Juro que a cada dia me surpreendo mais. A Consilux, aquela da indústria da multa, de Curitiba, também faz casas na Venezuela. Ajuda a arrecadação na capital paranaense, mas também tem seu lado social: constrói habitações. “Misión Vivenda”, uma versão do Minha Casa, Minha Vida, criada pelo ex-presidente Hugo Chávez, morto em março passado. Prefeito Gustavo Fruet, aproveite os cem dias e rompa com essa picaretagem da indústria da multa. A seguir as informações do Opera Mundi:
O déficit habitacional era e permanece um dos principais desafios da Venezuela. Tanto que Hugo Chávez lançou em 2011 um ambicioso programa de moradia, a Misión Vivienda, que tem como objetivo entregar três milhões de casas até 2018. De acordo com o governo, 64% delas já saíram do papel.
Com a aproximação de Brasil e Venezuela, fortalecida com o estabelecimento de um convênio bilateral em 2005, veio o convite para que empresas brasileiras participassem dos projetos habitacionais. A Consilux, do Paraná, enxergou naquele momento a oportunidade de investir em construção civil em um ambiente com concorrência menos feroz que o brasileiro. O primeiro contrato foi assinado em 2011.
Essa relação política estratégica, de se voltar para o Sul, para as empresas latino-americanas, indicou que precisávamos estar unidos. E que as empresas faziam parte desse processo. Todas as companhias que estão aqui devem isso ao impulso do Lula, que enxergou as oportunidades também de intercâmbio comercial!, afirma Espartano da Fonseca, CEO da empresa em Caracas.
A partir de setembro de 2011, a Consilux colocou em marcha a construção de um polo urbano de desenvolvimento endógeno em Ciudad Bolívar, capital do Estado de Bolívar. A ideia, de acordo com Fonseca, era criar uma estrutura habitacional que incluísse também escolas, hospitais, delegacias e conselhos comunais, por exemplo, fazendo com que o morador não precisasse sair de seu entorno com tanta frequência.
Com um orçamento de 100 milhões de dólares, a Consilux entregou até o momento 788 casas, de um total de 1032, em um projeto que emprega em média 900 pessoas. As residências têm 70 m!², três quartos !“ sendo uma suíte !“, sala de estar, de jantar, cozinha e área de serviço, e estão divididas entre estruturas geminadas e prédios de quatro andares, com oito apartamentos em cada andar. O padrão é altíssimo. Dificilmente vemos moradias de tão alto nível sendo construídas por outros governos!, salienta. O contratante é o Ministério da Habitação, porém, quem paga é a estatal petrolífera PDVSA, através do Fundo Simón Bolívar.
Dificuldades
De acordo com Fonseca, a maior reclamação da empresa é a falta de planejamento do governo venezuelano para as obras, o que tem reflexos diretos nos pagamentos e no andamento dos projetos. Qualquer país precisa definir quanto tem pra gastar, fazendo uma projeção do ano, com limite de contratação. Eles deveriam priorizar as obras em andamento e atrasar o início de novas!, opina.
Segundo ele, a partir de 2009 e 2010, o governo venezuelano pediu que as casas em Ciudad Bolívar começassem a ser entregues mesmo sem o projeto estar completamente pronto. Foi difícil, porque já havia famílias morando lá, com crianças circulando, dentro da obra. A logística é complicada, pois envolve equipamentos pesados!, explica o empresário.
Fonseca conta que um dos reflexos dessa situação é a falta de material de construção. Porque tem muita obra e pouca indústria que produz aqui. Trazemos muita coisa de fora!, afirma. Outro é o fluxo de caixa, que frequentemente se vê comprometido pelo atraso nos pagamentos. Na construção civil, diz, quando uma obra é iniciada, não é tarefa simples interrompê-la. à‰ preciso afinar o ritmo de obra e de pagamentos!, argumenta.
Ele relata que nunca houve qualquer ação oficial do Brasil junto à Venezuela para debater as dificuldades, mas sim conversas informais. Quem sempre buscou soluções foi Maduro, como chanceler. Ele tem bastante experiência, pois soube escutar e absorver experiências no exterior e sabe que há soluções!, diz o CEO da Consilux.
De concreto, lembra Fonseca, foi o intercâmbio de conhecimento entre o governo venezuelano e a Caixa Econômica Federal. A Caixa, no âmbito do convênio de cooperação Brasil – Venezuela, disponibilizou técnicos que trabalharam na experiência brasileira do Minha Casa, Minha Vida. Chávez sempre se preocupou em buscar caminhos e insistia que os ministros deveriam ter mais eficiência, tanto no acompanhamento das obras como com a questão do pagamento!, diz.
Eleição
Agora, com o falecimento de Chávez, Fonseca diz não prever profundas mudanças, especialmente caso haja uma continuidade do chavismo no poder. A Venezuela realiza eleição em 14 de abril. A relação entre os governos permanece forte, porque já havia sido semeada!, comenta, destacando a criação de umasinergia!entre Venezuela e Brasil, a partir do relacionamento entre Lula e Chávez.
Eu, como empresário, farei questão de dizer que sou brasileiro e de lembrar que lá há amigos do presidente Chávez, que são Lula e Dilma. O ex-presidente nem sequer precisa vir aqui para representar as empresas, porque já fez isso!, conclui.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.