dez mil votos (em favor de Requião). Agora nós temos um quadro em relação à  oposição parecido com 2006, em que não existe uma estratégia da oposição. Governador (Beto Richa) muito habilidoso, articula partidos, governa para partidos e para os deputados. Isso facilita na articulação de uma forte aliança. Ao mesmo tempo não tem apoio popular suficiente para garantir uma reeleição tranquila. Então tenta neutralizar, fragilizar possíveis opositores. à‰ o caso do PMDB. Ele (Richa) faz tudo aquilo com os deputados do PMDB que o Requião não fez em oito anos. Inclui bajular, atender, enfim, tudo o que um deputado estadual quer do Executivo. Para neutralizar a candidatura própria do PMDB. Nos últimos meses a gente viu que a candidatura da (chefe da Casa Civil) Gleisi (Hoffmann) se consolidou, pela vontade do PT ter ela como candidata. Mas não pela articulação política. Acho que ela terá dificuldades porque durante todo esse tempo ela ficou afastada do processo, inclusive sinalizando que talvez não fosse candidata. Tem muita força ainda, do governo federal, ainda pode articular uma aliança, mas não com tanta facilidade quanto o governo do Estado. O quadro é esse: possibilidade grande de três candidatos.

BP !“ A grande pergunta hoje é se o PMDB terá candidato próprio ao governo.

Arruda !“ Terá candidato. Hoje há uma resolução da direção nacional de que o PMDB, em qualquer estado, qualquer apoio a uma candidatura que não seja do PMDB, inclusive do PT, passará pelo Diretório Nacional. A direção nacional não disse que não vai deixar o PMDB se aliar ao PSDB. Mas eu entendo que no momento certo essa conversa acontecerá, inclusive com a presidente Dilma. Hoje o presidente (nacional do PMDB) Michel Temer trabalha para continuar na vice (presidência da República). Para o PT, a Gleisi e a presidente Dilma, elas não podem obrigar o PMDB a apoiar o PT. Mas elas têm força para fazer com que o PMDB não autorize uma aliança com o PSDB. Qual seria a alternativa? A candidatura própria. Acho que vai chegar um momento em que se a estratégia é derrotar o Beto (Richa), o melhor é forçar a candidatura do PMDB.

BP !“ Os deputados do PMDB favoráveis à  aliança com o governador alegam que a direção nacional não costuma intervir nos estados e já teria garantido que seria respeitada a decisão do partido no Paraná.

Arruda !“ O que o (Valdir) Raupp (presidente nacional em exercício do PMDB) disse para eles foi que o PMDB não tem tradição de intervir. Só que também não tinha essa resolução. E o Raupp também não tinha nenhum interesse de afastar os deputados do PMDB.

BP – O fato do PMDB ter hoje dois secretários e apoiar o governo na Assembleia não favorece uma aliança?

Arruda !“ A troca deles, o jogo deles, não passou pela Executiva ou pelos militantes. Foi feita entre eles. Mas eles alegam que foi um acordo em troca do apoio na Assembleia Legislativa. Fica ruim o discurso, sem dúvida. Eu acho que eles estão persistindo em um caminho sem volta. Como nós também, porque pelo menos o meu tom é crítico ao governo do Estado. Como vou chegar lá na frente e fazer um discurso defendendo a reeleição do Beto Richa. à‰ difícil para mim. Como para eles é difícil fazer um discurso contra nesse momento. Por isso que eu sempre defendi a antecipação dessa discussão.

PMDB dividido
Requião e Pessuti não precisam conversar para convergir!

Bem Paraná !“ Outro questão é que apesar de tanto o Requião quanto o ex-governador Orlando Pessuti defenderam e reivindicarem a candidatura própria do PMDB ao governo, um não admite apoiar ao outro. Vê chances de uma aproximação?

João Arruda !“ Eu vejo. Porque eles não precisam se conversar. Mas os seus interesses podem se conversar. Eles não precisam se abraçar e dar demonstrações públicas de amor depois de tanta briga. Mas se os seus projetos convergirem e forem para o bem do PMDB e despertem o interesse dos filiados, não vejo porque não discutir essa possibilidade. Até porque hoje o Pessuti fala que é candidato ao governo e que defende a candidatura própria. O Requião também. Então nós todos já estamos defendendo a candidatura própria. Nós já estamos juntos, sem se comunicar. Então os interesses precisam se comunicar.

BP – O PT da Gleisi também propôs aliança para o PMDB, oferecendo a vaga de vice e coligação proporcional. O que achou da proposta?

Arruda !“ Eu pessoalmente, se o PMDB não tiver uma candidatura própria, vou trabalhar com uma aliança com o PT e com a nossa candidata Gleisi. Porque é a continuidade de uma trajetória histórica que temos no Paraná. à‰ o mais coerente. à‰ para isso que eu vou trabalhar. Eu acho que vai ser difícil. Hoje a impressão que eu tenho nas conversas com os filiados, com prefeitos e vereadores do PMDB, é que 70% deles, se não apoiarem a candidatura própria do PMDB, têm uma tendência a querer aliança com o PSDB. à‰ um processo natural, pelas dificuldades naturais pela ministra, que não tem feito muita política. Acho que dá tempo de reverter esse quadro, diminuir essa diferença. Mas a conjuntura de hoje é essa.

BP !“ Os deputados estaduais do PMDB alegam que com candidato próprio, sem alianças, metade da bancada na Assembleia não se reelege.

Arruda !“ Mas não vai se reeleger de qualquer jeito. A votação que eles fizeram era porque eles eram governo, o PMDB era governo, tinha o governador. Em uma aliança proporcional em que um candidato do PMDB, na base do governo Richa, que disputa voto com um deputado do PSDB, do partido do governador, quem vai sair ganhando?

Comments are closed.