A entrevista de Ratinho Jr no Metro: “Não estou pensando em 2014”

“Vou resgatar o planejamento”, promete o pré-candidato

via jornal Metro

Ratinho Jr: "eu não tenho apadrinhamento político". Foto: Metro.
O deputado federal Ratinho Junior (PSC), pré-candidato a prefeito de Curitiba, é a surpresa do período pré-campanha.

As primeiras pesquisas eleitorais o colocaram em segundo lugar na preferência do eleitorado, atrás de Gustavo Fruet (PDT) e à  frente do atual prefeito, Luciano Ducci (PSB). Ainda assim, Ratinho Jr. tem que responder todos os dias se sua candidatura é para valer. Aliado dos sonhos de Ducci e Fruet, o deputado garante, nesta entrevista ao Metro, que será, sim, candidato, e conta o porquê.

Por que o eleitor deve votar no senhor?

Porque eu vou resgatar o planejamento na cidade. Curitiba sempre foi uma cidade que teve capacidade de encontrar soluções antes que os problemas viessem a aparecer. Hoje se perdeu esse padrão de gestão e de planejamento. Há uma cultura dos gestores públicos de pensar apenas em seu mandato. Eu faço parte de uma nova safra da política, tenho a missão de buscar um novo modelo de gestão, como o dos asiáticos, que fazem um planejamento a longo prazo. O curitibano não quer perder a qualidade de vida, que vem desde o mandato do prefeito Ivo Arzua, em 1962, com a criação do Ippuc, a grande central de gênios da nossa cidade.

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O Ippuc seria um órgão importante na sua gestão?

Será o grande cérebro da cidade. Não só em urbanismo, sua grande finalidade, mas nas demais áreas.

Em que áreas Curitiba sofre com a falta de planejamento?

No transporte coletivo, por exemplo. Foi feito num planejamento que chegou no ano 2000, de certo modo, com qualidade. Mas não se pensou numa alternativa. Em uma cidade com 1 milhão de habitantes esse modelo vai bem. Hoje, chegou a 1,8 milhão, e com a região metropolitana, a 3,5 milhões. Só este modelo de transporte não supre as necessidades. Temos que pensar em um modelo auxiliar.

Qual sua opinião sobre o projeto do metrô da prefeitura?

à‰ um bom modelo. Só que, em algumas regiões, ele substitui o ônibus. Isso não é inteligente. O metrô tem que ser auxiliar ao modelo. Mas acho que o metrô ainda vai demorar dez anos para ficar pronto, não é um projeto de curto e médio prazos. Quem fala isso está mentindo. Tanto é que a Linha Verde está há oito anos em obras. E é, em tese, muito mais simples de ser feita.

A obra da Linha Verde está demorando demais?

A Linha Verde foi um erro. Quando falo que as decisões dos últimos anos na cidade foram mais políticas do que técnicas, a Linha Verde é um caso. Esse projeto já existia desde o Cassio Taniguchi. Ele acabou não fazendo, estava em fim de gestão, e passou para o prefeito eleito, o Beto Richa. Com o anseio de terminar a obra no mesmo mandato, fizeram uma série de cortes. Ficou incompleto, malfeito. Deveria fazer ou uma reurbanização daquela BR, ou uma grande avenida para atender o fluxo da região norte para a região sul, e vice-versa. Não foi feita nem uma coisa nem outra.
Perdeu-se dinheiro. Agora estão fazendo remendos, trincheiras na região norte. Mas o próximo prefeito vai ter que fazer trincheiras na região sul.

O que precisa ser feito na área de saúde pública?

Investimento em médicos. Temos bons postos de saúde, do ponto de vista físico. O que falta é investimento no material humano. A prefeitura está se preocupando muito com a terceirização do serviço. Isso é bom em alguns setores, mas em outros não tem como fugir. Tem que ter servidores públicos de carreira, concursados e prestigiados.

Em sua gestão haveria concurso para médico?

Para médico e para a grande maioria dos setores. Hoje nós temos que fazer um caminho inverso, e desterceirizar! o serviço. Curitiba sempre teve um bom quadro de servidores, e hoje também se perdeu isso.

Quais são as áreas prioritárias de seu projeto de governo?

