Decifrando Ratinho Júnior

por André Gonçalves, via blog Conexão Brasília

Ratinho Junior (PSC).
à€s vésperas da campanha deste ano, o diretor do instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, fez uma previsão enigmática do que viria pela frente. Preste atenção: a Curitiba do Jaime Lerner não existe mais!, dizia ele. Em outras palavras, queria explicar que o perfil médio do eleitor mudou tanto que os velhos fundamentos políticos da cidade se deterioraram.

A nova massa de votantes vê o papo sobre canaletas exclusivas para ônibus, Jardim Botânico e Rua 24 horas como algo perdido no século passado. Eles são filhos de uma outra! Curitiba, jovem, com perspectiva de ascensão social. Gente de bairros periféricos (CIC, Butiatuvinha, Sítio Certado, Tatuquara…) que simplesmente não tem qualquer vínculo com as regiões mais nobres da cidade.

São pessoas que migraram para a capital para subir na vida – o que faz todo sentido. Segundo o estudo Os emergentes de Curitiba!, assinado pelo ex-chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas e atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Marcelo Neri, a pobreza na cidade caiu 53,4%, entre 2004 e 2009. Já a renda per capita média subiu 47% (de R$ 819,38 para R$ 1.203,62), entre 2003 e 2009, bem acima da média nacional de 32%.

Essa fatia da população tem outros tipos de demandas, outras formas de encarar a política. Já não se projeta mais à  sombra de sobrenomes famosos, de gente bonita e rica que supostamente nasceu para governar. Os emergentes têm demonstrado que querem votar em alguém igual a eles, que entenda seus problemas.

Eis que aparece Ratinho Júnior (PSC) e sua campanha colorida das novas ideias. A imagem dele na propaganda política é daquele meninão boa praça do bairro que sempre dá uma força na obra do vizinho, dança com as velhinhas e que junta as mesas depois da festa de aniversário de criança. Sem contar que é bom cristão, como atesta o apoio do pastor Silas Malafaia.

Economia

Um sujeito simples, com os trejeitos do pai apresentador de televisão, e cheio de propostas práticas. A síntese de todas elas: dar uniforme e tênis para os alunos da rede pública municipal.

Enquanto isso, os principais rivais dele praticam o jogo de sempre. Luciano Ducci (PSB) se pendura em Beto Richa (PSDB), que por usa vez seguiu a trilha do pai governador. Gustavo Fruet (PDT) também fala do pai prefeito e dos tempos de liderança estudantil no Centro Acadêmico Hugo Simas.

Inegavelmente, é mais fácil entender a língua de Ratinho Júnior. No fundo, a lógica é inversa: foi ele quem decifrou a melhor maneira de se fazer ser entendido pelos emergentes. Inventou isso com uma matemática própria, de que a prefeitura tem dinheiro sobrando para as novas ideias! (será que tem mesmo?) – e ponto final.

Ratinho Júnior está errado? Depende do ponto de vista. O fato é que os outros não captaram como deveriam as mudanças de Curitiba. Agora correm o risco de soar falsos ao querer dividir território.

à€s vésperas do primeiro turno, o fenômeno Ratinho Júnior parece consolidado. Tomara, no entanto, que a reação a ele não seja calcada apenas no preconceito da luta de classes. Apesar das diferenças, do Tatuquara ao Batel, Curitiba é e deve continuar sendo uma só.

O importante é que vençam as ideias. Não necessariamente as novas, mas as melhores. Como um dia já foram !“ e que talvez continuem sendo – as de Jaime Lerner.

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