Traiano faz trocadilhos já no título de seu artigo semanal ao considerar “fiasco do outro mundo” a gestão petista no governo federal. Fala do “trem-fantasma” (trem bala), mas ainda omite a questão do propinoduto tucano no metrô paulista. O líder de Richa e liderado de Aécio ainda aborda a questão da transposição do rio São Francisco, no Nordeste, mas também não diz nada sobre a crise na segurança pública do Paraná, o caos na educação e o fiasco geral no governo tucano que, já no final do mandato, nada conseguiu fazer.
Como este blog é um espaço democrático e privilegia o contraditório, a seguir se delicie com o texto de Ademar Traiano, líder de Richa e coordenador de Aécio no Paraná:
Fiascos do outro mundo
por Ademar Traiano*
No início do mês a presidente Dilma Rousseff esteve na cidade mineira de Varginha. Aproveitou para declarar que tem muito respeito pelo ET que teria feito uma aparição por lá na década de 90. Poderia ser uma rara demonstração de senso de humor da presidente, mais conhecida pelo temperamento difícil, mas é uma metáfora do que é o PT.
Em Varginha o governo federal torrou mais de R$ 1 milhão para construir um museu em formato de “disco-voador”. Em 1996 três garotas da cidade alegaram ter visto um alienígena. Depois se espalhou o boato em que militares teriam capturado o intruso extraterrestre. Por conta dessas histórias o ‘alien’ se tornou a marca de Varginha.
Um museu do alienígena! começou a ser construído em 2007, quando a prefeitura de Varginha era administrada pelo PT, usando dinheiro do Ministério do Turismo, comandado pela petista Marta Suplicy. Do museu só existe esqueleto de ferro de um prédio em formato de nave espacial. Está enferrujado, abandonado e serve – segundo reportagem da Folha de S. Paulo – de abrigo para nove cachorros sem dono. Todos eles nascidos neste planeta.
O esqueleto do museu virou uma espécie de “PAC do Extraterrestre” tão empacado e dispendioso como a maioria daqueles os que governo petista lança no espaço midiático espalhafatosamente a toda hora para tentar impressionar a nós, terráqueos.
Uma obra abandonada – construída em homenagem a uma criatura inexistente – que consumiu uma fortuna em dinheiro público, com suspeitas de desvios e superfaturamento: é a mais perfeita tradução do PT e do seu modo de governar.
O museu do ET de Varginha, como se sabe, não é o único caso sobrenatural envolvendo o Partido dos Trabalhadores. Sem falar no mensalão, e dezenas de casos de corrupção do outro mundo, a maioria dos grandes feitos da administração petista habita o terreno da ficção administrativa. Talvez por isso o PT conviva tão bem com ETs, criaturas do reino da ficção científica.
Caso exemplar de incompetência intergaláctica é a transposição das águas do rio São Francisco. Durante o governo Lula – um político dono de um ego do tamanho da Via Láctea – lançou-se o programa que deveria acabar com a seca e redimir o Nordeste. A transposição foi anunciada em março de 2004. Segundo Lula, estaria pronta em meados de 2006. Em dezembro de 2010 Lula garantiu que a obra seria inaugurada em 2012.
Nove anos depois do anúncio formal da transposição, nem uma gota de água chegou até nenhum dos 12 milhões de sertanejos que deveriam ser beneficiados com as águas do Velho Chico, e não existem indícios que obra esteja pronta em 2014, conforme Dilma prometeu em 2012. As obras da transposição não chegaram sequer à metade, mas o preço já dobrou. Os R$ 4,8 bilhões estimados em 2007 subiram para R$ 8,2 bilhões !“ desses, R$ 3,6 bilhões já foram desembolsados.
Mais sobrenatural que o museu do ET e a transposição do São Francisco é o caso do trem-bala que deveria ligar o Rio de Janeiro a São Paulo com um Trem de Alta Velocidade (TAV), que seria um símbolo da modernidade petista. A obra seria a marca do governo Dilma que, até agora, só produziu inflação, escândalos e PIBs nanicos.
O projeto acaba de ter mais um adiamento anunciado e está mais com cara de um assustador trem-fantasma que de um trem-bala. Os investidores internacionais querem distância desse mico ferroviário. Alguns analistas acreditam que a obra só será iniciada no dia em que um embaixador marciano apresentar suas credenciais a Dilma Rousseff.
A probabilidade, cada vez maior, do trem-bala nunca sair do papel não quer dizer que a obra – inicialmente orçada em R$ 12 bilhões, que depois passou para R$ 20 bilhões e chegou a R$ 33 bilhões, embora estimativas conservadoras avaliem que seus custos, não fiquem abaixo de R$ 50 bilhões – vai ficar barata para o contribuinte brasileiro.
Só o projeto desse trem-bala já custou R$ 1 bilhão aos cofres públicos. Dinheiro suficiente para construir, por exemplo, 17 mil casas populares de R$ 60 mil a unidade, ou 434 creches de R$ 2,3 milhões, capazes de abrigar 300 crianças cada uma; 5.000 postos de saúde, de R$ 200 mil a unidade; 20 mil viaturas de polícia, de R$ 50 mil; ou ainda 43 hospitais universitários de R$ 23 milhões.
Esse desperdício colossal não impressionou a ministra Gleisi Hoffmann que, por sinal, vem agindo no Congresso para cortar o dinheiro das APAES a pretexto de fazer economia. O governo Dilma quer deslocar as crianças atendidas pelas APAES para rede pública regular de ensino.
Quando indagada sobre o desperdício de dinheiro com um projeto para a construção desse trem-bala delirante, Gleisi revelou uma falta de noção que não parece desse planeta. Garantiu que um transtorno! (perder R$ 1 bilhão em um projeto inútil) como esse faz parte de um processo de aprendizado nosso e também dos investidores brasileiros!. Só nos resta pedir socorro ao ET de Varginha.
Ademar Traiano é deputado estadual pelo PSDB e líder do governo Beto Richa na Assembleia Legislativa.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.