Por Enio Verri*
No dia de ontem (31), o governo anunciou mais um reajuste na conta de luz. Quase 50% a mais no valor cobrado na bandeira tarifária, e foi batizada de “bandeira de escassez hídrica”. O valor da taxa adicional cobrada nas contas de luz passará de R$ 9,49 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) para R$ 14,20. O valor já passa a valer de hoje cm previsão para durar até 30 de abril de 2022. É bom destacar que, no final de junho, o valor da bandeira vermelha patamar 2 já havia subido 52%.
Segundo o governo, o aumento se deve às despesas do acionamento de usinas térmicas e das medidas para evitar apagões e racionamento de energia. No entanto, o ministro de Minas e Energia já pede que indústrias e cidadãos façam economia no consumo de energia elétrica.
Já o ministro da Economia, antes do anúncio, proferiu frases no mínimo indecorosas. Primeiro questionou qual seria o problema da conta de energia aumentar um pouco. Depois ressaltou que o reajuste aconteceria e que não adiantaria “ficar sentado chorando”.
Ou seja, além de já pagar uma bandeira já com custo elevado, o consumidor terá que pagar mais por conta da falta de planejamento e de má gestão da equipe do governo. A bandeira de emergência hídrica sequer existia. E com essa nova taxa, a conta deve pesar 6,78% a mais na tarifa média dos consumidores regulados, como os residenciais.
A crise hídrica já era prevista.
E quem não se lembra do desmonte do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e descrédito do órgão pelo governo? Em agosto de 2019, Bolsonaro exonerou o diretor do INPE, Ricardo Galvão, por não concordar com os dados do órgão. São esses dados que o país pode usar para se planejar anteriormente a uma crise como a que estamos passando.
Sem falar no incentivo ao desmatamento e incêndios que também afetam o meio ambiente e são fatores que se somam para agravar a crise hídrica no Brasil. Toda essa política antiambientalista tem suas consequências.
E ainda estamos sob risco de apagões, como tivemos em 2001. Ano passado testemunhamos isso, quando parte da população do Amapá ficou 22 dias sem luz, e até hoje ainda sofrem com as quedas de energia.
É o retrato de um governo que sempre escolhe regredir. Já estamos lutando contra inflação e desemprego, e a crise energética tende a piorar esse cenário com aumento de custos para o setor produtivo.
Mesmo sem querer usar a expressão, mas o governo já coloca o RACIONAMENTO em pauta, com medidas para serem seguidas em órgãos públicos e indústrias.
Ao invés de investimentos na geração de energia, o governo optou por sucatear e privatizar. Uma cartilha que conhecemos e sabemos que não dá certo. Nem em fontes de energias alternativas o governo pensou.
Por enquanto, a população ainda é obrigada a escutar do presidente para “apagar um ponto de luz”, como a solução do problema fosse esse tipo de conselho.
Saímos de uma época de Luz para Todos, do governo Lula, para a atual situação de luz para poucos, com Guedes e Bolsonaro.
*Enio Verri é deputado federal (PT-PR) e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
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Diretor-geral da Itaipu Binacional. Ex-deputado federal pelo PT-PR.