Depois de Dirceu e Lula, será a vez de Dilma?

O script do golpe

Por Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, via BR 247.

Num instigante artigo, chamado “O script do golpe”, Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, argumenta que, depois da condenação de José Dirceu e da abertura de um processo criminal contra Lula, a partir da delação premiada de Marcos Valério, a presidente Dilma Rousseff entrará na mira dos meios de comunicação e da oposição, aparentemente incapazes de derrotá-la na urna; golpismo paraguaio em marcha.
Vencidas as inacreditáveis ingenuidade e imprudência de democratas bem-intencionados que chegaram a crer que a direita midiática continuaria aceitando ser contrariada por uma vontade popular que as urnas teimam em expressar eleição após eleição desde o histórico 2002, é chegada a hora de ler o script do golpe !“ que já não se esconde.

Retrocedamos, pois, ao limiar daquele outono de 1964, quando, já em nome do combate à  corrupção!, os mesmos meios de comunicação evocavam a ética! contra o governo trabalhista de então, que, tenhamos presente, cometia o crime! de combater a desigualdade renitente que infecta a nação há 500 anos, só que com muito menos ousadia do que o atual.

No início dos anos 1960, o Coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda das nações, em sua versão verde-amarela, já altíssimo, alcançava a marca pornográfica de 0,52 !“ quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade.

Aos trancos e barrancos, no limiar do golpe Jango Goulart retomara, em certa medida, o controle do governo, após tentativas civilizadas de impedir que adotasse medidas contra uma chaga nacional que escandalizava o mundo e mantinha o país agrilhoado ao atraso.

Economia

A expressão reforma agrária! também escandalizava, só que aos detentores do que, à  época, tinha muito mais importância do que hoje: a propriedade da terra. E, para colocar lenha na fogueira, os movimentos estudantil e sindical se entregavam, entre um devaneio e outro, ao idílio socialista. E o que é pior: sem fazer maior segredo.

Os arreganhos golpistas, para se venderem à  sociedade, não falavam no direito! dos ricos a concentrarem parcela indecente da renda. A ideia de que o povo estava sendo roubado pelo governo justificaria melhor a conspiração que já germinava nas redações dos donos da imprensa!.

Era preciso, pois, construir razões! para justificar o uso da força bruta a fim de obter o que, cada vez mais, ficava evidente que não seria obtido pelas urnas !“ até porque, na falta de votos, fraudá-las seria impossível estando os comunistas! no poder, pois são os governos que organizam eleições.

Dez anos antes, a mesma desculpa fora usada para acuar aquele que, heresia das heresias, ousara erigir uma legislação trabalhista que tantos custos! acarretara ao pobre! capital.

A história do Brasil, como se vê, é a prova de que a corrupção! sempre foi o artifício do capital e das elites para manter a esquerda, seu trabalhismo e seu viés distributivista de renda longe do poder de Estado.

A pontuação do coeficiente de Gini, naquele outono de 1964, era pouco maior do que é hoje. Com a ditadura, as coisas foram postas no lugar, ou seja, de 0,52, naquele momento, ao fim da ditadura foi parar em cerca de 0,60, em um processo que tornou o rico mais rico e o pobre, mais pobre.

Entre todas as razões para o golpismo se erguer de novo por estas bandas, portanto, a queda vertiginosa do Gini que marcou os governos Lula e Dilma explica, como nada mais, a volta das acusações de corrupção ao grupo político que, no poder, é responsável por, em dez anos, devolver ao Brasil o que a ditadura levou vinte para lhe roubar !“ em 2012, o índice é pouco menor do que o de 1964.

No entanto, se as razões de hoje para o golpismo via acusações de corrupção ao governo de turno são as mesmas de há meio século, o script do golpe teve que ser reescrito. Não existe mais o inimigo externo a ameaçar tomar os bens das famílias mais abastadas para entregá-los à  ralé preguiçosa, morena e inculta.

Sem a ameaça de tropas vermelhas a marchar sobre a nação, não se justifica mais o uso das forças armadas para golpear a democracia. à‰ por aí que começou a ser construída, em Honduras, uma modalidade de golpe que há pouco se reproduziu no Paraguai de forma mais próxima !“ porém ainda grosseira !“ do modelo que se pretende aplicar por aqui.

O golpe constitucional! de Honduras inaugurou a modalidade, o do Paraguai a refinou um pouco mais, mas ainda não o suficiente para ser usada no Brasil. O ansiedade por retomar o poder naqueles países pecou pelo tempo escandalosamente curto para desenvolver o processo.

No Brasil, com a comunicação de massas, o Judiciário, os militares e boa parte da classe política de acordo, pode-se dar tempo ao tempo, começando a devorar a democracia pelas beiradas.

A aceleração que se está vendo do processo, portanto, deve-se à  gota d”água que foram as eleições de 2012, que extirparam aos golpistas contemporâneos qualquer esperança em obter do povo a colaboração eleitoral para recolocá-los no poder.

Pela burrice de que padecem os autoritários, confiaram na burrice! popular que acreditaria, por exemplo, em uma revista que há dez anos, semana após semana, só enxerga e denuncia corrupção em um único partido, em um único nível de governo. Passada a última surra eleitoral, aplicada bem quando a bomba atômica (o julgamento do mensalão) foi detonada, não há mais esperança.

A condenação ditatorial de José Dirceu, José Genoino e outros petistas menos relevantes não conspurcou nem o PT, nem Lula e muito menos o governo Dilma Rousseff. Acabaram-se as ilusões.

Assim, o golpismo destro-midiático descobriu que o povo simplesmente se recusa a acreditar que o PT inventou a corrupção no país !“ premissa contida no fato de petistas serem os primeiros políticos a ser condenados pelo STF após mais de cem anos de história republicana.

Eis que a ingenuidade de Lula e de Dilma, quase inacreditável, foi um presente dos deuses !“ ou dos demônios !“ para o golpismo tupiniquim. Lula, um estrategista político como nunca se viu outro no Brasil, nomeou, de olhos fechados, inimigos políticos para o cargo que dá a quem ocupa a prerrogativa de processar até o presidente da República.

Dessa maneira, há poucas dúvidas !“ se é que existe alguma !“ de que o doutor Roberto Gurgel aceitará, gostosamente, a denúncia que a oposição faz à quele que responsabiliza por suas derrotas eleitorais, o que ela faz por não entender que o que leva o povo a votar nos que ele indica não são seus belos olhos, mas a distribuição de renda e oportunidades.

Os golpistas mais espertos, então, já sabem que anular Lula será insuficiente enquanto a vida do brasileiro continuar melhorando. Mesmo que consigam fazer o processo dele andar até as eleições de 2014, de forma a chegar lá desmoralizado, a situação do país reelegerá Dilma.

Se mesmo após Lula ter sido inocentado nas investigações sobre o mensalão agora estão conseguindo envolvê-lo com matérias meramente opinativas de revistas e jornais, o que custará descobrirem!, antes de agosto !“ quando Gurgel será substituído !“, que a presidente, que integrou o governo anterior, também integrou a quadrilha!?

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