Conterrânea de Lula é eleita presidente da UNE; segue a hegemonia do PCdoB na entidade

do Brasil 247

Filiada ao PCdoB, a pernambucana de Garanhuns Virgínia Barros diz que o governo Dilma é "inconsequente e omisso" na fiscalização da qualidade do ensino superior privado; sobre 2014, vê uma eventual postulação dissidente como "legítima" e descreve Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, como "grande governador" que "ainda vai contribuir muito para o Brasil"; na foto, Lula recebe, em SP, antes do congresso da UNE que elegeu Virgínia e o agora ex-presidente da entidade Daniel Iliescu.
Filiada ao PCdoB, a pernambucana de Garanhuns Virgínia Barros diz que o governo Dilma é “inconsequente e omisso” na fiscalização da qualidade do ensino superior privado; sobre 2014, vê uma eventual postulação dissidente como “legítima” e descreve Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, como “grande governador” que “ainda vai contribuir muito para o Brasil”; na foto, Lula recebe, em SP, antes do congresso da UNE que elegeu Virgínia e o agora ex-presidente da entidade Daniel Iliescu.
A pernambucana de Garanhuns, Virgínia Barros, 27, é a nova presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) para o biênio 2013-2015.

O congresso em Goiânia que elegeu a nova presidente confirmou a hegemonia do PCdoB sobre o movimento estudantil, que comanda desde 1991.

Vic, como é conhecida, diz não poupou o governo Dilma de críticas: “inconsequente e omisso” na fiscalização da qualidade do ensino superior privado.

Ela define a gestão petista como “contraditória”, pela “política econômica conservadora”, e destina o mesmo adjetivo ao governo Eduardo Campos (PSB-PE), por pendências na saúde e na educação básica.

Sobre 2014, vê uma eventual postulação dissidente como “legítima” – Campos é descrito como “grande governador” que “ainda vai contribuir muito para o Brasil”.

Conheça Vic Barros

Economia

UNE – O 53!º Congresso da UNE terminou neste domingo (2) em Goiânia com a eleição da nova diretoria e presidência da entidade. A maior organização de juventude do país elegeu a pernambucana Vic Barros, 27 anos, aluna de Letras na Universidade de São Paulo (USP) sua nova presidenta. Em um processo eleitoral que teve participação recorde e delegados representando 98% das instituições de ensino superior no Brasil, Vic foi eleita pela chapa Bloco da unidade para o Brasil avançar, com 2607 votos (69%), dentro de um total 3.764 delegados credenciados.

As outras chapas concorrentes foram Oposição de Esquerda da UNE!, com 618 votos (16,4%) e Campo popular que vai botar a UNE pra lutar!, com 539 votos (14,3%)

O Congresso da UNE também definiu, no sábado os rumos e posicionamentos da entidade para os próximos dois anos, no que diz respeito à  conjuntura nacional, educação e organização do movimento estudantil. Foi convocada, na plenária final, uma Jornada de Lutas para os meses de junho, julho e agosto, com a pauta central da Educação brasileira.

Em uma remota sala de aula de Garanhuns, no interior de Pernambuco, Tia Lélia escreve no quadro a palavra reivindicar! e explica aos alunos da segunda série o seu significado. A pequena Virgínia, fascinada com a janela do mundo aberta pela carinhosa professora, leva o que aprendeu para uma redação, Meu país Brasil!, que acabou entrando em um livro publicado com textos dos alunos.

Tia Lélia estaria garantidamente encontrando as lágrimas no domingo, dois de junho de 2013, se estivesse na Goiânia Arena, a 2.115 quilômetros de Garanahuns, vendo o que aconteceu à  pupila. Virgínia cresceu, virou Vic, e alcançou estatura ainda muito maior do que seus 1,53 de altura. Presidenta da União Nacional dos Estudantes, não somente aprendeu o significado da palavra reivindicar como transformou-se nele.

A baixinha Vic Barros, hoje morando em São Paulo e aluna do curso de Letras da USP, chega ao posto de maior liderança do movimento estudantil brasileiro, presidindo a mitológica entidade que, há 75 anos, é o exemplo máximo no país para ilustrar aquela lição da segunda série. Ela representa agora sete milhões de estudantes universitários do Brasil, sendo a quinta mulher a ocupar o cargo e figurando ao lado de personagens como o ministro Aldo Rebelo, o ex-governador de São Paulo José Serra, o senador Lindbergh Farias e o ex-ministro Orlando Silva.