Segurança pública: a prefeitura tem que assumir a sua responsabilidade, ainda mais quando se é a sexta capital mais violenta do Brasil. O prefeito tem como, com mecanismos simples, verbas que existem, auxiliar a polícia, potencializar o trabalho com os guardas municipais. Em Saúde, queremos humanizar o serviço e fazer o resgate e a valorização do servidor público. Mobilidade urbana: buscar alternativas para melhorar o trânsito e o transporte de massa. Em Educação, temos que resolver a falta de creches, e não temos mais como fugir da educação em tempo integral. Os clubes sociais espalhados por Curitiba estão praticamente indo à  falência. Eles têm espaços maravilhosos para se fazer o contraturno da criançada. Podemos fazer uma parceria com os clubes.

Até que ponto os escândalos da Câmara Municipal afetam a gestão do município?

Todo o ambiente político, quando está conturbado, afeta o dia a dia da gestão. O prefeito tem que ter uma sinergia com a Câmara, uma relação respeitosa e, ao mesmo tempo, a Câmara tem que votar os projetos que são do interesse do município. Quando há um foco de escândalo, ainda mais quando atinge o líder maior da Câmara, como foi em Curitiba, isso faz com que todo o planejamento de projetos, de discussão, de debate da cidade saia do foco. Quem sai perdendo é o cidadão. Acho que o erro foi esse modelo que dá oportunidade de a mesma pessoa ficar no comando por tanto tempo. Eu tenho um projeto de lei na Câmara Federal que proíbe que haja reeleição nas câmaras municipais e nas assembleias legislativas.

O próximo prefeito vai ser o prefeito da Copa do Mundo. Como estão os preparativos, ao seu ver, em Curitiba?

Em termos de infraestrutura, acho que Curitiba, das capitais, é a que tem mais qualidade para atender os nossos turistas. Nós temos que melhorar o transporte do público. E nós temos a questão da área de serviços, em especial da hotelaria.
Curitiba já tem uma dificuldade grande de receber o turista. Em se tratando de obras, do estádio, tenho acompanhado o que está nos jornais, que hoje o nosso estádio em Curitiba é o mais atrasado.

Qual é seu argumento para rebater comentários de que sua candidatura não é para valer?

Quem fala que não é para valer é porque está preocupado com minha candidatura, então torce para que ela não vingue. à‰ natural, faz parte da política, essa rádiopeão funciona, e muitas vezes funciona bem. A gente tem que estar sempre rebatendo esse tipo de fala.

E aos que dizem que é muito jovem?

Na questão da idade, eu tenho 31 anos de idade, sou casado, tenho duas filhas, está vindo meu terceiro filho agora, estudei Administração na PUC, depois acabei me formando em Comunicação Social, me pósgraduei em Direito do Estado na Universidade Católica de Brasília, tenho dois cursos na Universidade de Madri. Conheci muito bem o mundo, os países desenvolvidos e os países pobres, como Egito, Peru e China. Busquei me preparar, com uma boa equipe, para poder enfrentar todos os desafios que eu me propus a enfrentar. Esse é mais um desafio que eu estou preparado para enfrentar.

E a experiência?

A experiência você constrói com uma boa equipe. O prefeito tem que ser um bom gestor de talentos, de equipes, e ser um líder que saiba se posicionar e tomar as melhores decisões para atender as demandas da cidade. A experiência na política tem que ser muito bem analisada, porque muitas vezes é sinônimo de safadeza, de ladroagem, de picaretagem. Você pega o José Sarney, o Jader Barbalho, o Luis Estevão, o Demóstenes Torres, todos esses são experientes com muitos mandatos nas costas, mas que lamentavelmente usam da sua experiência para benefício próprio. Hoje a política precisa muito mais de caráter, de honradez, transparência, comprometimento com os desafios, com aquilo que a população precisa do que qualquer tipo de experiência. A minha é a única candidatura que pode construir pontes de união entre os grandes homens públicos do Paraná e do Brasil, com o governador Beto Richa e com a presidente Dilma. Os demais candidatos são brigados um com o outro. Os pré-candidatos em Curitiba, a rigor, são da base do governo federal. à‰ o seguinte: o Ducci representa um projeto para o Beto Richa, em 2014. O Gustavo Fruet representa um projeto para a Gleisi Hoffmann, em 2014. E o Rafael Greca representa um projeto para o Requião, em 2014. O projeto de Curitiba deles é político, e não do futuro da cidade. Essa é a minha diferença. O meu é um projeto de cidade, não estou preocupado em quem será o governador em 2014. Eles querem usar a máquina da prefeitura, essa é a grande verdade, isso tem que ser colocado para a população. Esse é o nosso diferencial. E por isso incomoda tanto minha candidatura, porque eu não tenho apadrinhamento político. Não tenho governador dizendo o que eu vou fazer, não tenho ministro coordenando campanha. Minha campanha é construída com os amigos, e eu não vendi a minha consciência para construir a minha candidatura.

