“Para cada 10 materiais de campanha destruídos na rua do meu filho [sic], vou mandar fazer 100, 200”, avisa Ratinho

do Valor Econômico

Apresentador Ratinho.
A ligação no fim da tarde de sexta-feira foi recebida na frente de uma empresa de ônibus, pouco antes de um novo périplo em busca de votos. Carlos Roberto Massa Junior comemorou ao saber que novamente uma pesquisa do Ibope apontava empate técnico triplo na disputa pela Prefeitura de Curitiba, desta vez com o nome dele à  frente dos adversários, com 27% das intenções de voto. Ratinho Junior, como é chamado, é a grande novidade nas eleições da capital paranaense. Com apenas 31 anos de idade e filiado ao pequeno PSC, ele desafiou o atual prefeito, Luciano Ducci (PSB), que busca a reeleição e tem como padrinho o governador Beto Richa (PSDB), e também o ex-deputado Gustavo Fruet (PDT), que tem a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, como principal cabo eleitoral.

Se, em anos anteriores, havia polarização entre candidatos apoiados pelos ex-governadores Jaime Lerner ou Roberto Requião (PMDB), o que se vê agora é que a força desses grupos já não é mais a mesma. E que os planos para 2014 correm riscos em várias legendas. A começar por Richa, que conta com a permanência de seu grupo na prefeitura quando for buscar a reeleição. Ou Gleisi, interessada em colocar o PT no Palácio Iguaçu. E também Requião, que decidiu apoiar o ex-prefeito Rafael Greca, que só aparece na quarta colocação.

“Isso não era esperado e não vemos isso em Curitiba há bastante tempo”, comenta Luciana Veiga, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná, sobre a disputa apertada entre três candidatos. Na opinião dela, a política partidária está sendo preterida em favor do que é novo e que vem respaldado pela fama do pai e por um vocabulário fácil, que atrai os mais jovens.

Filho do apresentador de televisão Ratinho, que não tem poupado esforços na campanha do primogênito, Ratinho Junior já enfrentou as urnas três vezes e, em todas elas, se saiu bem. Foi eleito deputado estadual em 2002, pelo PSB, com 21 anos e 189 mil votos. Foi para o PPS e, em 2006, recebeu 205 mil votos na disputa para deputado federal. Em 2010, já no PSC, foi o campeão em votos no Estado, com 359 mil. Ele não se considera um azarão no pleito atual. “Eu esperava ter um desempenho bom”, conta. E não esconde de ninguém que quer ir além. “Sonho em ser governador.”

No fim de semana, pai e filho caminharam pelas ruas da capital para pedir votos e o programa deve ser repetido nos próximos sábados e domingos. Recentemente, ao saber que placas com o nome do filho estavam sendo danificadas, Ratinho mandou recado pelo Twitter. “Para cada 10 materiais de campanha destruídos na rua do meu filho [sic], vou mandar fazer 100, 200”, avisou.

Economia

Dinheiro, ao que tudo indica, não é problema. Ratinho Junior é dono do maior patrimônio entre os candidatos: R$ 7,5 milhões, resultado de sociedade em negócios da família, que envolvem, entre outras coisas, fazendas no interior do Paraná, indústrias de alimentos e empresas de comunicação. Ele também conta com apoio de empresários, como o ex-deputado Marcelo Almeida (PMDB), que foi um dos parlamentares mais ricos do país.

Antes da campanha, o que se dizia era que Ratinho Junior poderia sair como vice tanto de Ducci como de Fruet. “Nunca cogitei isso”, afirma ele, acrescentando que nenhum convite formal chegou a ser feito. “Os outros divulgavam isso para me enfraquecer.” Desde junho do ano passado o candidato começou a circular pela capital com a intenção de apresentar um plano de governo que agradasse aos curitibanos. Ouviu padres, pastores, professores e representantes dos bairros. A dificuldade era conseguir apoio de outros partidos para ganhar tempo na propaganda eleitoral gratuita. Conseguiu reunir na chapa o PTdoB, PCdoB e PR e, entre outras coisas, promete creches noturnas, uniformes escolares, instalação de 450 câmeras de vigilância, criação da secretaria da mulher e programa voltado à  saúde do homem.