De personalidade afável, porém forte, óculos e sotaque marcantes, fã de rock and roll e torcedora do Sport Club do Recife, Vic deixou Garanhuns para conhecer a cidade grande aos 13 anos, passando a adolescência na capital pernambucana. Não participou do grêmio do colégio nem do movimento secundarista, mas já aproximava-se sentimentalmente da política com a admiração a dois líderes de seu solo: Miguel Arraes e Luís Inácio Lula da Silva.

Seu primeiro curso superior foi Direito, no qual formou-se pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Na fila da matrícula, recebeu um panfleto de uma reunião do movimento estudantil e, ainda caloura, já estaria disputando a eleição para o DA do seu curso. Perdeu a primeira mas, em veloz ascensão, acabou chegando alguns anos depois ao DCE da federal e posteriormente à  presidência da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), em uma identificação completa com a militância e à s causas da juventude. Sob sua gestão na UEP, os estudantes conquistaram a gratuidade na Universidade Estadual de seu estado, em 2009.

Insatisfeita com a ideia de encerrar sua vida acadêmica e admtindo ter procurado o curso de Direito muito em função das expectativas dos pais, mudou-se para São Paulo e permitiu-se outro sonho, explorar a paixão pela literatura, pelos versos, narrativas e possibilidades da palavra em um dos mais respeitados cursos de Letras do Brasil. Blogueira, sempre atenta à  internet e à s redes sociais, virou diretora de Comunicação da UNE e, no ano de 2012, garimpou o suado e merecido reconhecimento nacional dentro do movimento estudantil coordenando a Caravana UNE+10, iniciativa que percorreu universidades de todo o país para colher anseios e propostas da juventude em relação ao futuro do Brasil.

A UNE que Vic assume lhe permite, por gracejos do destino, representar exatamente aquela geração do movimento estudantil que mudará, para sempre, o futuro das milhões de outras tias Lélias e Virgínias que virão. Os 10% do PIB para a Educação, principal luta da entidade, poderão ser conquistados em sua gestão dependendo da mobilização e cobrança dos estudantes no processo do tramitação do Plano Nacional de Educação (PNE) no Congresso Nacional. Estão diretamente vinculadas, também, as lutas por 100% dos royalties do Petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação.

Feminista e contrária ao conservadorismo na sociedade e na universidade, espera ampliar na UNE os encontros de estudantes negros, de mulheres e da diversidade sexual. Filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e militante da União da Juventude Socialista (UJS), acredita que o Brasil pode avançar no debate sobre as drogas, espera denunciar o extermínio dos jovens negros e pobres, assim como lutar pela democratização dos meios de comunicação do país.

No que diz respeito à  relação com o governo federal, promete mais radicalização e pressão, destacando a reivindicação imediata de 2,5 bilhões de reais no Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) e cobrando do ministro da Educação Aloizio Mercadante medidas para solucionar os problemas da expansão das federais já apontadas pela UNE. Outra prioridade que aponta, nos próximos dois anos, é atacar a desnacionalização do ensino privado no país, cada vez mais entregue aos grupos financeiros internacionais.

Com um horizonte complexo e desafiador à  frente, Vic parece não se intimidar. A pequena de Garanhuns lembra constantemente do irmão Vinícius, que faleceu jovem, ainda aos 27 anos, para inspirar a sua própria ascensão. Maior ídolo da presidenta da UNE, ele deixou, segundo ela, o exemplo do envolvimento constante em causas coletivas, sociais, humanitárias, em tudo aquilo que pode, de certa forma, mudar o mundo.

Hoje ela cresce, dentro da UNE, sabendo que não está sozinha. Sua citação favorita, publicada no seu perfil do Facebook e extraída do romance único de Raduan Nassar, Lavoura Arcaica!, atesta como 1,53 pode ser, definitivamente, a altura de uma pessoa enorme:

A sabedoria está exatamente em não se fechar nesse mundo menor. Humilde, o homem abandona a sua individualidade para fazer parte de uma unidade maior, que é de onde retira sua grandeza!.

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