Zé do Chapéu, banqueiro quebrado na Era FHC alivia BTG

do Brasil 247

Retirado em uma fazenda a 340 km de Curitiba, Zé do Chapéu, como José Eduardo de Andrade Vieira era chamado em seus tempos de poderoso senador, ministro e maior doador da campanha de Fernando Henrique à  Presidência, foi o último a saber sobre a venda do que restou de seu antigo Bamerindus; ele perdeu tudo após um dos mais nebulosos negócios financeiros do governo tucano; agora, o BTG de André Esteves comprou, com o espólio do banco, uma fortuna de R$ 1 bilhão em abatimento de impostos, por menos da metade desse valor; Zé do Chapéu, que sonhou ser presidente, foi o último a saber: "Minha televisão estragou".
Retirado em uma fazenda a 340 km de Curitiba, Zé do Chapéu, como José Eduardo de Andrade Vieira era chamado em seus tempos de poderoso senador, ministro e maior doador da campanha de Fernando Henrique à  Presidência, foi o último a saber sobre a venda do que restou de seu antigo Bamerindus; ele perdeu tudo após um dos mais nebulosos negócios financeiros do governo tucano; agora, o BTG de André Esteves comprou, com o espólio do banco, uma fortuna de R$ 1 bilhão em abatimento de impostos, por menos da metade desse valor; Zé do Chapéu, que sonhou ser presidente, foi o último a saber: “Minha televisão estragou”.
Zé do Chapéu era como todos o chamavam e reconheciam em Brasília. Nem dava para ser diferente. Viajando em seu exuberante Lear Jet PT-OCA, no qual carregava políticos por todo o Brasil, falando alto e grosso, sempre com pressa, José Eduardo de Andrade Vieira vivia à  sombra de um imenso chapéu branco do melhor estilo cowboy. Em abril de 1997, numa das operações mais polêmicas do governo Fernando Henrique Cardoso, ele teve seu banco, o Bamerindus, vendido pelo Banco Central ao inglês HSBC, após ter sofrido intervenção. Com mais de R$ 10 bilhões em ativos, 1,2 mil agências, 3,1 milhões de correntistas e uma das mais rentáveis seguradoras do país, saiu pelo preço de R$ 381,6 milhões.

A revista Veja, em reportagem publicada cinco meses depois, considerou a operação como “um presente” em título, “uma doação” no corpo do texto. Fernando Henrique era o presidente da República, Pedro Malan seu ministro da Fazenda e Gustavo Franco, o presidente do Banco Central.

Veja registrou o seguinte:

“O Bamerindus foi doado da seguinte maneira: os ingleses darão os 381,6 milhões ao BC, em troca de 1 241 agências, ativos de mais de 10 bilhões de reais e uma das seguradoras mais rentáveis do país. Pagarão em sete anos, o que já é uma facilidade. Na surdina, o HSBC recebeu 431,8 milhões de reais do BC para reestruturar o Bamerindus e saldar reclamações trabalhistas”.

Em seguida, o complemento:

Economia

“Além de agências, prédios, depósitos e perspectiva futura de lucro, o HSBC ainda recebeu um troco de 50,2 milhões”. A reportagem foi assinada por Franco Iacomini e Expedito Filho.

Em 2000, quando já havia perdido o seu banco para o HSBC, Zé do Chapéu resolveu contar um pouco do que sabia da campanha de eleição de Fernando Henrique para a Presidência da República, em 1994, da qual havia sido o maior doador. Os recursos injetados lhe valeram a titularidade do Ministério da Indústria e Comércio.

“Foram arrecadados 30 milhões no caixa oficial e cerca de 100 milhões de reais de contribuições extra-oficiais, ou seja, sem recibo”, afirmou o ex-ministro, de acordo com reportagem da mesma revista Veja, de agosto de 2000, a respeito da campanha de 1994. “Andrade Vieira insinuou ainda que o dinheiro foi enviado a um paraíso fiscal: “Provavelmente está no exterior. Debaixo do colchão é que não está”. Para completar, disse que Sergio Motta cuidava das “compras e pagamentos do presidente”, responsabilidade repassada a Eduardo Jorge após sua morte”.

Fernando Henrique respondeu em entrevista, dizendo que a afirmação era mentirosa. A respeito das doações feitas por Zé do Chapéu à  sua campanha, a entrega a ele de um ministério e posterior quebra do Bamerindus em operação nebulosa, FHC saiu com essa, em declaração a O Globo: “Eu sei separar as coisas”.

Hoje, Andrade Vieira vive do pouco que sobrou de seu patrimônio que, nos tempos áureos, foi estimado em US$ 200 milhões: uma fazenda a 380 quilômetros de Curitiba. Ali, plantava milho quando foi supreendido pelo telefonema de um jornalista do Valor Econômico, com a informação de que o que restou do Bamerindus em poder do Banco Central (a banda pobre não vendida pelo BC de FHC ao HSBC) estava indo parar, outra vez por menos de R$ 500 milhões, nas mãos do esperrrto banqueiro André Esteves, do BTG Pactual.

“Sabia que esse negócio iria interessar a quem tem muito imposto a pagar”, disse o velho Zé do Chapéu. “Mas eu não fiquei sabendo de nada. Minha televisão estragou”. Ele pode ter algum recurso a receber nessa última venda, mas iguamente não sabe dizer quanto. O certo é que, na operação completada agora, tudo o que se apurou nas duas vendas do Bamerindus de R$ 10 bilhões em ativos não chegou a R$ 1 bilhão.

Comments are closed.