A juventude de Ratinho Junior é um ingrediente a mais no contato com os eleitores, mesmo item que sempre ajudou o tucano Beto Richa. Uma família bonita também é apresentada por ele, que foi pai aos 23 anos. O candidato tem duas filhas e a esposa, Luciana, está grávida de oito meses de um menino. Questionado se ela ocupará algum cargo, caso seja eleito, ele responde rápido. “Acho que não. Prefiro que cuide dos nossos filhos.”

Por enquanto, o candidato não teve de se defender de ataques e também não se ocupou em fazer denúncias. “Acho que o curitibano não gosta disso”, opina. Ducci preferiu criticar primeiro Fruet, ex-tucano que agora é apoiado pelo PT. Se, com o resultado das pesquisas, o tom for alterado, ele promete reagir. “Sou da paz, mas não fujo da guerra.” Gozações com seu nome não incomodam. O Valor encontrou no comitê central do PSC uma placa com foto do candidato contendo a pichação “mata rato” inscrita na testa e bigodes. “à‰ uma política atrasada, mas não é quem tem mais bandeira que vence a eleição”, comenta. O pai ganhou o nome Ratinho quando era uma criança magra e escondia bolas de futebol quando não era escolhido para o time. Ele virou o Ratinho Junior.

No mesmo comitê, em reunião com sambistas e representantes de afrodescendentes, o candidato disse que “gente de bem não segrega”, e mostrou que circula bem tanto entre cristãos, cuja denominação ele traz na legenda, como com representantes de outras religiões. “Tenho ligações forte com igrejas evangélicas e conto com apoio também de muçulmanos”, informa ele, que tem o pai católico, a mãe testemunha de Jeová e é contra o aborto.

Juninho – como Marcelo Almeida o chamou no primeiro programa do horário eleitoral – é formado em Comunicação e, fora da campanha, faz programas de rádio, uma de suas paixões. Mas a figura televisiva do pai, ex-repórter policial em Curitiba, onde começou a erguer seu patrimônio, é mais forte para boa parte dos eleitores. “Conheço seu pai desde que ele tinha 19 anos”, diz Eunice Reinaldo da Costa, de 60 anos, ao pedir uma foto ao lado do candidato. Vestido com terno branco e usando chapéu, o compositor Marcos Moura, 55, toca cavaquinho e apresenta a música que fez para que votem no 20, número do partido. “Já compus para outros políticos, mas nunca fui reconhecido como estou sendo agora. Ele é humilde”, afirma.

Ratinho também conta com o apoio do ex-governador Orlando Pessuti (PMDB), que diz que o candidato “é altamente qualificado para gerenciar Curitiba”. Sobre o tema mobilidade, um dos mais importantes na capital, ele defende a necessidade de oferecer “um sistema que feche” ao oferecer conforto e vantagem econômica ao usuário. “Senão a pessoa vai usar carro ou moto.” Ele defende o metrô na cidade, mas acrescenta que é preciso também um projeto de curto prazo, que resolva os problemas de agora, como congestionamentos e ônibus lotados nos horários de pico.

Uma das estratégias da campanha do PSC foi colocar um arquiteto como vice, Ricardo Mesquita, que estampa a profissão na campanha. Se Lerner, um arquiteto, fez fama internacional depois de passar pela prefeitura, a equipe acredita que o vice pode ajudar a conquistar o eleitorado, por ter atributos técnicos que Ratinho não tem. “Não negociei um cargo com ninguém”, garante ele. “Vou montar uma equipe técnica e enxugar a máquina.”

Ratinho, que nasceu em Jandaia do Sul, no Norte do Paraná, e mudou-se para a capital com três anos, costuma gesticular bastante enquanto fala. Diz que está confiante que vai para o segundo turno e não deixa de ressaltar que o cenário atual não é comum. “Um cara que sai contra as máquinas, como estamos fazendo, não pode ser muito normal. Tem de ser fora da casinha”, diz.

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