E você tem fôlego financeiro para enfrentá-los?

Eu levo uma desvantagem na questão financeira. Mas eu penso que tenho o que é necessário, que são bons partidos do meu lado nessa construção, uma consciência tranquila, bom tempo de televisão e um bom projeto para a cidade. Hoje, a população está muito mais antenada e muito menos suscetível à  variação de investimento financeiro de campanha. Está mais independente, com mais clareza do que é bom para ela e percebe a estrutura de campanha, de onde vem, de como vem, de como são utilizadas as máquinas. Eu não estou preocupado com isso.

Seu pai (o apresentador de TV Ratinho) vem fazer campanha?

Eu espero que sim. Ele é um bom cabo eleitoral. Acho que nós temos que fazer uma avaliação e que a participação dele tem que ser de pai. Ele pode, realmente, referendar de fato o filho que criou, a formação que ele me deu. O Ratinho como cabo eleitoral é bom, mas as pessoas vão cobrar isso. “Que filho você criou? Que filho você preparou para nos apresentar?”. E ele é um pai coruja.

Quais são os partidos que devem apoiar a sua candidatura?

Nós já temos o anúncio do PR, do PT do B, uma conversa boa com o PTN e com o PC do B. Já era para termos feito um ato, em 21 de maio, mas foi bem no dia em que a presidente Dilma foi para Porto Alegre, então a Manuela D’àvila não poderia vir. A Manuela é uma grande estrela do PC do B, que também representa essa nova safra da política do Brasil, para nós é importante ela estar presente, e ela faz questão de estar. Ela virá no dia 18 de junho.

O seu tempo na televisão, com os partidos que devem coligar, é suficiente para bancar a candidatura?

Vai dar sim. Se tivermos oito candidatos, que é o que estamos prevendo, vai dar 4 minutos e meio, mais ou menos.

O seu desempenho nas primeiras pesquisas que saíram surpreendeu?

Foi uma surpresa positiva, uma grande surpresa. Curitiba é uma cidade muito criteriosa, e sempre foi muito exigente em muitos sentidos, não só na política. Eu não venho de uma linhagem da política curitibana tradicional e isso faz com que nossos desafios sejam ainda maiores. E quando você aparece muito próximo, ou tecnicamente empatado, ao Gustavo Fruet, que foi o mais votado para senador, e que sempre foi colocado como candidato da elite pensante de Curitiba, isso é muito bom. Mostra que o eleitor de Curitiba não é mais influenciado por alguns poucos que se dizem donos da cidade, e que o nosso trabalho está sendo reconhecido. Se uma cidade como Curitiba nos coloca neste patamar, isso mostra que o nosso caminho está sendo bem trilhado e que a população nos vê como uma alternativa.

O que o senhor traz de mais significativo da sua experiência parlamentar?

Acho que é saber como funciona o Legislativo, fundamental para um gestor do cargo Executivo, que tem que estar antenado, afinado, ter uma boa convivência, saber conduzir o processo político na questão orçamentária. Esse movimento legislativo faz entender o jogo político de partidos. A presidente Dilma sofre um pouco por não ter passado pelo Legislativo, diferentemente do Lula, que passou. Isso lhe dá um jogo de cintura.

O que o senhor acha da concessão da Pedreira, da à“pera de Arame e do Parque Náutico em licitação pela prefeitura?

Eu sou favorável a que a prefeitura crie parcerias público-privadas em alguns setores. O erro é fazer isso neste momento, a poucos dias das convenções de um pleito eleitoral. São três patrimônios importantes da nossa cidade. Não foi debatido, não estava claro como é que seria feita essa parceria, a população foi pega de surpresa. Talvez lá na frente seja sadio fazer isso, depois da eleição. O Parque Barigui tem dado certo, você vê as obras acontecendo de maneira rápida. Agora, lá, você vê que são dois grupos fortes, comprometidos, que gostam da cidade, que têm uma raiz fincada aqui. O modelo deu certo. Tem que ver se nos outros vai dar, mas isso tem que ser pensado caso a caso, no momento certo.

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